Sinodo da Amazónia vai debater a possibilidade de ordenação de homens casados

Encontro terá lugar de 6 a 27 de outubro

O Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que se realiza no Vaticano em 06 a 27 de outubro, irá abordar a ordenação de homens casados para as áreas mais remotas, segundo o documento de trabalho da reunião, divulgado hoje.
Afirmando que o celibato é um dom da Igreja, no documento é, no entanto, solicitado que, em áreas mais remotas, seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal de idosos, preferencialmente indígenas, respeitados e aceites pela sua comunidade, mesmo que tenham uma família constituída e estável.
O objetivo desta proposta em debate é assegurar os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã.
Em março 2017 o papa Francisco já tinha anunciado publicamente “considerar” a possibilidade de ordenar “viri probati” homens casados envolvidos na Igreja, excluindo esta abertura para homens jovens e mulheres.
Em janeiro, o papa tinha rejeitado qualquer questionamento geral do celibato clerical em vigor no catolicismo romano, chamado “dom para a Igreja”, considerando que não deve ser opcional.
“Pessoalmente acho que o celibato é um dom para a Igreja. Em segundo lugar, não concordo em permitir que o celibato seja opcional”, declarou.
O papa propôs essa possibilidade para zonas remotas, como as ilhas do Pacífico ou da Amazónia, onde existe “uma necessidade pastoral.”
“É algo em discussão com os teólogos, não é uma decisão minha”, acrescentou cautelosamente.
O documento para debate no encontro dos bispos também defende um maior papel para as mulheres na Amazónia.
“É solicitado o reforço do papel dos leigos, e especialmente das mulheres, cuja presença nem sempre é levada em conta de forma adequada”, segundo o documento que sugere mais envolvimento das mulheres na área da formação, especialmente em teologia, catecismo, liturgia e escola de fé.
“Solicita-se que as vozes das mulheres sejam ouvidas, que sejam consultadas e participem na tomada de decisões para que assim possam contribuir com a sua sensibilidade à sinodalidade eclesial”, lê-se no documento.
O Sínodo convocado pelo papa para outubro vai também abordar os problemas ambientais da Amazónia, nomeadamente as consequências da exploração da floresta e dos recursos hídricos.
Francisco recebeu há três semanas o líder indígena Raoni, que durante uma viagem pela Europa lançou o alerta para a desflorestação da amazónia.

O Vaticano denuncia neste documento sobre a Amazónia a exploração levada a cabo por interesses económicos que ameaçam o “pulmão do planeta” e os direitos dos povos indígenas.

“A vida na Amazónia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazónica. De modo especial a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios”, assinala o documento de trabalho da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que o Papa convocou para outubro.

O texto conta com o contributo das comunidades locais, que apontam o dedo a “interesses económicos e políticos dos setores dominantes”, em particular “empresas extrativistas, muitas vezes em conivência, ou com a permissividade dos governos locais, nacionais e das autoridades tradicionais”.

Entre as ameaças elencadas estão “os grandes interesses económicos, ávidos de petróleo, gás, madeira, ouro, monoculturas agroindustriais”, bem como “megaprojetos de infraestruturas, como as hidroelétricas e estradas internacionais, e atividades ilegais vinculadas ao modelo de desenvolvimento extrativista” de minérios.

A Santa Sé dá voz a preocupações sobre “a destruição múltipla da vida humana e ambiental, as doenças e a contaminação de rios e terras, o abate e a queima de árvores, a perda maciça da biodiversidade, o desaparecimento de espécies”.

“O território transformou-se num espaço de desencontros e de extermínio de povos, culturas e gerações”, adverte o ‘instrumentum laboris’, falando num “ponto de não-retorno”.

O documento orientador dos trabalhos do Sínodo 2019 fala numa região “disputada” por várias frentes, com “violação dos Direitos Humanos e destruição extrativista”, evocando os “defensores dos direitos humanos” e os seus mártires, como a irmã Dorothy Stang.

A religiosa católica, defensora dos direitos dos povos ribeirinhos da floresta amazónica, tinha 73 anos e morava no Brasil há 30 quando foi assassinada a 12 de fevereiro de 2005, com seis tiros.

A questão dos “povos isolados”, particularmente vulneráveis, e os desafios levantados pela emigração são outros temas abordados.

O Vaticano recorda que, na Amazónia, “entre 70 e 80% da população reside nas cidades”, alertando para a “urbanização da pobreza”, o aumento da violência e a corrupção.

Os responsáveis católicos defendem a valorização da cultura e das línguas indígenas, na educação institucional.

A assembleia de bispos foi anunciada pelo Papa a 15 de outubro de 2017 e vai refletir sobre o tema ‘Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’, de 6 a 27 de outubro de 2019.

A Igreja Católica atua na região através da Rede Eclesial Pan-Amazónica, REPAM, que inclui representantes de comunidades católicas de nove territórios: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana-Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Até hoje houve 14 assembleias gerais ordinárias e três extraordinárias, as últimas das quais dedicadas à Família (2014 e 2015); em outubro, o Vaticano recebe uma assembleia ordinária do Sínodo, sobre os jovens.

(Com Lusa e Agência Ecclesia))

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