Pensamentos improváveis e desabafos inverosímeis ou reais de candidatos?

Por Renato Moura

– As listas para as eleições autárquicas estão na porta do tribunal; há que ir rapidamente ver quem aceitou candidatar-se por outros. Mas não vou copiar aquilo tudo, pois além da demora, se alguém vê, pode pensar que estou preocupado; vou é fotografar, discretamente, com o telemóvel.

– É urgente analisar. Será que algum daqueles, que eu tinha por meus fiéis apoiantes, se disponibilizou para outra lista? E pior ainda seria, se aqueles que me devem favores, que lhes fiz nestes anos de funções, agora me traíssem. É que há gente que tem o atrevimento de pensar que aquilo que receberam era um direito.

– Vejamos agora com calma. Incrível: bem receava eu; olha fulano na lista daquele e fulana na lista do outro; são uns ingratos, já fazem que se esqueceram da autorização, do deferimento, da aceitação do pedido. Olhem só! E até a mulher daquele que é nosso, aceitou ir na lista do inimigo; e o filho daquela vai na lista daqueles! Que raio de democracia é esta?! Então já não é o chefe que diz o que não se pode aceitar e onde se vota?!

– Eu sei que sou o maior e garantidamente que vou ganhar, pois tenho nas mãos o material para tratar do que tem de ser feito a partir de agora; imediatamente. Há alguns que vão ter que ouvir das boas. E depois de Outubro cá estarei eu e alguns vão-se arrepender amargamente. Virão cá e ouvirão um “tarde piaste”, vai agora ter com os da oposição.

– E fiquem vocês sabendo, com alguns deles nem sequer me quero sujar a recebê-los. A seu tempo vos darei uma lista dos traidores e quando eles vierem à procura de batatinhas, serão vocês a dizer-lhe que não. Eu continuarei a receber apenas aqueles que é para dizer que sim.

– Vocês não percebem nada disto, não sabem o que é política. O partido precisa de mim, o povo precisa de mim, é necessário é saber jogar com isto. O difícil foi manobrar até chegar aqui, agora é só aguentar.

– Por vezes vem-me à cabeça que posso não ganhar, há para aí partidos a mais a concorrer. Se perdesse a maioria e não mandasse sozinho, eu passava-me da cabeça. A solução será dar os habituais berros… e o remédio deles é calarem-se.

– Finalmente vou realizar o meu sonho de ser eleito, como sempre quis. Depois aprenderei o que tenho de fazer e como. Será que com essa coisa da lista de independentes eu posso não chegar ao poder?! É melhor nem pensar no desgosto de o tiro sair pela culatra, para não me abater antes da campanha.

Tudo um delírio? Politicamente improvável e democraticamente inverosímil? E se a correspondência com a verdade não fosse simples coincidência?

 

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