“Não podemos ficar insensíveis ao mistério do sofrimento no qual Deus nos salva” – D. Armando Esteves Domingues
O bispo de Angra afirmou esta tarde que o “grito de Jesus” – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27, 46) -, continua a soar no meio das tragédias contemporâneas: as guerras civis, os conflitos religiosos e étnicos, a atuação de grupos extremistas em África.
“Este grito de Deus continua a ouvir-se em todos os gritos de morte no meio das guerras assassinas, dos inocentes em Gaza, na Ucrânia e em todas as guerras civis, conflitos étnicos e religiosos e a atuação de grupos extremistas em África”, afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia que proferiu na Paixão, a grande celebração desta Sexta-feira Santa, em que a Cruz é o centro da reflexão e meditação dos cristãos, que se detêm na sua adoração.
Em particular, destacou as dificuldades que enfrentam os mais vulneráveis, com especial destaque para mulheres e crianças.
“É o grito das vítimas da exploração injusta, do tráfico humano, da prostituição, da escravidão das dependências”, frisou.
O prelado não deixou de abordar também as realidades mais próximas, como as desavenças familiares, a violência doméstica — física, verbal e psíquica —, a pobreza extrema, a marginalização dos que vivem na rua e dos que não têm acesso à cultura ou às condições básicas de vida.
“Este mistério de iniquidade, que faz pagar o justo pelo culpado, é também o mistério do amor de Deus”, sublinhou.
“Jesus é este servo de Javé que aparece diante de nós desfigurado, sem rosto, sem aparência de homem, caído e humilhado, de aspeto desagradável por causa do sofrimento causado pelos nossos pecados. Mas é ele, precisamente ele, quem lava as nossas culpas e nos limpa das iniquidades. Nas suas chagas fomos curados” disse ainda o prelado que sublinhou que “hoje não podemos ficar insensíveis ao mistério do sofrimento no qual Deus nos salva”.
E, prosseguiu interpelando se não será esta “a luz” que o mundo precisa para “fazer vencer os relacionamentos entre pessoas e entre povos, salvar a comunhão fraterna para que tenha consequências na vida social, económica e política”.
Em sintonia com o espírito do Ano Jubilar, o bispo apelou para que todos se tornem “peregrinos da esperança”, mesmo num tempo de grandes tragédias e incertezas.
“É possível vislumbrar a luz da esperança, do ressuscitado, por detrás de cada cruz ou dificuldade”, declarou, convidando à renovação da fé e do compromisso fraterno.
Maria, Mãe de Jesus, ocupou um lugar central na meditação. Referida como “Desolada”, por permanecer firme junto ao Filho no Calvário, Maria é apresentada como modelo de “presença, coragem e humildade”.
“Ela sabe que a Igreja está a nascer daquele grito e daquela vida entregue”, disse D. Armando Esteves Domingues , recordando que é no meio da dor que pode despontar a aurora da Ressurreição.
Num mundo marcado por polarizações e conflitos, a mensagem propõe um caminho de reencontro com o olhar de Maria e com o amor de Deus. Em tempos de incertezas, a fé cristã apresenta-se como farol de esperança, capaz de iluminar até as noites mais escuras da humanidade.
“Precisamos que ela nos indique como enfrentar o presente e esteja ao nosso lado nos nossos dias, nas solidões do nosso tempo, nas polarizações – mesmo dentro das nossas comunidades – e em todo o tipo de conflito”, concluiu.
Nesta sexta-feira, em que não se celebra a missa, faz parte da liturgia deste dia a narrativa da paixão do Senhor segundo o evangelho de João, a longa oração dos fiéis por toda a Humanidade e a adoração da cruz em profundo silêncio.
Também neste dia os fieis são convidados a fazer uma partilha com a Terra Santa, ajudando a preservar os Lugares Santos, as escolas, os hospitais, e tantos outros lugares que oferecem esperança, cuidado e consolo nestes tempos dolorosos de guerra na Palestina. Especialmente este ano, com o apelo do Prefeito do Dicastério das Igrejas Orientais, que pediu a todos os bispos do mundo para se empenharem na coleta para a Custódia de Jerusalém.
Esta sexta feira fica igualmente marcada pelas manifestações devocionais como as vias sacras e as procissões.
Na Sé, às 19h00, terá lugar uma Via-sacra seguida da Procissão do Senhor morto, pelas ruas da cidade de Angra, reunindo todas as paróquias da cidade.