Ano «Laudato Si» desafia católicos a mobilizar forças da sociedade em defesa da «casa comum»

A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, da Conferência Episcopal Portuguesa, e a Rede Cuidar da Casa Comum (RCC) saudaram hoje o lançamento do ano especial dedicado a encíclica ‘Laudato Si’, convocado pelo Vaticano com o apoio do Papa, este domingo.

“O efeito da pandemia possibilita chamar a atenção para a urgência destas questões que há cinco anos foram propostas na ‘Laudato Si’ e acolhidas por tantos e postas em questão por outros. Agora, este tipo de circunstância possibilitam um novo alento para cuidar da casa comum”, disse o padre José Manuel Pereira de Almeida, em declarações à Agência ECCLESIA,

Rita Veiga, da comissão executiva da Rede Cuidar da Casa Comum, assinalou, por sua vez, que a pandemia de Covid-19 vai “sacudir” porque “toca a todos, está tudo interligado”, e é preciso saber “que mudanças fazer, parece que chegou a hora de pensar a sério e passar à ação”.

Até 24 de maio de 2021, o ano dedicado à ‘Laudato si’, promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), tem como objetivo principal “propor um compromisso público comum com a sustentabilidade total a ser alcançada em sete anos”.

O padre José Manuel Pereira de Almeida, secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, assinalou que é o primeiro ano “de uma série de sete anos” para “um debate e um lóbi”, para se chegar a um “ponto mais comummente partilhado acerca da sustentabilidade global e isso é particularmente relevante”.

A comissão executiva da Rede Cuidar da Casa Comum “ficou muito satisfeita com a ideia” deste um ano especial centrado na encíclica ‘Laudato Si’, revelou Rita Veiga, que destacou a oportunidade de aprofundar “as novas linhas da evangelização e da conversão ecológica”.

“E a ideia também de encontros, trabalhar para conseguir ter propostas de compromisso a um espaço mais longo de forma a tornar as coisas mais realidade, as que vemos como importantes de mudança, de transformação da nossa maneira de estar no mundo”, acrescentou.

“Convido todas as pessoas de boa vontade a aderir, para tomar conta da nossa comum e dos nossos irmãos e irmãs mais frágeis”, disse o Papa Francisco, este domingo, no Vaticano.

O padre José Manuel Pereira de Almeida recorda que este cuidado pela “casa comum” e pelas pessoas mais frágeis “está no centro do pensamento apresentado ao longo da Laudato Si, até com algumas repetições”, e destaca o número 16 – “a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta” – e o número 13 – “a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”.

“Essa ideia de que as coisas podem mudar é assumida neste ano ‘Laudato Si’, o primeiro de sete para chegarmos a um compromisso público comum de sustentabilidade. Num manifesto, o cardeal Peter Turkson dizia ‘a ecologia integral pode ser a nova chave para compreendermos a justiça’ e é um dado significativo”.

Rita Veiga acrescenta que no contexto da pandemia Covid-19 estavam “todos no mesmo oceano, debaixo da mesma tempestade, uns de iate e outros de bote de borracha”, por isso, considera que se percebeu que a “tal casa comum é para ser acolhedora para todos e não para uns quantos”.

“Este ano vai permitir levar mais longe a exigência de respostas inclusive de instituições, como as Nações Unidas (ONU), por exemplo o ‘Acordo de Paris’ tem de ter muito mais implicações na prática, temos de dizer aos dirigentes políticos que basta de muitas discussões e depois enredarem em discussões legalistas e, pelo meio, estão pessoas afetadas, a sofrer”, desenvolveu o membro da coordenação da comissão executiva da Rede Cuidar da Casa Comum.

O padre José Manuel Pereira de Almeida assinalou que, sob o ponto de vista da temática nas áreas da pastoral social e mobilidade e humana, as comissões episcopais “têm possibilitado este serviço de consciência e de ação porque não pode ser só discursos, tem de ser ações concretas e conversão ecológica efetiva”.

A encíclica ‘Laudato Si’ foi assinada pelo Papa Francisco há cinco anos, a 24 de maio de 2015, Solenidade de Pentecostes, e divulgada no dia 18 de junho; em seis capítulos, tem várias reflexões das conferências episcopais do mundo e conclui com duas orações, uma inter-religiosa e uma cristã, pela proteção da criação.

A expressão ‘Laudato Si’ foi inspirada no ‘Cântico das Criaturas’ de São Francisco de Assis, e na encíclica do Papa Francisco também encontra-se “um excelente guia” para o processo de desconfinamento da pandemia Covid-19.

“Nesta fase que vamos saindo um bocadinho daquele espaço mais de confinamento vamos percebendo, se calhar cada vez mais, que vamos fazer muitos de nós as mesmas coisas mas temos que as fazer de forma diferente. O grande desafio é perceber que coisas precisamos de fazer diferentes, realidades diferentes: Temos de ser pessoas diferentes, pessoas de relação”, disse frei Hermínio Araújo, destacando a importância da palavra “criatividade” quando se aconselha a distanciamento social mas a “experiência dos sentidos é importante”.

O frade Franciscano contextualiza que o ‘Cântico das Criaturas’ é um dos poemas “mais significativos para perceber o carisma” de São Francisco de Assis onde a “palavra-chave é ‘irmão’”, remete para “uma experiência de fraternidade” e convida a ler e reler a encíclica na “chave de relação”.

(Com Ecclesia)

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