Reitor do Santuário do Santo Cristo lembra que a arte é o “lugar de onde Deus nos fala”

Cónego Adriano Borges profere conferência inaugural da exposição “Ecce Homo: a devoção de um povo” promovida pelo Cabido da Sé, no Seminário Episcopal de Angra e alerta para a necessidade de não se confundir devoção com idolatria

A arte é o “lugar de onde Deus nos fala” mas as obras de arte, que constituem algumas imagens, não podem ser adoradas sob pena de confundir devoção com idolatria, defendeu ontem à tarde o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres na conferência que proferiu e que precedeu a inauguração da exposição “Ecce Homo: a devoção de um povo”, uma iniciativa do cabido da Sé de Angra para assinalar os 60 anos de elevação da Igreja do Convento da Esperança a Santuário Diocesano.

“Não há ninguém que tenha um mínimo de sensibilidade que ao olhar para uma imagem, e para a do Senhor Santo Cristo em particular, e não sinta que ela é especial. Mas, daí até dizer que adoramos a imagem vai uma grande distância. Só adoramos a Deus; gostamos das coisas e amamos as pessoas”, afirmou o cónego Adriano Borges.

E prosseguiu: “as imagens são janelas para representação de uma ideia” e a “iconografia religiosa é uma espécie de sarça ardente, semelhante à experiência mística que Moisés teve, falam-nos de Deus mas não são Deus”.

“As imagens- e a arte em geral- remetem-nos para a transcendência; são o lugar de onde de Deus nos fala”, esclareceu.

Depois de uma primeira parte mais contextualizadora da importância da arte e da sua relação com a transcendência, o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo desafiou os presentes a fazerem um percurso pelas imagens mais icónicas do Santuário, todas do século XVIII, e que compõem, na sua maioria, o Tesouro do Senhor Santo Cristo. Do Tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres, o resplendor é a sua peça mais rica: é composto por platina cromada de ouro, pesa 4,850 kg e está incrustado de 6842 pedras preciosas, como topázios, rubis, ametistas e safiras. A coroa é considerada a peça mais delicada do conjunto: feita em ouro, pesa 800 gramas e possui 1082 pedras preciosas. O relicário, o cetro e as cordas foram as cinco peças do conjunto. Estas jóias representam os instrumentos de morte, com que Jesus foi apresentado à multidão no Pretório de Pilatos, sujeito à suprema humilhação, injuriado e escarnecido. Apenas usadas nas Festas em honra do Senhor e em épocas festivas, estas jóias são alvo de uma enorme curiosidade, pelo seu elevado valor material e artístico, não estando expostas ao público. E, depois há as capas que estão em exposição, algumas delas integram a exposição que decorre até 20 de dezembro no Seminário Episcopal de Angra e que ontem foi inaugurada.

Na conferência o Cónego Adriano Borges, além de aspetos relacionados com a fé e a devoção, explicitou as iniciativas que estão previstas pela Reitoria do Santuário para continuar a obra de conservação, reconstrução e modernização do santuário do Senhor Santo Cristo como lugar de acolhimento da fragilidade humana e de forte espiritualidade.

“Nós iniciamos uma caminhada sinodal, este é um Santuário Diocesano, e por isso faz sentido que estas coisas sejam divulgadas e que nos unamos em torno do mesmo ideal diocesano” desafiou o Reitor do Santuário.

O Deão da Sé, o cónego Ângelo Valadão, sustentou este desafio explicitando que esta exposição é um tributo “à devoção de um povo que embora tenha a s suas raízes cristãs na pregação evangélica desde o tempo do povoamento necessita que a sua religiosidade seja aprofundada e purificada continuamente”.

A exposição «Ecce Homo – A devoção de um povo» promovida pelo Cabido da Sé de Angra, com a colaboração do Seminário Episcopal e Museu da cidade reúne “algumas capas do Senhor Santo Cristo, gravuras e outros objetos devocionais deste culto açoriano. Entre as capas expostas o destaque vai para a capa oferecida por D. Maria de Áustria, mulher de D. João V (1706-1750), com o propósito da imagem ter uma capa feita do mesmo brocado de que era feito o manto real do seu esposo, como era desejo do monarca.

A exposição contempla ainda registos, muitos deles particulares, e gravuras do Senhor Santo Cristo, entre outras peças que pretendem mostrar as diversas manifestações de fé e religiosidade do povo açoriano ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

 

(Com André Furtado)

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