No mês em que a Igreja celebra de forma especial o Sagrado Coração de Jesus, Angra une-se a Roma, no Ano Santo da Esperança para celebrar o Jubileu dos Sacerdotes, a 22 de junho, na Catedral. São 13 os homenageados

A Sé de Angra vai tornar-se pequena para acolher o Jubileu dos Sacerdotes que integrará duas celebrações específicas: a ordenação de sete diáconos permanentes, formados nos últimos quatro anos no Seminário Episcopal de Angra e a celebração dos jubileus sacerdotais de 13 padres diocesanos, que assinalam 25, 50 e 60 anos de ordenação presbiteral.
No mês em que a Igreja assinala o Sagrado Coração de Jesus de forma solene, na terceira sexta-feira após o Pentecostes, o que, dependendo da data da Páscoa, pode variar entre 29 de maio e 2 de julho, a diocese insular decide celebrar o Jubileu dos Sacerdotes a 22 de junho, numa celebração presidida pelo bispo D. Armando Esteves Domingues.
O padre João Vieira Serpa , cuja homenagem foi feita no Pico no passado dia 16 de maio, na Paróquia de Santa Luzia, é o único que completa 60 anos de vida sacerdotal, toda ela exercida no Canadá. Também no continente Americano, mas nos Estados Unidos, há outro sacerdote que assinala bodas de ouro. É um dos três sacerdotes vivos do curso do Seminário de Angra de 1975. Trata-se do padre Daniel Oliveira Reis, que foi ordenado com os padres Agostinho Lima e João Maria Brum, ambos já homenageados pelas suas comunidades de adopção, como foi o caso do Nordeste que este domingo deu graças pelos 50 anos de vida sacerdotal do padre Agostinho Lima que ali serviu durante 49 anos. Excluindo a primeira colocação de um ano em São Roque e São Pedro de Ponta Delgada, como vigário paroquial, o presbítero, natural da Ribeira Seca da Ribeira Grande, serve desde 1976 a ouvidoria do Nordeste, onde fez quase tudo, numa vida dedicada à Palavra de Deus mas encarnando-a na vida concreta das associações locais, desde o futebol à cultura.
“É como tudo na vida, um dia atrás do outro, dias melhores, dias mais animados e outros menos; cada dia é sempre uma disputa e nós vamos respondendo ao que nos pedem” afirma o padre Agostinho Lima, que sempre se entusiasmou com os ventos do Concílio Vaticano II, que considera “não terem vingado como deveriam”.
“Eu acho que muito do Concílio não foi posto em prática e deveríamos revê-lo. Preocupamo-nos com coisinhas que não têm impacto nas nossas vidas e há outras que são tão mais importantes”, acrescentou, salientando que a Igreja hoje é necessariamente diferente da do seu tempo.
“Eu tinha um colega, o padre Cassiano, que dizia que a gente perde muito tempo com os programas pastorais quando o povo tem o seu plano próprio e contra ele nada podemos fazer. O que precisamos é de aprender a conjugação entre o que o povo gosta e aquilo que a Igreja lhe pode ensinar”, conclui o padre Agostinho Lima que se ordenou com o padre João Maria Brum, cónego emérito da Sé de Angra. Primeiro na Matriz de São Sebastião, depois na Fajã de Baixo e mais tarde em São Pedro, sempre em Ponta Delgada, o sacerdote com 76 anos não esconde a emoção de ser padre. Foi durante muitos anos professor de Educação Moral e Religiosa Católica e capelão do estabelecimento prisional. Nas Laranjeiras, um dos lugares onde o padre João Maria celebrava, na Igreja do Imaculado Coração de Maria, todos o conhecem pelo nome. O seu lema foi sempre o da proximidade.
“Nunca me arrependi nestes 50 anos, em dia nenhum, ser padre. Entreguei-me de alma e coração às pessoas das paróquias onde estive colocado, procurando sempre fazer caminho com o povo. Aproveitei as tradições deste povo para por em marcha uma igreja Povo de Deus que trazia na minha cabeça. Diria que se há padres felizes eu sou um deles, perfeitamente realizado”, afirma o sacerdote que partilha com o amigo e colega de curso Agostinho Lima a paixão pelo futebol, em especial pelo Benfica.
No Jubileu deste Ano Santo da Esperança há 9 sacerdotes que celebram as suas bodas de prata. Na verdade são 10, mas há um que está dispensado do ministério por pedido próprio há mais de uma década. Não deixou o grupo que prima por uma irmandade fraternal, mas na verdade seguiu outro caminho.
De entre eles o mais velho de idade é o padre Marco Gomes. Natural de Santa Maria ainda estudou Engenharia Eletrotécnica em lisboa, no Instituto Superior Técnico, mas a vocação haveria de ser outra. Nascido em Santa Maria, o terceiro filho de quatro, de uma família profundamente católica, enveredou pelo Seminário. Ao refletir sobre este quarto de século, fala de uma jornada onde se misturam o estudo, a vida comunitária no seminário e o serviço em diversas paróquias, incluindo São Mateus da Calheta na Terceira, São Roque do Pico, Fajã de Cima, Santa Clara e São roque em São Miguel e, no último ano, na Matriz da Horta e Flamengos.
“É mais de metade da minha vida. Olho para trás e vejo um percurso moldado por Deus, onde a fraternidade e os desafios se tornaram ferramentas para a vida”, afirma.
“Há etapas e momentos de alegria e outros que são de sofrimento. Há momentos de perda, de derrota, de experiência do pecado, de solidão até, mas há momentos superiormente extraordinários. A amizade, a bíblia aberta, preparada e servida, a disponibilidade de tantas pessoas, a abundância do amor e da bondade de Deus, a importância da oração, da espiritualidade e a procura da beleza só me leva a um sentimento de gratidão” adianta ainda.
O padre Paulo Areias, atualmente em missão na Alemanha, destaca a fidelidade de Deus: “Valeu a pena dizer sim. Mesmo longe, em Münster, celebro a fé com os portugueses. A Igreja é universal e caminha connosco, onde quer que estejamos”. Depois de ter sido ordenado esteve no Pico durante 12 anos.
Entre os sacerdotes que celebram 25 anos estão dois que esperaram um ano para serem ordenados. Um deles é Teodoro Medeiros. Cinéfilo assumido, é doutor em Sagrada Escritura. Formou-se na Universidade Urbaniana em Roma. Deu aulas no Seminário, atividade que conjuga com a paróquia. Atualmente é pároco em duas paróquias da ouvidoria de Angra, terra Chã e São Bartolomeu e diretor do Serviço Diocesano da palavra e Apostolado Bíblico. Ao refletir sobre a sua escolha vocacional faz um balanço claro: “Voltaria a fazer a mesma opção. Foram muitos os desafios, mas também muitos os momentos em que senti a graça de Deus”.
“Conheci tantas pessoas; fiz tantas coisas e foram tantos os desafios e os momentos em que senti a graça de Deus sobre mim e sobre outros que me eram próximos. Relembro os 20 segundos que o Papa Francisco segurou a minha mão”, diz.
Entre os colegas de curso e de ano tinha o cónego Adriano Borges, um dos três irmãos ordenados em 2000 por D. António de Sousa Braga. No balanço destes 25 anos, traz o sabor da experiência internacional e do serviço nas ilhas: de Santa Maria à Terceira, passando por Roma.
“Foi um grande enriquecimento pessoal. Sinto-me abençoado por ter vivido tantas etapas com o povo de Deus”, afirma o sacerdote que é licenciado em História pela Pontifica Universidade Gregoriana.
“Estes 25 anos foram mesmo 25 anos, com momentos fantásticos mas também outros muito difíceis” disse, depois de lembrar os sítios por onde passou: Santa Maria, Roma, a gestão financeira da Diocese como ecónomo, missão que acumulou com o curato de São Carlos, em Angra, o Santuário do senhor Santo Cristo dos Milagres e agora a Matriz de São Sebastião, cuja torre sineira foi apelidada por Nemésio de relógio do Atlântico. È também o diretor do Serviço Diocesano da Pastoral escolar.
O padre José Borges, ouvidor de Vila Franca do Campo, recorda com emoção o espírito de fraternidade no tempo de ordenação.
“Vivíamos uma Igreja renovada, cheia de esperança. Éramos diferentes, mas profundamente unidos na vocação. O reencontro em Roma este ano, para assinalar o Jubileu da esperança conjugado com as nossas bodas de prata, foi um sinal de que o tempo não apaga a partilha de um ideal comum, que é o sacerdócio em Cristo”.
Já o padre Paulo Borges, irmão de sangue, recorda estes 25 anos “numa perspetiva mais pessoal.
“As dificuldades nunca me afastaram da minha vocação. Pelo contrário, sempre as vi como oportunidades de crescimento. A Igreja está viva e em constante transformação”, afirma. Paroquiou nas Bretanhas em São Miguel, nos Arrifes e Vila Franca. Atualmente é capelão do Hospital do Divino Espirito Santo e dirige a Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde.
O padre Roberto Cabral, oriundo da Fazenda do Nordeste, vê no sacerdócio a confirmação do seu “sim”.
“O dia 25 de junho foi a concretização de um sonho, vivido com a comunidade, com dúvidas e alegrias, e com a certeza de estar a servir”. Hoje pároco na Conceição e na Ribeira Seca, na ouvidoria da Ribeira Grande, diz que vive “um misto de sentimentos” porque ao longo desta caminhada- em São Jorge, no primeiro ano no Topo e Santo Antão, “que foi uma experiência de grande crescimento”, depois cinco meses como Vigário em São Pedro de Ponta Delgada e depois na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios na Povoação- “vivi muitas experiências”, “algumas duras”, mas os “momentos bons superam em larga escala ao que foram momentos de dúvida e de fragilidade”.
“O sentimento só pode ser de profunda gratidão pelo dom do sacerdócio e por cada uma das pessoas que me ajudaram a crescer”.
O padre Norberto Brum é natural de Vila Franca. Pároco em Nossa Senhora de Fátima, no Lajedo, em Ponta Delgada, dirige atualmente a Casa do Gaiato e fala da entrega diária: “Mesmo com falhas, continuo a renovar o meu compromisso. Tenho o coração cheio de gratidão e alegria por ter sido chamado”.
“Sou uma pessoa feliz, um padre realizado e esta escolha que o Senhor fez de mim valeu a pena, com momentos mais altos e mais baixos, de maior angústia e de tensão, mas de entrega e total disponibilidade para as comunidades por onde passei”, afirma.
“Estou certo de que estes 25 anos não foram de uma fidelidade a 100% como desejaria e sonhava no dia da ordenação mas continuo a fazer este esforço diário de renovar o meu compromisso, o sacerdócio, a entrega e de cheirar as mãos e vislumbrar o cheiro do óleo do dia da ordenação” explicita.
Ainda na primeira colocação que recebeu, o padre Marco Martinho está na Madalena do Pico, paróquia que acumula com a reitoria do santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso. Natural do Faial sempre esteve ao serviço na ilha do outro lado do canal.
“Deixei que a paróquia fizesse o padre. São 25 anos de altos e baixos, mas sempre com o desejo de servir com alegria e amor. Tenho trabalhado com todos. Tem havido alguns espinhos, momentos de calvário que terminam sempre com a ressurreição”, afirma.
“Hoje como há 25 anos tenho a alegria de ser padre, gosto de ser padre e quero continuar a ser padre para servir onde o senhor Bispo me colocar e puder caminhar com este povo de Deus”, conclui.
Os jubileus serão celebrados na Sé e contarão com a presença de vários sacerdotes de outras ilhas, seguindo-se depois um convívio no Seminário de Angra.
O Jubileu dos sacerdotes é o tema do programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo , depois do meio dia na Antena 1 Açores e do Rádio Clube de Angra.