Eles falam, falam, falam…

Por Renato Moura

O título desta partilha é retirado de um desabafo do 1.º Ministro. Percebeu-se a quem ele se queria referir.

Só que também o 1.º Ministro fala muito, fala demais. Muito recentemente António Costa considerava que era negativo descer o IVA, para vir agora gabar-se dessa decisão. Pois nem a descida é completamente má, nem dela se retirarão tantos proveitos como se procura fazer crer: coisa que as famílias brevemente concluirão. Mas, entretanto, funciona a propaganda da descida de impostos, slogan que adoça sempre o ouvido; e outras propagandas de que o 1.º Ministro é sempre arauto.

Ministros também desacreditam hipotéticas decisões, vendo-se depois obrigados a sentar na primeira fila (quais incautos ajudantes!) a aplaudir o seu Primeiro, quando anuncia as mesmas. Em Israel, goste-se pouco ou muito daquela democracia (talvez a menos má por aquelas bandas), há ministros com coragem de discordar frontalmente; mesmo sabendo que perderão o lugar.

O Presidente da República fala, fala que nunca se farta. Sempre o considerei e disse. Foi preciso ele atingir o exagero para os comentadores já se sentirem incomodados, pois ele comenta tudo sempre primeiro! Há noticiários onde aparece várias vezes, sobre tudo e mais alguma coisa.

Os governantes falam, falam, para dar a imagem de que está tudo bem e quem está enganado é o povo, as oposições e até o Presidente. Obviamente o Governo sente a fragilidade da acção e da falta dela. Sente a perda da mão por baixo, do Presidente. Dum lado e do outro voam mensagens para o ar. Cada órgão em democracia tem os seus poderes e antes até se disse que esse contrapeso era positivo.

Marcelo pronuncia-se. Se o faz antes da proposta de lei ser finalizada no Governo, não só condiciona o Executivo, como o Parlamento. Ainda assim, como Presidente, quase sempre promulga.

Se não disputa institucional, é pessoal entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, tentando provar quem é mais habilidoso. Mas as funções actuais de cada um não se apropriam para esses jogos, que de florais têm pouco. Gabar pela frente e enviar farpas por trás?! Nem vestidinhos de branco nos fazem tolos!

Portugal é viciado em produzir “lei cartaz”. E as actuações políticas das grandes figuras também não são um bom cartaz para a democracia e funcionamento das instituições.

Muitos a falar tanto; e é caso para exclamar: tanta parra e tão pouca uva!

O 1.º Ministro não foi eleito. O Presidente já não será. Resta ao povo exigir dos deputados que elegeu, a assunção dos deveres que a Constituição lhes impõe.

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