Quantas maneiras existem de perguntar “Porquê?”

Por Carmo Rodeia

O inverno tarda a deixar estas terras da Cova da Iria. Quem pensa que a chuva e o nevoeiro são um exclusivo dos Açores bem pode desiludir-se.

Um anticiclone é geralmente sinónimo de bom tempo: céu limpo, calor ameno, nada de chuva. Desta vez, o anticiclone dos Açores parece que deixou de estar sobre os Açores e afastou-se para mais ao largo,  no Atlântico. A mudança causou, como causa quase sempre, alterações meteorológicas, como as que vivemos por estes dias.

Falar do tempo é sempre um bom começo de conversa quando não se tem assunto. Mesmo que a abordagem seja metafórica.

O clima está a mudar, tal como a vida. Mudar não significa necessariamente tornar-se outro mas fazer uma outra experiência de nós mesmos e dos outros, para além da aparência. Como se houvesse uma sede de verdade e de sentido.

É comum ouvir-se dizer, sobretudo neste tempo de crise que o mundo atravessa, que para além dos problemas evidentes vivemos um momento de oportunidade e que desperdiça-lo é virar as costas ao futuro.

Não sei de que futuro se fala mas a ideia parece-me sugestiva. Desde pequena que tenho o porquê na ponta da língua. Nunca me conformei com “um sim porque sim” e mesmo sabendo que há muitas maneiras de perceber os porquês e de os perguntar, inclusivé através do silêncio,  a verdade é que o porquê, esse sim, traz sempre uma oportunidade.

Quanto mais conscientes das nossas dificuldades, limites e contradições, mas também das nossas forças e capacidades, tanto mais podemos investir criativamente no sentido do nosso ser e da nossa identidade. Mesmo que isso nos provoque sofrimento e nos atordoe, nos desinstale e nos retire da zona de conforto.

Nós cristãos temos sempre um desígnio nesta vida: a santidade. Não para irmos para o altar mas para sermos testemunhas coerentes do que Jesus nos pede. E o caminho da santidade até é simples. Ainda hoje, esta terça feira, o Papa Francisco o explicitou: “o caminho da santidade é simples, nada de voltar atrás, mas avançar sempre”, disse.

Francisco precisou que este é um compromisso que exige coragem e simplicidade, porque a santidade “não se compra” nem se conquista com as “forças humanas”.

“Não, ‘a santidade simples, de todos os cristãos’, ‘a nossa, a de todos os dias’, é um caminho que pode ser percorrido apenas se for sustentado por quatro elementos imprescindíveis: coragem, esperança, graça, conversão”, precisou.

Eu ouso acrescentar o Amor. De manhã reli a Primeira Carta aos Coriíntios, numa busca de inspiração e de recentramento naquilo que é essencial, ciente de que “Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento- (e não precise de  perguntar porquê)-  e tenha uma fé capaz de mover montanhas,  se não tiver amor, nada serei”.

A  verdadeira força do cristão é a força da verdade e do amor. Como diz o Papa Francisco, a fé e a fortaleza caminham juntas. Mas, nessa caminhada, há compromissos: renunciar ao mal, ao egoísmo e escolher o bem, a verdade, a justiça. Mesmo que aos olhos dos outros pareça mal.

Se eu sei que é assim,  não há razão para que o tempo continue cinzento. Porquê? Porque sim…

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