Bento XVI diz que obediência ao seu sucessor é indiscutível

Entrevista ao Papa emérito aborda relação com Francisco e explica decisão de renunciar

O Papa emérito Bento XVI afirma numa entrevista divulgada hoje na Itália que “nunca esteve em causa” a sua obediência a Francisco, ao qual agradece pela “benevolência” com que o tem tratado.

“A obediência ao meu sucessor nunca esteve em causa. Depois há o sentimento de comunhão fraterna e de amizade”, refere, numa entrevista publicada pelo jornal italiano ‘La Republica’.

Bento XVI conversa com Elio Guerriero, curador da edição em italiano das suas obras completas, numa entrevista que vai integrar a nova biografia do Papa emérito, ‘Servidor de Deus e da humanidade’ (Mondadori), com chegada prevista às bancas para 30 de agosto.

A obra é prefaciada pelo Papa Francisco e, no texto de homenagem ao seu predecessor, diz que a Igreja Católica tem uma “grande dívida” para com Bento XVI.

“Todos na Igreja temos uma grande dívida de gratidão para com Joseph Ratzinger-Bento XVI pela profundidade e o equilíbrio do seu pensamento teológico, vivido sempre ao serviço da Igreja, até às responsabilidades mais elevadas”, escreve, no prefácio da nova biografia do agora Papa emérito, ‘Servidor de Deus e da humanidade’.

O livro, assinado por Elio Guerriero, tem a chancela da editora Mondadori e vai chegar às bancas a 30 de agosto, incluindo uma entrevista a Bento XVI.

Francisco aceitou prefaciar a obra, elogiando a “coragem e determinação” com que o seu antecessor enfrentou “situações difíceis”, colocando a Igreja num caminho de “renovação e purificação”.

“O contributo da sua fé e da sua cultura para um magistério da Igreja capaz de responder às expectativas do nosso tempo, sobretudo no decorrer das últimas três décadas, foi fundamental”, sustenta o Papa.

O prefácio foi divulgado hoje, na íntegra, pelo jornal ‘Avvenire’, da Conferência Episcopal Italiana.

Francisco fala numa “ligação espiritual” que considera “particularmente profunda” com Bento XVI e agradece a presença “discreta” e a oração do Papa emérito pela Igreja.

Além da nova biografia, vai ser publicada em setembro outra obra dedicada a Bento XVI, intitulada ‘Last Testament: In His Own Word’ (Último Testamento: nas suas próprias palavras), em que o Papa emérito percorre vários temas do seu pontificado, em colaboração com o jornalista alemão Peter Seewald.

Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013 e está a manter desde então uma vida de recolhimento, no Vaticano, surgindo esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.

O pontífice emérito considera que a eleição de um cardeal sul-americano como seu sucessor representou um convite a uma “comunhão mais extensa, mais católica”.

“Pessoalmente, fiquei profundamente sensibilizado desde o primeiro momento pela extraordinária disponibilidade humana do Papa Francisco em relação à minha pessoa. Logo depois da sua eleição procurou contactar-me telefonicamente”, revela.

Desde então, explica Bento XVI, existe uma relação “maravilhosamente paterna-fraterna”, que inclui breves cartas e visitas de Francisco.

“Aquilo que [Francisco] diz em relação à disponibilidade para com as outras pessoas não são só palavras: coloca-o em prática comigo”, assinala.

A nova biografia explica, ainda,  que a decisão de renunciar ao pontificado foi tomada por Bento XVI após a viagem ao México e Cuba (23 a 29 de março de 2012), na qual o agora Papa emérito disse ter experimentado “os limites” da sua resistência física.

Em perspetiva estava uma visita ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, que Bento XVI considerava não ser capaz de realizar.

“Naturalmente, falei destes problemas com o meu médico, Dr. Patrizio Polisca, e ficava clarão que não estaria em condições de tomar parte na Jornada Mundial da Juventude”, relata.

Para Bento XVI, a presença de um Papa na JMJ é obrigatória, pelo que acabou por “decidir num tempo relativamente breve” a data da sua resignação [28 de fevereiro de 2013].

O Papa emérito rejeita a ideia de ter sido um homem só e sublinha que o apoio recebido se manteve após a renúncia.

“Posso apenas estar grato ao Senhor e a todos os que me exprimiram e ainda me manifestam o seu afeto”, afirma.

Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013 e está a manter desde então uma vida de recolhimento, no Vaticano, surgindo esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.

Joseph Ratzinger nasceu em Marktl am Inn (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria.

Juntamente com o seu irmão Georg, foi ordenado padre a 29 de junho de 1951; dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese ‘Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como ‘perito’, após ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Frisinga; a 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal ‘Colaborador da verdade’.

O mesmo Paulo VI criou-o cardeal, no consistório de 27 de junho de 1977.

João Paulo II nomeou o cardeal Joseph Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981.

No dia 19 de abril de 2005 foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II; a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciou a renúncia ao pontificado, com efeitos a partir do dia 28 do mesmo mês, uma decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja Católica.

Durante o pontificado encerrou a sua trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ com um livro sobre a infância de Cristo e assinou um artigo sobre o Natal no jornal económico ‘Financial Times’; em 2010 foi lançado o livro-entrevista ‘Luz do Mundo’, de 2010, resultante de uma conversa com o jornalista alemão Peter Seewald.

(Com Ecclesia)

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