A família é uma “oportunidade e nunca um problema”, diz responsável pelo Serviço Diocesano

Cónego José Medeiros Constância participa, juntamente com mais um sacerdote e três casais ligados à pastoral familiar em jornada nacional

O Papa Francisco deu o mote com a exortação apostólica pós sinodal A Alegria do Amor e a igreja católica defende agora um investimento ainda maior na família, com “novos métodos de trabalho” e “novas linguagens”.

O diretor do Serviço Diocesano da Pastoral da Família e Laicado, que está em Fátima a participar na 27ª jornada nacional da pastoral da família, juntamente com mais três casais e outro presbítero (responsável diocesano pelo Curso de Preparação para o Matrimónio) afirma que “há um tempo antes desta exortação e outro depois”.

“Estamos numa realidade nova que nos exige novas linguagens e novas abordagens aos problemas” disse o Cónego José de Medeiros Constância ao Sítio Igreja Açores.

“É como se houvesse dois tempos: um antes da exortação e outro depois e o grande desafio que a igreja tem pela frente, em particular a igreja diocesana, é encarar este novo tempo como uma grande oportunidade” frisou o sacerdote para quem a “família nunca é um problema mas sim uma oportunidade”.

A 27ª jornada nacional da Pastoral familiar, que decorre nas instalações dos missionários do Verbo Divino, em Fátima, está muito centrada na exortação pós sinodal do Papa e este sábado o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, depois de escalpelizar o documento, capítulo a capítulo, deixou um repto aos presentes para que sejam capazes através do testemunho ter atitudes de acolhimento.

“Esta exortação impele-nos a uma atitude evangélica e feliz que nos desafia a ultrapassar o negativismo e os males da sociedade e da família”, acrescenta o Cónego José Medeiros Constância.

“Através dela é-nos proposto um caminho que deve fazer refletir todos os agentes de pastoral, sobretudo as famílias que devem ser muito implicadas neste trabalho”, refere o sacerdote.

“Nós padres, religiosos e religiosas podemos acompanhar mas se não for a família a definir o que é prioritário para si, para a relação entre pais e filhos, não conseguiremos sair do mesmo lugar”, acrescenta ainda o presbítero que há cinco anos lidera a pastoral familiar na diocese de Angra.

“Demorará tempo mas consegue-se” garante o Cónego José de Medeiros Constância.

“Na nossa diocese o primeiro passo foi dado em termos de organização territorial. Termos casais comprometidos na paróquia, na ouvidoria, na diocese e nos movimentos é meio caminho andado para os implicarmos e é assim que se faz pastoral familiar colocando a família a ser construtora e nunca apenas recetora daquilo que nós definimos”.

Por outro lado, o responsável pelo Curso de Preparação para o Matrimónio (CPM), pe Vitor Medeiros, afirma que os pastores são chamados a uma tarefa muito importante: “ajudar a sensibilização, a construir pontes e a fazer diferente”.

O sacerdote, que trabalha com uma equipa de jovens a nível da preparação para o matrimónio, sublinha a virtude dos casais jovens “através do seu testemunho serem os principais animadores de outros jovens e futuros casais”.

“Não podemos atrair todos mas devemos trabalhar no sentido de que aqueles que ficam na igreja estejam animados para motivarem os outros”.

“Um casal feliz e contente é o melhor testemunho e vale mais do que mil preleções”, disse ainda o sacerdote que considera que o tempo que vivemos é muito “desafiador para a família porque exige  novas  linguagens e dita novas oportunidades”.

Questionado pelo Sítio Igreja Açores sobre a intermitência com que os jovens procuram a igreja, o sacerdote é peremptório: “a fé não desaparece; pode esmorecer, pode adormecer mas a semente está lá e por isso de cada vez que nos procuram nem que seja só para fazer festa, temos de aproveitar essa oportunidade para os cativar e isso exige, naturalmente, um esforço muito grande de todos, a começar por nós pastores”.

Os três casais que acompanham os dois sacerdotes nestas jornadas sublinham a importância dos movimentos da família na afirmação da igreja e lembram que “famílias felizes tornam sociedades felizes”.

“Se a família estiver bem, tudo o que está à sua volta também está bem” refere Ana Cabral do Secretariado Diocesano das Equipas de Nossa Senhora.

“O segredo está na humildade de sabermos acolher, sobretudo a diferença” refere, por seu lado, o marido, Mário Jorge Cabral.

Rita Braga, do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar e dirigente do COM a nível de São Miguel recorda que a partilha é um dos caminhos “mais importantes” pois “aprendemos muito”.

“NO CPM é preciso acompanhar os casais na fase de preparação mas depois não os deixar à deriva”, adiantou ainda destacando uma iniciativa que é desenvolvida ao nível da sua paróquia- Matriz de Vila Franca- onde os jovens casais que frequentam os COM dois anos depois são convidados a encontrarem-se e a discutir o percurso que fizeram até aquele momento.

“O que é importante é sabermos ouvir e partilhar” refere também Rogério Martins, responsável diocesano do CPM.

“A igreja oferece uma matriz orientadora da família mas hoje temos de saber acolher sem prescindir dos nossos valores mas aceitando a diferença”, referiu ainda a mulher, Catarina Miranda.

A 27ª jornada nacional da Pastoral Familiar conta com a presença de praticamente todas as dioceses.

O presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, em entrevista à Agência ECCLESIA, destaca a necessidade de “reforçar os secretariados diocesanos” como sinal de “uma atenção maior” às pessoas e aos seus problemas, sociais, económicos e espirituais.

“Se cada diocese não assume esta pastoral como linha de força, toda a outra pastoral também falhará”, frisa o prelado.

Organizada pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar, a edição deste ano das jornadas tem como tema “A alegria do Amor e os desafios à Pastoral Familiar”.

A iniciativa tem como pano de fundo precisamente a exortação apostólica “A Alegria do Amor”, publicada pelo Papa Francisco na sequência do último Sínodo dos Bispos dedicado à Família.

Um documento que, segundo D. Antonino Dias, “é para ler, para reler, para aprofundar cada parágrafo”, no sentido da Igreja Católica poder de facto caminhar mais próxima das famílias e congregar também as famílias cristãs para a missão de apoiar, acalentar e defender aquela que é uma célula fundamental de sociedade

“E isto implica aprofundar tudo aquilo que são os fundamentos, a nossa proposta de família cristã, e procurar que a partir daí todos caminhemos com alegria, com esperança”, realça o também bispo de Portalegre-Castelo Branco.

O prelado recorda que a família é “o berço do crescimento integral” de cada pessoa, onde cada um deve encontrar “harmonia, paz e refúgio“.

“Sem família não há comunidade verdadeira, desperta para os valores. Ela é o primeiro espaço educativo para o diálogo, para o acolhimento, para a participação, o primeiro espaço de evangelização. Costuma dizer-se que quando a família está doente, a sociedade está doente”, conclui.

De acordo com o programa da jornada, a inauguração dos trabalhos no dia 22 de outubro coube a D. António Marto.

O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, e bispo de Leiria-Fátima, partilhou a sua leitura acerca da exortação apostólica “A Alegria do Amor”, do Papa Francisco.

Depois, foi a vez do sacerdote jesuíta Carlos Carneiro abordar o tema “Preparar o matrimónio e acompanhar os casais noivos”.

No domingo, dia 23 de outubro, estará em destaque uma intervenção do cónego Arnaldo de Pinho, subordinada ao tema “Acompanhar, discernir e integrar as situações ‘irregulares’: a liberdade e a responsabilidade do bispo diocesano”.

Também um momento de partilha de testemunhos, com um casal em situação irregular e um pároco que abordará as suas dificuldades nesta área pastoral.

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