Arcebispo de Boston preside às festas do Senhor Santo Cristo, que hoje têm na Procissão da Mudança a primeira de quatro grandes celebrações
O Arcebispo de Boston, que vai fazer esta tarde o sermão no final da `Procissão da Mudança´, altura em que a Imagem passa para a guarda da Irmandade do senhor Santo Cristo dos Milagres, que zelará por ela até domingo à noite, afirma que vem aos Açores de coração aberto, sobretudo para “aprender e perceber” a tradição que marca grande parte do “povo que me está confiado”.
“A minha intenção é rezar pelas comunidades em Boston, que são destas ilhas. Porque estou cheio de gratidão por eles, pela sua presença na nossa sociedade de lá, pela sua fé, pelo seu testemunho, e mais, pelos seus contributos à sociedade de Boston”, afirmou D. Richard Henning ao Sítio Igreja Açores, naquela que é a sua primeira deslocação ao arquipélago.
“São muito importantes para nós. Então, para mim, a intenção é rezar por eles, pela sua fé, pela sua esperança. Mas qualquer petição começa com a verdade que Jesus Cristo está connosco” afirmou o arcebispo que antes esteve em Providence no estado norte americano de Rhode Island, onde há uma forte presença da comunidade açoriana, sobretudo da ilha de São Miguel e Santa Maria.
“O Senhor caminha connosco, quer conhecer as nossas vidas e os nossos corações” prosseguiu lembrando que ficou “impressionado” com a forma como as pessoas, que vinham no avião esta sexta-feira, de Rhode Island e de Boston, partilhavam o motivo da deslocação aos Açores.
“Diziam que vinham pagar uma promessa por causa de um familiar doente, de uma situação menos boa e isso indica que a pessoa está a relacionar-se com Cristo, como alguém verdadeiro. Não uma ideia, não algo que está longe , nos céus, mas alguém que faz parte da sua vida, com quem comunica, que a entende e que a está a ouvir”, explicitou deixando, contudo, um alerta.
“Diante desta fé precisamos é de não correr o risco de pensar que Deus opera na nossa vida de acordo com a nossa vontade”, disse ainda D. Richard Henning.
“ O milagre fundamental é o milagre de Cristo sozinho” enfatizou.
“O que Deus fez em Cristo, aqui está o milagre que está na base, na fundação, de tudo”.
Questionado sobre o momento que a Igreja agora atravessa, depois da eleição do novo Papa Leão XIV, o arcebispo de Boston considera que “são tempos de grandes oportunidades”.
“Parece-me que é um Papa que entende os dons do Papa Francisco, respeita esses dons, mas vai trazer novos dons para a Igreja. Parece-me que, na minha experiência, pelo menos nos Estados Unidos, que estão todos a recebê-lo com muita esperança”, referiu.
“Quando estudei a história da Igreja na universidade, o Papa Leão XIII pareceu-me um homem que foi eleito num momento de muita turbulência, de mudança na economia, um êxodo rural muito significativo com a vinda para as cidades de muita gente que ia trabalhar para as fábricas. Havia muitas coisas que afetaram a dignidade e a condição dos humanos. E parece-me, na minha experiência nos Estados Unidos e em Boston, que estamos outra vez numa situação similar”, explicou para justificar como ficou “impressionado” logo pela simples escolha do nome.
“Julgo que temos uma oportunidade para evangelizar de outra forma. Aquando da sua eleição a palavra que mais vezes me veio à mente foi serenidade e agora os primeiros pronunciamentos sobre tantos assuntos e os seus gestos estão a encher-me de esperança para o futuro” adianta. O arecebispo de Boston, natural do estado norte americano de Nova Iorque , onde nasceu há 61 anos, foi nomeado bispo em 2018.
A arquidiocese de Boston é uma das que tem mais jovens entre os residentes, o que para o arcebispo Henning é também um motivo de grande esperança.
Durante os seis meses em que é arcebispo desta arquidiocese tem procurado visitar as universidades e a percepção que tem é que depois do COVID os jovens buscam uma espiritualidade diferente.
“Os jovens adultos estão estudando a Bíblia, estão pedindo coisas mais profundas. Então, algo está acontecendo. Depois da experiência de sofrimento, Deus está falando com eles, lembrando-lhes que eles são mais, e que Deus tem mais por eles do que o que lhes oferece o mundo” precisou.
“O que me parece mesmo é que este grupo de jovens estão no processo de aprofundar a sua fé. E estão encontrando na Bíblia, particularmente, mas também nos sacramentos, o que o seu coração gostaria de saber”, afirmou.
“Quando me foi feito o convite eu estava originalmente em Providence e tinha gosto em vir aos Açores, pois onde eu estava existiam 10 paróquias que têm luso descendentes sobretudo dos Açores e eles falavam muito destas festas. Então, isso criou em mim o desejo de conhecer as tradições do povo que me tinha sido confiado” acrescentou o arcebispo de Boston que olha para esta viagem como uma peregrinação.
“Sinto-me um peregrino também. Sim, certamente. Esta experiência é de peregrinação, certo? Na verdade, estou um pouco nervoso porque tenho medo de oferecer uma homilia horrível que ninguém possa entender. Mas estou aqui não apenas para dar, mas para receber o testemunho da gente aqui”
“O Espírito Santo fará o seu trabalho. E, na verdade, o bispo Domingues também é um bispo muito pastoral, muito perto do seu povo, acompanhando-o. Então, ele é uma inspiração também” referiu ainda durante a entrevista em que se falou também das duas intenções pedidas insistentemente pelo Papa desde o inicio do seu pontificado: a oração pela paz e pela unidade da Igreja.
“A paz é uma palavra que tem vários níveis. E eu posso imaginar que o Papa entende todos os níveis ao mesmo tempo. Em Boston , posso afirmar que as pessoas têm uma sede de paz interior e por isso procuram cada vez uma vida espiritual”, disse D. Richard Henning.
Quanto à unidade, o prelado de Boston reconhece que há posições diferentes dentro da Igreja mas prende-se essencialmente com o seguimento do Evangelho.
“Na Igreja nós não descobrimos uma ideia, um programa, um mensagem que mudou tudo. Ela vem no evangelho e tem 2000 anos” referiu. “É essa Pessoa que temos de anunciar”.
“Somos seus instrumentos, apenas”, concluiu.
D. Richard Henning irá proferir o sermão desta tarde e amanhã presidirá à Eucaristia no Domingo do senhor santo Cristo e depois à procissão solene.