“Vou ao encontro do fervor da fé pois estou cansado do cansaço da fé que a nossa Igreja atravessa”

O Pe Jason Gouveia, 34 anos, sacerdote da Diocese de Angra, vai para o Brasil no dia 7 de janeiro.

Este ano ficou conhecido como o primeiro padre cantor da diocese, depois de lançar o seu primeiro CD, Cristo Reina.

Integrará uma comunidade da Obra de Maria. Em entrevista ao Sítio Igreja Açores fala da coincidência que é a sua missão em ano de “Saída Missionária” proposta pelo prelado, dos desafios pessoais e comunitários, e de um “enorme desejo” de participar “na nova evangelização”, com “entusiasmo”, em comunidades “que conseguem partilhar tudo e ser igreja” na sua plenitude.

Na bagagem leva o Evangelho e uma enorme determinação :”o Espírito suscita-me um carisma próprio e preciso de coloca-lo em prática”.

Garante que leva um bilhete de “várias idas e voltas” e sublinha a necessidade de haver ”plena comunhão” na igreja dos Açores.

 

Sítio Igreja Açores- Vai para o Brasil em Janeiro colaborar com a Obra de Maria. O que é que vai fazer concretamente?

Pe Jason Gouveia- Vou iniciar um caminho que ainda não consigo ver o seu fim. Como Abrãao que saiu da sua terra e foi para a terra que Deus lhe indicou. Se se pode falar em “concretamente” vou com a possibilidade de viver uma experiência de igreja e de fé. Vou poder viver uma experiência de comunidade, de uma nova comunidade, em que jovens servem a Igreja num carisma concreto, mas com todos os estados de vida. Vou poder viver em igreja como os primeiros cristãos. Vou com a possibilidade de aprofundar a espiritualidade carismática, que abracei e quero desenvolver para que seja mais conhecida, mesmo dentro da Igreja. Vou aberto a TUDO o que Deus quiser de mim.

 

Sítio Igreja Açores-  Foi o Pe Jason que trouxe esta nova comunidade Obra de Maria para os Açores. Agora o Pe Jason para lá e vem para cá um sacerdote desta mesma comunidade. Estas novas comunidades religiosas, de que o Santo Padre tanto fala para a nova evangelização, que novidade acrescentam à igreja?

Pe Jason Gouveia- Tive a oportunidade de as conhecer e de as desejar. Quero muito que seja uma realidade para a nossa Igreja, mesmo na Europa. Vivemos só com um esquema único e geral – a Paróquia. Mas a Igreja, pela força do Espírito Santo, abre novas oportunidades e respostas para cada necessidade. As novas comunidades nunca irão substituir as paróquias, mas serão um outro modo de ser e pertencer à Igreja. Se não são congregações, não são paróquias, o que são? As novas comunidades são um jeito de ser Igreja, em qualquer estado da minha vida e conforme as minhas circunstâncias. São o desejo de viver como Jesus, em comunidade. Sabemos que nas paróquias nem todos vivem em comunidade. Há membros nas paróquias que a vêem como um supermercado, há outros que a vêem como recordações de memórias ou lugar de férias. Que impacto tem as paróquias na vida total dos cristãos?! Estamos acostumados em que tudo seja meu (a minha paróquia, o meu pároco, o meu movimento) mas doamo-nos às meias, não estamos totalmente na Igreja. Isso assusta-nos, mas também nos cativa. Isso é o que as novas comunidades podem acrescentar à Igreja, fazer cristãos totais!

 

Sítio Igreja Açores- São comunidades diferentes das congregações tradicionais. No mesmo espaço convivem leigos consagrados, sacerdotes, casais…pode falar-se numa mensagem nova, mais próxima dos tempos atuais?

Pe Jason Gouveia- Sim. Porque até agora, os modos tradicionais de consagração e de pertença à igreja têm alguns impedimentos que podem desencantar as pessoas em avançar numa doação a Deus. Ora é a idade, o sexo ou o estado de vida. Até pode haver o desejo, mas a vida não permite. Temos também outros sonhos, a realização profissional e social. Esses impedimentos nas novas comunidades são eliminados. Todos, homens ou mulheres, solteiros, célibes ou casados, padres e leigos, os disponíveis de compromissos e os ocupados com disponibilidade, todos podem viver a mesma consagração e missão na unidade de um só carisma.

 

Sítio Igreja Açores- Conhece o trabalho deles cá e lá… no entanto é diferente viver com eles e ser mais um deles….Que expetativas é que tem em relação a este novo serviço?

Pe Jason Gouveia- Eu não vou ser mais um. Seria mentiroso e seria muito fácil acrescentar-me a um carisma. Quero conhecer alguns carismas, não só o da Obra de Maria e da Canção Nova, pois no Brasil são cerca de 400 novas comunidades. O Espírito suscita-me um carisma próprio e preciso de coloca-lo em prática. Serei mais um, com ou sem comunidade, a somar aos carismas para toda a Igreja.

 

Sítio Igreja Açores- O Papa e o Prelado Diocesano convocam-nos a todos e, em particular ao clero, para terem uma atitude missionária, para irem ao encontro, sobretudo das periferias….ao encontro do quê e de quem é que vai nesta missão?

Pe Jason Gouveia- É muito interessante em pleno ano de saída missionária, eu saio em missão. Para um país que à primeira vista não precisa de mim. É verdade que o Brasil tem muitos portugueses, mas não vou concretamente trabalhar com as comunidades portuguesas, claro que estou disponível e quero estar com elas. Vou ao encontro de um diamante, pois, essa pedra preciosa nós fomos levá-la, ao propagar a fé, mas entretanto eles transformaram-no num diamante, enquanto ainda temos a pedra preciosa e não sabemos transformá-la. Vou ao encontro de uma Igreja pobre, mas viva. Vou ao encontro do fervor da fé pois estou cansado do cansaço da fé que a nossa Igreja atravessa.

 

Sítio Igreja Açores- A igreja vive hoje desafios enormes, num tempo marcado pela comunicação. O Pe Jason comunica através da palavra e da música. Como é que vai conciliar estes dois serviços?

Pe Jason Gouveia- Como disse estou aberto à ação de Deus. Mas como licenciado em comunicação social desejo comunicar pelos meios, e a Igreja do Brasil apresenta várias oportunidades. São várias as redes de comunicação que a Igreja Brasileira possuí, mas claro que dentro de todo este contexto é evidente, pois é uma nova comunidade, é claro que a Canção Nova me cativa muito. Mas claro que existem outros “micros”. Amo pregar e anunciar a Palavra e o Brasil apresenta uma quantidade de eventos que me podem proporcionar este exercício, são vários os retiros, congressos, acampamentos e formações com os quais poderei colaborar. Por fim, não menos importante, mas a prioritária será a música. A música católica no Brasil é enorme porque há o hábito de evangelizar e rezar com a música. Quero colocar esse dom a render, mas não quero ser mais um, nem o Pe. Fábio ou o Pe. Marcelo português. Quero ser o Pe. Jason que evangeliza os jovens e põe essa Igreja a mexer com alegria.

 

Sítio Igreja Açores- Sai da diocese num momento em que ela própria procura uma conversão pastoral proposta pelo Senhor Bispo. Como é que vê os desafios da diocese de Angra?

Pe Jason Gouveia- Após esse desejo de conversão provocado pelo Papa Francisco são vários desafios que são colocados à nossa Diocese. Um clero unido, um laicado consciente e uma Nova Evangelização concretizada. Por vezes somos rivais em vez de cúmplices da mesma batalha. A diocese tem todas as condições e todas as potencialidades para evangelizar com sucesso. Mas os mexericos, as invejas, os conflitos são piores do que o mar que nos separam. Cada paróquia parece ser uma ilha. Nós não choramos juntos, não sonhamos juntos, será que nos queremos converter juntos? A diocese tem dos melhores padres e leigos que conheço, mas não têm entusiasmo e parece que cada um faz para si ou para os seus. A nova evangelização não é nossa, são coisas do padre “x” ou do movimento “y”.

 

Sítio Igreja Açores- Julgo que vai com bilhete de ida e volta.  O que espera acrescentar não só ao seu serviço mas à Diocese de Angra depois desta missão?

Pe Jason Gouveia- Sim vou com várias idas e voltas. Não sei se eu pessoalmente ou “os meus filhos” trarão muitos frutos para a Diocese. Sim, filhos, foi acerca da paternidade espiritual que o próprio Papa me aconselhou a quando da receção da carta para informar a receção do meu CD. O conselho era que chegou a maturidade do meu ministério, estes 10 anos lindos foram de construção, agora chegou a hora de ser pai, o de dar a vida. Não ter filhos espirituais é ficar no meio do caminho. Acrescentou o Papa que a bola está do meu lado e que eu “chutasse” na bola. Eu vou chutar, agora se vou marcar golo, não sei.

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