Papa defende desarmamento e reforço da “diplomacia multilateral” para superar conflitos

Foto: Lusa/EPA

 

O Papa apelou hoje ao desarmamento e ao reforço do diálogo “multilateral” para superar os conflitos , no seu primeiro encontro com os membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé.

“É necessário dar um novo fôlego à diplomacia multilateral e às instituições internacionais que foram desejadas e concebidas, em primeiro lugar, para remediar as relações conflituosas que possam surgir no seio da comunidade global”, referiu Leão XIV, durante a audiência que decorreu na Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano.

O pontífice reforçou os apelos de Francisco em favor de um desarmamento global, pedindo que os responsáveis políticos assumam a “vontade de deixar de produzir instrumentos de destruição e de morte”.

Após a saudação inicial do decano do Corpo Diplomático, Georges Poulides, embaixador de Chipre junto à Santa Sé, Leão XIV referiu que o pontificado começa durante o Jubileu dedicado à esperança.

“É um tempo de conversão e de renovação e, sobretudo, uma oportunidade para deixar para trás os conflitos e iniciar um novo caminho, animado pela esperança de poder construir, trabalhando juntos, cada um segundo as suas sensibilidades e responsabilidades, um mundo em que todos possam realizar a sua humanidade na verdade, na justiça e na paz”.

“Espero que isto possa acontecer em todos os contextos, a começar pelos mais provados, como a Ucrânia e a Terra Santa”, acrescentou.

O discurso apresentou a paz, a justiça e a verdade como “pilares da ação missionária da Igreja e do trabalho da diplomacia da Santa Sé”.

O Papa precisou que a paz é mais do que “mera ausência de guerra e de conflito” ou “uma pausa de repouso entre uma disputa e outra”.

“A paz constrói-se no coração e a partir do coração, erradicando o orgulho e as pretensões, e medindo a linguagem, pois também com as palavras se pode ferir e matar, não só com as armas”, indicou.

Leão XIV destacou a importância do diálogo entre religiões, para promover “contextos de paz”.

“Isto exige, evidentemente, o pleno respeito pela liberdade religiosa em todos os países, uma vez que a experiência religiosa é uma dimensão fundamental da pessoa humana, sem a qual é difícil, se não impossível, alcançar a purificação do coração necessária para construir relações de paz”, precisou.

O Papa evocou, em várias ocasiões, a ação do seu antecessor, Francisco, “sempre atento ao grito dos pobres, dos necessitados e dos marginalizados”, bem como aos desafios ligados à crise ecológica e ao desenvolvimento da inteligência artificial.

O Papa pediu, também, um combate sem tréguas às desigualdades globais e ao acolhimento dos migrantes.

“Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira: a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus”, referiu Leão XIV, durante a audiência que decorreu na Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano.

“De certa forma, a minha própria experiência de vida, desenvolvida entre a América do Norte, a América do Sul e a Europa, é representativa desta aspiração de atravessar fronteiras para encontrar pessoas e culturas diferentes”, assinalou Leão XIV, que foi bispo e missionário no Peru e antigo prior geral da Ordem de Santo Agostinho, com sede em Roma.

O Papa citou Leão XIII, pontífice entre 1878 e 1903, que o inspirou na escolha do nome para o pontificado, evocando a “primeira grande encíclica social, a Rerum Novarum”, de 1891.

“Na mudança de época que estamos a viver, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas”.

O Papa apresentou como condições para construir “sociedades civis harmoniosas e pacíficas” o investimento na família, “fundada na união estável entre o homem e a mulher”, e a defesa de cada pessoa, “especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão ou imigrante”.

Leão XIV, eleito a 8 de maio, deixou uma mensagem “a todos os povos e a cada pessoa desta terra, desejosas e necessitadas de verdade, de justiça e de paz”.

O discurso, em italiano, apontou aos “valores humanos e espirituais” que animam a ação internacional do Vaticano.

“Na sua ação diplomática, a Santa Sé é animada por uma urgência pastoral que a impele a intensificar a sua missão evangélica ao serviço da humanidade, e não a procurar privilégios”, referiu o pontífice.

O Papa apresentou a paz, a justiça e a verdade como “pilares da ação missionária da Igreja e do trabalho da diplomacia da Santa Sé”.

“Não é possível construir relações verdadeiramente pacíficas, mesmo no seio da comunidade internacional, sem a verdade”, sustentou.

184 Estados, incluindo Portugal, têm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta.

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