A Semana das Vocações

Pelo Padre Hélder Miranda Alexandre *

Na mensagem do Papa Francisco para o 58.º dia mundial de oração pelas vocações, somos interpelados a “sonhar a vocação, segundo os sonhos de Deus”. O Papa aponta para a vida e exemplo de São José, porque figura próxima da nossa condição humana. “Não sobressaía, não estava dotado de particulares carismas, não se apresentava especial… não era famoso, nem se fazia notar”, mas Deus vê o coração, adverte o Papa, como lugar a que mais nos devemos ocupar e tomar cuidado. No “Principezinho” de Antoine de Saint Exupéry, vemos a sua relação com a sua amiga, a rosa. Depois de muito peregrinar e de muito ver, o nosso viajante acaba por perceber a importância verdadeiramente única da sua amiga. É com ela que está bem, é ela que o completa, é ela que é o necessário complemento seu. É para ela que tem de retornar, mesmo a custo do mais terrível preço. A certa altura entende: “foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a tornou tão importante”. A rosa requer cuidado, proteção, paciência, muito tempo. É no tempo dedicado à tua “rosa” que descobres a tua missão. Mas se não te dedicares nunca a descobres.

O cuidado das vocações é lento e feito com muito amor e paciência, cheio de avanços e recuos, expectativas defraudadas e surpresas de Deus. Um caminho feito em silêncio, como chuva miudinha que vai fertilizando a terra, no meio de tempestades e reveses inauditos. No fundo, a obra é de Deus, não de umas opiniões fugazes da praça pública.

O Papa pede que os corações vocacionados sejam “abertos, capazes de grandes ímpetos, generosos na doação, compassivos para consolar as angústias e firmes para fortalecer as esperanças”. O coração tem de ser dedicado, generoso. Malgrado aquele que se fecha, que deixa de bombear sangue novo. Não a novidade das modas, mesmo aparentemente eclesiais, mas do Espírito de Deus, que sopra como quer e para onde quer, mas sopra…

Francisco indica três palavras chave nesta história: o sonho, o serviço e a fidelidade. O sonho pode identificar-se com as aspirações de cada um, mas é essencialmente o amor. Foi por causa destes sonhos que José teve de alterar planos. Há que deixar conduzir-se pelo ouvido interior, pelo discernimento. Não é fácil escutar, discernir e decidir no meio de tantos afazeres, tantos ruídos externos, apelos e confusões internas. Significa seguir a vontade de Deus, “coragem para sair, dar-se e ir mais além”. O serviço significa em José o nada reservar para si próprio. É o dom de si mesmo que faz amadurecer o caminho vocacional, não um simples e frio sacrifício. Torna-se uma regra diária, a disponibilidade para servir e o cuidado em guardar. Finalmente, pela fidelidade, José, homem justo, persevera na adesão a Deus e aos seus desígnios. Medita, pondera e tudo repassa com paciência. “Porque a vocação, como a vida, só amadurece através da fidelidade de cada dia”. A fidelidade só é possível à luz da fidelidade de Deus, que nos incentiva a não temer. “Não temas: são estas as palavras que o Senhor dirige também a ti, querida irmã, e a ti, querido irmão, quando, por entre incertezas e hesitações, sentes como inadiável o desejo de lhe doar a vida”. Finalmente Francisco convida a reavivar o “primeiro amor2 que nos fez decidir.

É essa fidelidade que gera alegria, na atmosfera simples e radiosa, sóbria e esperançosa, que deve permear os nossos seminários, institutos religiosos e residências paroquiais.

Acolhamos todos os tipos de vocação eclesial, amemos os seus sonhos, cuidemos da nossa, e apoiemos aqueles que diariamente trabalham por elas. Não é fácil, nunca foi, mas é uma entrega que enche a alma de uma alegria imensa!

*O padre Hélder Miranda Alexandre, além de Reitor do Seminário Episcopal de Angra, é o diretor do Serviço diocesano para as Vocações e Ministérios e, é nessa qualidade que escreve este texto.

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