O chefe da Chancelaria do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica esteve no Pico a orientar o terceiro turno do retiro do Clero diocesano, no qual participaram duas dezenas de padres da diocese de Angra

O Conclave “não será fácil” dado o momento que o mundo atravessa, mas ter um cardeal que falasse a língua de Camões e de Fernando Pessoa seria uma honra e, se fosse o cardeal D. José Tolentino Mendonça, então “seria ouro sobre azul” afirmou em entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores Monsenhor Mário Rui Oliveira.
“Seria uma boa notícia termos um cardeal que seja um bom pastor e um santo padre. Se é português ou não, confiamos ao Espírito Santo mas seria muito interessante se ele falasse a língua de Camões e de Fernando Pessoa. E, naturalmente, se fosse o cardeal Tolentino era ouro sobre azul” afirma o sacerdote bracarense.
O sacerdote, natural da Arquidiocese de Braga, que está em Roma desde 2007 e foi recentemente nomeado chefe da Chancelaria do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, esteve esta semana no Pico a orientar o terceiro turno do retiro do clero diocesano, dedicando a sua atenção às emoções que desviam a atenção dos sacerdotes de Deus.
“Julgo que não falo em nome próprio mas interpreto também aqueles que são os sentimentos de uma nação, que o ama e lhe quer bem” acrescenta lembrando, contudo, que o único instrumento de que dispomos para intercessão é de facto a oração.
“Este é um momento muito importante; não será um conclave fácil, o momento é particularmente delicado e nós o que podemos fazer é mesmo rezar. Não somos uma organização qualquer, fomos fundados por Jesus e a oração é oxigénio que nos faz respirar, e para estarmos com eles, com os cardeais, em comunhão temos de o fazer” enfatizou ainda.
Questionado, por outro lado, sobre o perfil adequado do novo Papa responde com elogio ao Papa Francisco.
“Foi um Papa muito corajoso, um grande profeta que forçou o olhar da Igreja a concentrar-se no mundo marginalizado, convidando-nos a olhar para os pobres, os que sofrem. Quem vier tem agora um legado enorme para honrar” refere.
“O mundo que nos está a chegar, com as mudança de época e com a revolução da Inteligência Artificial, tem de ser capaz de interpretar os sinais dos tempos, com muita perspicácia ” refere ainda sem deixar de referir que com estes pressupostos “D. José Tolentino Mendonça estaria na linha da frente”.
“Creio que D. José Tolentino e a sua capacidade de diálogo, a sua capacidade de desconstrução para erguer o novo, o respeito que tem pela sua intelectualidade… poderia ser muito interessante”, sublinhou.
“O homem tem de estar sempre na mira da Igreja, no que respeita à cultura, à misericórdia, à justiça, entre outros. A igreja tem de estar na linha da frente na reflexão dos temas, mas com calma e sempre centrada no Evangelho” disse ainda.
O sacerdote ordenado há 28 anos formou-se em Direito Canónico na Universidade Gregoriana de Roma.
Ao Pico trouxe uma revisitação dos designados 7 pecados capitais, na ótica de um monge do século IV Evágrio Pôntico, que enumerou uma lista de pecados que atrapalhavam a rotina voltada para o exercício espiritual.
“Este tema tem alguma densidade espiritual, psicológica e antropológica pois permite-nos refletir sobra as relações sociais deformadas que todos nós experimentamos na nossa vida e que nos caso sacerdotal pode ser mesmo um impedimento para a ascese”, referiu elecando alguns exemplos como a gula que é uma relação deformada com a comida; a luxuria que é uma relação deformada com o corpo e a sexualidade; a avareza que aponta para uma relação deformada com as coisas; a ira, com os outros e ainda a relação deformada com o tempo, a assedia .
“Ninguém está liberto de sentir estas paixões e , pese embora a Igreja, na sua sabedoria, confira virtudes equivalentes a estes vícios, a verdade é que todos podemos incorrer neles”.
A oração aparece assim como um caminho inevitável permitindo ” a conversão e renovação espiritual e vocacional” refere ainda.
A entrevista vai para o ar este domingo, depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no rádio Clube de Angra.