D. José Avelino Bettencourt destaca raízes familiares e dimensão espiritual da Festa do Senhor Santo Cristo da Caldeira

Representante diplomático da Santa Sé nos Camarões e Guiné Equatorial preside este fim de semana à principal festa de verão da ilha de São Jorge

Foto: D. José Avelino Bettencourt na Ordenação Episcopal diante do Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, Vaticano

O Núncio apostólico nos Camarões e Guiné Equatorial, vai presidir este fim de semana à Festa do Senhor Santo Cristo da Caldeira, na ilha de São Jorge, e sublinha que esta celebração “toca nas raízes da família” e constitui uma afirmação viva da fé, num lugar “místico, de gerações de devotos, onde Cristo é esperança”.

O arcebispo, numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que recomeça este domingo e será transmitido na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, depois do meio-dia,  recorda que, desde jovem, a sua família visitava a Caldeira e cultivava a devoção ao Senhor Santo Cristo, tradição que considera marcante.

“É um lugar que tem acolhido gerações de fiéis, com uma natureza extraordinária e uma história de fé viva, que continua a atrair cada vez mais pessoas”, afirmou.

Para D. José Avelino Bettencourt, peregrinar até ao santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira “requer decisão e desprendimento”, porque implica deixar o conforto de casa e caminhar até ao encontro da fé.

“É uma oportunidade para renovar a vida cristã, para homenagear Cristo e fortalecer a esperança no Ressuscitado”, sublinhou, destacando o dinamismo religioso vivido este ano, com jubileus de famílias, músicos e jovens, além da visita da imagem a lares e centros de saúde.

O Núncio destacou ainda o esforço do clero jorgense e do bispo de Angra na promoção da devoção, que tem reunido fiéis de várias gerações.

A mensagem que levará à celebração, inspirada no próprio lema dos Santuários diocesanos- Cristo, nossa esperança” (1Tm1) será centrada em Cristo: “Somos convidados a renovar a fé no Cristo ressuscitado, aquele que aponta para a vida eterna e que nos dá esperança em todos os tempos”.

Interpelado sobre a experiência pastoral em África, onde está colocado como representante diplomático da santa Sé, D. José Avelino Bettencourt fez questão de relacionar a experiência desta festa nos Açores com a realidade que acompanha diariamente em África.

“Em África há uma fé viva e generosa, muitas vocações e uma Igreja presente na educação, na saúde e no apoio aos refugiados. É um testemunho que nos inspira também aqui”, referiu.

Nos Camarões, país bilíngue de tradição francesa e inglesa, com mais de 250 etnias e marcado por três conflitos internos, a Igreja Católica representa cerca de 25% da população e é chamada a ser sinal de esperança em meio a divisões.

“Lá temos regiões separatistas em guerra há oito anos;  no norte enfrentamos os ataques do Boko Haram e, além disso, recebemos mais de um milhão de refugiados vindos do Chade e da República Centro-Africana”, explicou o Núncio, sublinhando o esforço das dioceses e instituições católicas em apoiar deslocados e famílias em risco.

Na Guiné Equatorial, país de tradição espanhola e maioritariamente católico, o contexto é mais estável, mas as necessidades sociais continuam a ser grandes. “É uma sociedade muito ligada à Igreja e às suas tradições. A Igreja é respeitada e desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, na educação e na saúde”, afirmou.

O arcebispo destacou que, em ambos os países, a fé se vive muitas vezes em condições adversas.

“Há comunidades que caminham três ou quatro horas a pé para participar numa celebração, muitas vezes atravessando zonas de risco, onde podem ser atacados. E ainda assim, chegam com alegria, rezando o terço pelo caminho e vivendo a missa com grande intensidade.”

A diplomacia vaticana, acrescentou, tem precisamente esse papel de aproximar, apoiar e dar visibilidade às populações esquecidas.

“Uma visita do núncio apostólico pode chamar a atenção das autoridades e mobilizar apoios. A Igreja tem a graça de estar presente onde outras instituições não chegam, com escolas, centros de saúde e apoio social. Mesmo com poucos recursos, consegue unir comunidades e dar-lhes dignidade e esperança.”

Para D. José Avelino Bettencourt, esta visita à Caldeira do Senhor Santo Cristo é também um momento de ligação entre a fé vivida nas ilhas e a missão africana: “Esta peregrinação será uma autoafirmação da igreja doméstica que recebi dos meus pais e avós, mas é também uma partilha com a Igreja que sirvo em África. É uma forma de mostrar que todos fazemos parte da mesma missão, com exemplos vivos que dão sentido à nossa vocação cristã”.

A entrevista pode ser ouvida na integra, no próximo domingo no programa de rádio Igreja Açores que regressa depois do verão na Antena 1 Açores, no Rádio Clube de Angra, na Rádio Pico, na Rádio Canção Nova e nas rádios da ARIC e da diáspora açoriana nos Estado Unidos da América e do Canadá. Na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra é depois do meio dia de domingo, a seguir à transmissão da Missa da Sé de Angra.

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