Francisco critica divisões na Igreja e pede que se supere “tentação da polarização”

“Quantas vezes, depois do Concílio, os cristãos se empenharam por escolher uma parte na Igreja, sem se dar conta de dilacerar o coração da sua mãe! Quantas vezes se preferiu ser adeptos do próprio grupo em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e irmãs, ser de direita ou de esquerda mais do que ser de Jesus”, disse, na homilia da Missa a que presidiu, na Basílica de São Pedro.

Francisco falou da “cizânia da divisão” e da “tentação da polarização”, nas comunidades católicas, pedindo que todos se reconheçam como “filhos” da mesma Igreja, em vez de “guardiões da verdade” ou “solistas da novidade”.

“Superemos as polarizações e guardemos a comunhão, tornemo-nos cada vez mais um só, como Jesus implorou antes de dar a vida por nós. Que nisto nos ajude Maria, Mãe da Igreja: amente em nós o anseio pela unidade, o desejo de nos empenharmos pela plena comunhão entre todos os crentes em Cristo”.

O Papa quis sublinhar a importância de continuar a olhar para o Vaticano II como uma referência, na Igreja.

“Como é atual o Concílio! Ajuda-nos a rejeitar a tentação de nos fecharmos nos recintos das nossas comodidades e convicções, para imitar o estilo de Deus”, precisou.

Francisco retomou os seus apelos em favor de uma Igreja em saída, capaz de “superar a tentação da autorreferencialidade”.

“Nem o progressismo que segue o mundo, nem o tradicionalismo que lamenta um mundo passado são provas de infidelidade, não de amor. São egoísmos pelagianos, que antepõem os próprios gostos e planos ao amor que agrada a Deus, ou seja, o amor simples, humilde e fiel que Jesus pediu a Pedro”, advertiu.

O Papa defendeu uma Igreja “livre e libertadora”, para todos, assumindo-se especialmente como “uma Igreja dos pobres”.

Francisco, que se manteve numa cadeira junto ao altar, devido às dificuldades em movimentar-se, concluiu a sua intervenção com uma oração.

“Nós te damos graças, Senhor, pelo dom do Concílio. Tu que nos amas, livra-nos da presunção da autossuficiência e do espírito da crítica mundana. Livra-nos da autoexclusão da unidade. Tu, que nos apascentas com ternura, faz-nos sair dos recintos da autorreferencialidade. Tu que nos queres rebanho unido, livra-nos do artifício diabólico das polarizações, dos ‘ismos’. E nós, tua Igreja, com Pedro e como Pedro, te dizemos: ‘Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que nos te amamos’”.

A celebração, presidida pelo Papa Francisco, foi antecedida pela leitura de trechos do discurso de São João XXIII no início do Concílio, a 11 de outubro de 1962, bem como das quatro Constituições conciliares: Dei Verbum, Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Gaudium et Spes.

Após este momento, um grupo de bispos e sacerdotes entrou na Basílica em procissão solene, para comemorar a procissão dos bispos que abriu o Concílio, há 60 anos.

O corpo de São João XXIII, Papa e profeta que convocou o Concílio, esteve exposto para veneração, junto ao Altar da Confissão, durante a Missa da sua memória litúrgica.

(Com Ecclesia)

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