Insigne teólogo e Doutor da Igreja

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Por António Pedro Costa*

Faleceu Bento XVI, uma das figuras proeminentes deste século que, de acordo com o seu desejo expresso, o funeral deveria ser realizado com a marca da simplicidade, tónica dominante que o caraterizava e era apontada por todos os que o conheciam de perto.

Ainda por desejo do falecido emérito pontífice, comunicado ao então arcipreste da Basílica de São Pedro, Bento XVI gostaria de ser sepultado na Cripta do Vaticano, no local que acolheu o túmulo de São João XXIII e, depois, o de São João Paulo II, cujos corpos foram trasladados, após as respetivas canonizações, para capelas laterais da Basílica.

Joseph Ratzinger foi totalmente diferente do seu antecessor, João Paulo II, mesmo sem o seu carisma, tinha uma personalidade forte e foi um intelectual que se impôs ao mundo estratosférico da refinada intelectualidade, e que se deixou cativar pela grande sabedoria e inteligência de Bento XVI.

Ele é descrito como um teólogo inteligente e um líder especial para a Igreja, tendo o mundo perdido uma figura formadora e catequizadora para a Igreja Católica.

Em 2013, o mundo ficou estupefacto quando ele anunciou que iria renunciar ao cargo, pois dentro da Igreja, tal ato era impensável pela simbologia do papado como a representação de Cristo crucificado, que permaneceu até ao momento derradeira da sua morte na cruz.

Uma coisa é certa, tanto Ratzinger, como Bergoglio nunca foram inimigos, como alguns insinuavam e via-se neles o respeito que nutriam um pelo outro, em tempos de tanta intransigência para com a Igreja Católica, mormente com o que tem acontecido com a questão não dogmática do celibato ou com os escândalos sexuais de alguns padres.

Neste momento da sua partida para a Casa do Pai, o grande gesto de Bento XVI, que foi a sua renúncia, com impacto na história milenar da Igreja e que a Cúria e as correntes conservadoras que sempre o invocam, decerto não lhe perdoarão.

Com a sua inteligência superior e com o seu conhecimento profundíssimo da história da Igreja, ele sabia que, depois da sua tomada de decisão, dificilmente as coisas ficariam iguais e mostra também o seu desapego e a sua grande generosidade que ela traduz.

Bento XVI sempre soube separar o ser Papa e a sua condição de teólogo, nunca deixando de escrever como teólogo e não como Papa, pois é um homem que continuou plenamente consciente do significado transcendente do seu gesto e, com isso, foi possível o Espírito Santo dar à Igreja um Papa admirável como é Francisco, cujas atitudes singelas e franciscanas a Igreja Católica tanto estava a necessitar para se purificar de meandros complexos que desvirtuam a boa nova deixada pelo Homem e Divino Mestre.

A morte do papa Bento XVI entristeceu-nos, dado que ele sempre se viu primeiro como um servo de Deus e da sua Igreja e uma vez que sua força física diminuía, ele continuou a servi-la por meio do poder das suas orações. Os seus poderosos apelos à solidariedade com as pessoas marginalizadas em todo o lado e as suas exortações para reduzir o fosso crescente entre ricos e pobres foram muito relevantes e serão sempre lembradas por intelectuais, mesmo não crentes que o respeitavam e admiravam, como pelos católicos de todo o mundo.

Bento XVI era como um gigante tanto da fé, como da razão e uma figura incontornável que a história não esquecerá, dado que colocou a sua vida a serviço da Igreja universal e falou, e continuará a falar, aos corações e mentes dos homens com a profundidade espiritual, cultural e intelectual do seu magistério que todos o reconhecem.

O Papa Francisco expressou gratidão ao seu antecessor, durante uma celebração na Basílica de São Pedro, expressando o pensamento para o amado Papa emérito Bento XVI, que nos deixou. Com emoção, Francisco lembrou-nos da sua personalidade tão nobre, tão gentil e que Deus sabe o valor e a força da sua intercessão.

As homenagens foram mais do que muitas de fiéis, de peregrinos e de altas personalidades de todas as partes do mundo que desde as primeiras horas dos dias de velório se colocaram em fila para poder entrar na Basílica de S. Pedro, onde se encontravam os restos mortais do Papa Emérito Bento XVI. A praça São Pedro acolheu milhares de fiéis para um último adeus ao Papa emérito e para a gratidão em torno do corpo do homem de 95 anos que foi um bem para a Igreja Universal e quem sabe, poderá ser declarado Doutor da Igreja, tal foi o seu legado.

* António Pedro Costa é presidente da Fundação Pia Diocesana de Nossa Senhora das Mercês

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