Bispo de Angra diz que abstenção “enfraquece” a democracia e deve-se sobretudo ao desfasamento entre a realidade das pessoas e as propostas políticas

D.João Lavrador votou pela primeira vez numa eleição regional

O bispo de Angra lamentou esta terça feira a abstenção “demasiado elevada” registada no ato eleitoral do passado domingo nos Açores e apesar de se dever “a vários factores”  que devem ser ponderados por todos, pode “contagiar a democracia e enfraquece a participação cívica dos cidadãos”.

Instado a comentar os quase 60% de abstenção nas eleições para a Assembleia Legislativa dos Açores, D. João Lavrador aponta várias causas para este fenómeno, a começar pela “democracia consolidada”.

“Num processo de mais de quarenta anos de democracia, as pessoas sentem-se dispensadas de concorrer para os actos que elegem os seus representantes” refere o prelado diocesano que votou pela primeira vez num ato eleitoral regional.

Na análise que faz às causas desta elevada abstenção, o bispo de Angra sublinha a desadequação entre aquilo que é discutido na campanha eleitoral e os reais problemas que as pessoas enfrentam, “o afastamento dos políticos em relação aos seus eleitores” ou “a forma como os intervenientes políticos fazem as suas campanhas eleitorais”.

“A falta de novidade, as exíguas ideias para os problemas culturais, económicos e sociais e os ataques pessoais acabam por desmobilizar as pessoas” adianta o responsável acrescentando “que o facto de os programas eleitorais não serem respeitados na gestão governativa leva  (também) os cidadãos a sentirem desconfiança sobre a verdade do que é prometido”. Por isso, frisa, “importa implementar uma ação governativa de verdade, com limpidez e acessível à compreensão das pessoas”, para além das questões técnicas que se prendem com o facto dos cadernos eleitorais não refletirem a realidade dos eleitores.

“Apesar de já termos a experiência democrática de mais de quarenta anos, na realidade falta uma verdadeira formação e educação para a participação” reconhece o prelado ao mesmo tempo que lembra que “em todas as comunidades paroquiais os respectivos párocos alertaram, mais uma vez, para o cumprimento deste dever e deste direito”.

“Isto faz-se nas famílias, nas escolas, nas associações, nas igrejas e nas áreas de intervenção politica”, precisa sublinhando que se trata de “um trabalho contínuo e não pode ficar tão só para o tempo pré-eleitoral”.

“A cidadania é tarefa de todos os cidadãos e terá de mobilizar a todos e cada um para a sua participação no bem comum”, conclui o prelado em declarações ao Sítio Igreja Açores.

No último domingo os eleitores açorianos foram chamados a escolher a nova composição do parlamento regional. De entre os 57 deputados 30 são do PS, 19 do PSD, 4 do CDS, 2 do BE e as representações parlamentares de um deputado para o PPM e outro para a CDU.

Em termos percentuais, o PS obteve 46,4% dos votos, mas com um resultado pior do que há quatro anos. O PSD obteve 30,8%, um dos piores resultados de sempre, na história do partido. O CDS alcançou 7,1%, BE 3,6%, CDU 2,6%, PPM 0,9%.

A abstenção atingiu 59,16%, um recorde absoluto nestes sufrágios, superando os 53,34% de abstenção em 2008, que era até agora o valor mais elevado.

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