«Não amemos com palavras, mas com obras»

Por Carmo Rodeia

“O amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres.”

Esta é uma das afirmações centrais da mensagem do Papa Francisco para o I Dia Mundial dos Pobres, por ele instituído na carta Misericordia et misera, com que assinalou o final do ano da misericórdia, em Novembro de 2016.

No documento, o Papa insiste no “escândalo” da pobreza; pede uma “nova visão da vida e da sociedade”;  diz que os pobres “não são um problema” mas antes um recurso para “acolher e viver a essência do Evangelho”; aponta sugestões concretas para viver o Dia Mundial e apresenta o Pai Nosso como uma oração que implica “partilha, comparticipação e responsabilidade comum”.

O tema não é novo para o Papa Francisco. Desde a Alegria do Evangelho que conhecemos a agenda deste Papa, centrada na Doutrina Social da Igreja como programa de intervenção para por em prática o Evangelho, que nos desafia a olhar o próximo, sobretudo o excluído e o pobre, como sinal concreto de fraternidade.

“Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão”, escreve o Papa na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado a 19 de novembro. E acrescenta: aos problemas colocados pela pobreza e pela existência de pobres “é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade”.

“Causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda, resignado”, escreve o Papa.

O fenómeno da pobreza, acrescenta, “interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos vincados pelo sofrimento, a marginalização, a opressão, a violência, as torturas e a prisão, pela guerra, a privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e o analfabetismo, pela emergência sanitária e a falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e a escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada”.

A pobreza tem “o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!”

Para dar um “contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização”. Lembrando as primeiras comunidades cristãs Francisco diz que o serviço aos pobres constitui “um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo”.

A pobreza, define o Papa na mensagem, “é uma atitude do coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir livremente as responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo apoiados pela sua graça. Assim entendida, a pobreza é a medida que permite avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os afectos”.

Tudo o que se disser a mais que isto… é supérfluo.

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