O medo não pode impedir os cristãos de trabalhar pela Paz, diz representante do papa em Portugal

Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, presidiu esta manhã à Missa de Domingo de Ramos no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada, onde inicia a Semana Santa que passará na diocese de Angra

O diplomata que representa o Santo Padre em Lisboa presidiu esta manhã à Missa de Domingo de Ramos no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, onde iniciou um périplo que o irá conduzir durante a Semana Santa a três ilhas da diocese de Angra, que se encontra em sede vacante, a onde presidirá às celebrações mais importantes do Tríduo Pascal.

D. Ivo Scapolo desafiou os cristãos a não terem medo de professar a sua fé, e consequentemente, devolverem com “solidariedade, empatia e ajuda todos os que sofrem como Jesus sofreu”.

A partir da liturgia proclamada em todas as Igrejas neste Domingo, que assinala o inicio da Semana Santa e consequentemente os últimos dias da vida de Jesus através da Sua paixão, morte e ressurreição, o Núncio Apostólico sublinhou que o medo “torna-nos cúmplices do mal e da injustiça”, tal como aconteceu no tempo de Jesus, como exemplifica o discípulo Pedro que O nega três vezes ou todos aqueles que acreditavam Nele e nada fizeram para impedir a Sua aniquilação.

“Vemos algumas semelhanças em tantas histórias humanas: homens paralisados pelo medo que se tornam cúmplices do mal e da injustiça” afirmou D. Ivo Scapolo, acrescentando: “O que aconteceu nos últimos dias da vida de Jesus obriga-nos a refletir sobre a nossa vida e todas as vezes que não reagimos por causa do medo que nos paralisa, das represálias que podemos sofrer ou das dificuldades que podemos sentir. Acabamos por trocar vantagens momentâneas e fáceis em detrimento de valores fundamentais como a vida, a justiça, a verdade e a liberdade”.

“Como inúmeros mártires fizeram no decurso da história da Igreja,  também nós devemos rejeitar esta troca totalmente desfavorável e inaceitável para um cristão. Devemos rejeitá-la na nossa vida pessoal ou comunitária, assegurando a nossa proximidade aos nossos irmãos na fé que pagam um preço muito alto por defender a fé, a verdade e a justiça, assim como o bem da Igreja, da família, das crianças e dos doentes”, explicitou referindo-se particularmente àqueles que não conseguem viver a sua fé em liberdade.

O prelado lembrou a este propósito que os ensinamentos de Jesus levam-nos ao perdão e dão a força necessária para se lutar contra o mal.

“Só a consciência de dever pagar uma grande dívida de amor a Jesus nos dá a força de enfrentar qualquer consequência, desejando seguir Jesus, tomar a nossa cruz, como também oferecer amor, solidariedade, empatia e ajuda aos que, como Jesus sofrem no corpo e no espírito”, disse D. Ivo Scapolo durante a homilia da Missa de Domingo de Ramos que começou no exterior da Igreja do Senhor Santo Cristo com a benção dos Ramos, um ritual próprio deste dia.

“A grande e linda devoção que existe nesta ilha à preciosa imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres deveria ser a expressão da vontade de se colocar ao lado de Jesus atribulado e de todos os que como ele são vítimas da violência e da injustiça, do engano e da mentira”, afirmou ainda durante a homilia.

“Venerar a imagem do Ecce Homo significa dominar o medo e eliminar a indiferença e tomar o compromisso de não olhar para outro lado, fazendo como o bom samaritano, cuidando dos mais velhos, pobres e atribulados. Significa estarmos unidos aos nossos irmãos que por permanecerem na fé são perseguidos em diferentes países e continentes, sofrem a perseguição, a discriminação e a violência”, disse ainda.

“Esta proximidade e solidariedade espiritual deveria depois expressar-se num renovado compromisso de viver a nossa fé em Jesus com particular generosidade e fidelidade, conscientes do privilégio de viver a nossa fé num ambiente sereno e respeitoso. Que este privilégio se transforme num compromisso de viver a fé, a esperança e a caridade com um particular empenho e generosidade”, concluiu.

O Núncio Apostólico em Portugal agradeceu ainda a possibilidade de ter celebrado neste Santuário, em Ponta Delgada, em especial ao grupo de jovens que animou o canto durante a celebração, revelando que “as novas gerações mantém viva a fé” e o desejo de “colaborar na justiça e na paz do mundo”.

“Todos temos de rezar e trabalhar pela paz”, terminou.

Esta tarde, o núncio vai encontrar-se hoje com os jovens de São Miguel, a partir das 15h00.

“Será uma oportunidade de D. Ivo Scapolo estar com os jovens açorianos, de conhecê-los e escutá-los, mas também uma ocasião de confirmação da fé e na fé”, avança o padre Norberto Brum em declarações ao programa de rádio Igreja Açores.

O núncio apostólico em Portugal vai participar na Via-Sacra organizada para “todos os jovens da ilha de São Miguel”, pelo Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil e Comité Diocesano JMJ, no Campo de São Francisco.

Depois, o representante do Papa em Portugal vai reunir com os jovens, “num encontro por ele desejado e querido, no qual pretende estabelecer um diálogo com os jovens”, na igreja de São José, também em Ponta Delgada.

“Uma conversa que, certamente, terá em conta o contexto da nossa diocese sem bispo diocesano, a sinodalidade da Igreja, e o contributo que os jovens podem e devem dar neste caminho de renovação da Igreja”, desenvolve.

Neste encontro, D. Ivo Scapolo “irá também abordar” a preparação, organização e vivência da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, que se vai realizar de 1 a 6 de agosto de 2023.

O Núncio visitou ainda o Santuário e o Convento da Esperança onde pode ver pela primeira vez o Tesouro do Senhor Santo Cristo, numa visita orientada pelo Reitor do Santuário.

O embaixador da Santa Sé em Portugal vai presidir às celebrações da Semana Santa, incluindo a Missa Crismal, na catedral açoriana, de 10 a 17 de abril, e visitará as ilhas de São Miguel, Terceira e Faial.

 

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