Açores são a terceira região do país com maior número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção

Região fica apenas atrás do Porto e de Lisboa. Responsável pela pastoral social diz que são dados “que não causam estranheza” mas exigem “respostas criativas” de todos os agentes sociais

Em vésperas da abertura de um novo ano pastoral, que tem como prioridade a ação sócio-caritativa da igreja dada a complexidade dos problemas que enfrentam muitas famílias açorianas, dados do Instituto da Segurança Social dão conta de que os Açores são, atrás de Lisboa e do Porto, a região do país com maior número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI)

O RSI abrangeu 217.862 beneficiários em agosto, em todo o país, mais 2.351 do que no mês anterior (1,1%), dos quais 18.466 residem no arquipélago, que estão distribuídos por 6.257 famílias.

Para o diretor do Serviço Diocesano da Pastoral Social são números que “não causam estranheza” na medida em que “há uma consciência coletiva de que os Açores são uma sociedade fragilizada ao nível do rendimento disponível das famílias”.

“Os açorianos mesmo trabalhando todos os dias continuam a ser pobres” frisa o Pe Duarte Melo em declarações ao Sítio Igreja Açores e “é bom que exista este complemento que de alguma forma alivia o sufoco de muitas famílias com baixos rendimentos; de outra forma a pobreza ainda seria maior”.

Para o sacerdote, que é também o responsável da Kairos, o primeiro projecto de economia social nos Açores, este número, agora divulgado, apenas vem sublinhar a “importância e a relevância da opção da igreja em destacar a intervenção social como uma prioridade”.

“Há muito que temos a consciência, porque estamos próximos e no terreno, de que a situação nos Açores não é boa; com este bispo tivemos a coragem de elevar esta prioridade a um nível diocesano o que exigirá de nós uma atenção redobrada e sobretudo uma capacidade de trabalharmos em rede, ainda maior” adianta o Pe Duarte Melo.

“Este é um bom combate que revela uma consciência transversal da igreja que se desassossegou com este problema”, precisa alertando para a necessidade de “todos tomarem a consciência de que há muito trabalho a fazer e estas questões não podem ser resolvidas só com subsídios”.

“O problema da pobreza é estrutural e mesmo com a criação de novos empregos há persistentemente um número grande de pessoas que continua a ser pobre, sobretudo famílias onde o agregado familiar é grande”, refere

O responsável diocesano pela pastoral social lembra, a este propósito, que o inquérito que ontem foi enviado para todos os sacerdotes, para a realização de um diagnóstico sobre estruturas , recursos humanos e financeiros e ações concretas da pastoral social ao nível das paróquias, “só por si já significará um olhar diferente para a ação social da igreja”.

Um olhar que o sacerdote lembra  “tem que ser feito em conjunto”.

“Não vale a pena pensarmos que podemos fazer as coisas sozinhos. Com a autonomia própria igreja, poder político e sociedade civil têm de trabalhar juntos e sentarem-se à mesma mesa, respeitando o trabalho e o campo de intervenção de cada um, e agir em prol dos mais frágeis” conclui lembrando que este é “o verdadeiro significado de uma igreja em saída”, tal como propõe o Papa Francisco.

Este indicador do RSI vem agora juntar-se a outros que levaram a diocese a eleger como prioridade a pastoral social.

“A partir da realidade social preocupante e à luz dos dinamismos do Ano Santo da Misericórdia, o Conselho aprovou por unanimidade a Pastoral Social como prioridade para o próximo ano” anunciava a igreja açoriana no final do Conselho Pastoral Diocesano, que se realizou em junho, em Ponta Delgada.

“A Igreja Diocesana, à luz da Doutrina Social da Igreja, reafirma o seu compromisso de denúncia profética, de acompanhamento e de cooperação na busca de resposta para as situações socialmente emergentes, sem perder de vista a promoção de medidas concretas que contribuam para a alteração das estruturas injustas”, justifica o comunicado.

De resto, a igreja diocesana retomou os seus trabalhos com uma formação do clero sobre a realidade social no arquipélago na passada semana, tendo convidado para o efeito dois leigos que apresentaram um diagnóstico da situação social e caminhos alternativos centrados naquela que pode ser a ação da igreja nos próximos tempos.

Ainda a propósito do rendimento Social de Inserção importa lembrar que o valor da prestação média de RSI chegou aos 112,79 euros em agosto, registando uma ligeira descida (0,3%) face a julho (113,09 euros).

Em relação a agosto de 2015, mês em que o valor médio desta prestação social foi 93,36 euros, registou-se uma subida de 20,8%, indicam os dados publicados no site do ISS.

Segundo a síntese de informação estatística da Segurança Social, 42% dos beneficiários desta prestação social tinham, em agosto, 24 ou menos anos, 34% tinham idades entre os 25 e os 49 anos e 24% tinham 50 ou mais anos.

Em agosto, a prestação média do Rendimento Social de Inserção por família foi de 255,02 euros, o que representou uma descida de 0,2% em relação ao mês anterior e um acréscimo de 18,8% relativamente ao mesmo período do ano passado.

A Segurança Social explica que “as alterações nas regras de atribuição do RSI, efetuadas no início de 2016, permitiram que mais indivíduos e famílias fossem elegíveis para recebimento deste apoio”.

(Com Lusa)

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