Diocese propõe aprofundamento do Batismo

A escolha de Santa Maria, a primeira ilha a ser descoberta em 1427, representa simbolicamente um desejo de regresso à origem, “não geográfica mas a Jesus”

Foto: Igreja Açores /José Cabral00

A Diocese de Angra prepara-se para abrir oficialmente o Ano Pastoral no próximo dia 5 de outubro, em Santa Maria, com uma celebração que terá como tema central a pergunta “Cristão, que dizes de ti mesmo?”. O lema foi escolhido a partir da última Assembleia conjunta dos Conselhos Presbiteral e Pastoral Diocesano e pretende lançar um desafio de reflexão a todos os fiéis. Esta abertura marca também o início de um caminho de três triénios mais amplo que conduzirá a diocese até 2034, ano em que se assinalam os 500 anos da sua criação e que será celebrado como jubileu.

Recorrendo a uma metáfora desportiva, o bispo de Angra no passado domingo, na Festa de Nossa Senhora dos Milagres, na Serreta, convocou todos para a “equipa principal” desta caminhada de fé: pais, catequistas, responsáveis paroquiais, movimentos, homens e mulheres de boa vontade, idosos e doentes.

“Maria vai connosco como primeira discípula. Ela lembra-nos que o estilo de Deus é a proximidade que gera unidade na Igreja e torna fértil o terreno da missão”, destacou.

O bispo reforçou que a Igreja não pode viver de espectadores, mas de discípulos de Cristo ativos: “Somos chamados a aprofundar a responsabilidade pessoal nascida do batismo, porta para a missão no seio da mãe Igreja”.

Desafiando os fiéis a um compromisso de renovação espiritual e pastoral, D. Armando Esteves Domingues pediu que cada cristão reflita sobre a fé que vive e testemunha na família, na paróquia e na Diocese. O objetivo é preparar uma Igreja “Profética, Santa, Misericordiosa e Missionária” para celebrar os 500 anos.

E acrescentou: “O cuidado da Igreja não pode ser apenas espiritual, mas também cívico e social, para humanizar o mundo e não deixar ninguém acomodar-se”.

O padre Jacob Vasconcelos, diretor do Serviço Diocesano da Coordenação Pastoral e responsável, juntamente com a Equipa Sinodal, pela elaboração dos materiais de apoio ao ano pastoral, afirma que a proposta tem como objetivo fundamental ajudar cada batizado a repensar a sua identidade cristã e a redescobrir o Batismo como porta para a fé e fundamento da missão.

“É uma questão que, por um lado, é introspetiva, que leva a pessoa a refletir sobre o seu ser, mas também sobre o seu agir. Quanto maior for a consciência que o cristão tiver de si mesmo e da sua missão, mais comprometido será com a vivência do Evangelho nos ambientes em que se encontra”, afirmou o sacerdote ao Sítio Igreja Açores.

O responsável destaca que este ano terá uma forte acentuação batismal, convidando todos a revisitar o significado do Batismo, entendido como sacramento de entrada na vida cristã, fonte das diversas vocações e ponto de partida para a missão.

“O Batismo é a porta dos sacramentos e dele advêm as vocações concretas que cada um vive. Cada fiel é chamado a redescobrir o sentido do seu próprio Batismo, a aprofundar as razões do seu acreditar mediante a formação permanente e a reconhecer o seu lugar na Igreja”, acrescenta.

Esta redescoberta, sublinha, não se limita a um crescimento individual, mas deve refletir-se também na vitalidade das paróquias, ouvidorias, serviços e movimentos.

“Quando cada um descobrir quem é diante de Deus, quem é na Igreja e quem é no mundo, redescobrirá não só a sua missão pessoal, mas contribuirá também para renovar as estruturas de comunhão”, defende.

Entre os principais desafios apontados para este percurso, o padre Jacob Vasconcelos refere a necessidade de integrar melhor os jovens na vida comunitária, sobretudo depois de experiências marcantes como a Aldeia da Esperança, aproveitando a sua energia e ousadia para revitalizar comunidades que, no contexto atual, tendem a apresentar um perfil mais envelhecido. As famílias, por sua vez, são vistas como peças centrais deste processo, porque nelas germinam as diversas formas de vocação e a fé é transmitida às novas gerações.

“Enquanto igrejas domésticas, são essenciais em todo este caminho e merecem carinho, atenção e acompanhamento”, frisa. Também os idosos, frequentemente esquecidos, são valorizados como portadores de uma sabedoria que pode iluminar os mais jovens e ajudar a orientar os caminhos da Igreja.

Para orientar esta caminhada, a Diocese de Angra propõe três grandes linhas de ação. A primeira é a preparação e redescoberta do Batismo, que passará pela criação de Centros de Preparação para o Batismo e pela realização de retiros e encontros ligados ao primeiro anúncio da fé. A segunda é a corresponsabilidade batismal e a participação sinodal, através da dinamização dos conselhos pastorais e do lançamento de escolas de formação nas ouvidorias. A terceira é a consolidação da formação permanente, nomeadamente com a aposta na Escola Diocesana de Formação, que oferecerá o Curso Básico de Teologia, formações para ministérios laicais e três catequeses abertas a todo o Povo de Deus.

Este percurso pastoral será avaliado ao longo do ano, mas a meta é clara: que todos os cristãos sejam não apenas destinatários da evangelização, mas também membros vivos e ativos da comunidade eclesial.

“As paróquias, ouvidorias, serviços e movimentos precisam de conversão constante, de voltar sempre a Jesus, mas esta conversão só acontece quando há um processo pessoal”, sublinha o sacerdote.

O caminho até 2034 será organizado em três grandes triénio: o primeiro, que agora se inicia, centrado no anúncio; o segundo, dedicado à caridade; e o terceiro, à celebração. Esta estrutura pretende conjugar memória e futuro, recordando a história da diocese mas também projetando-a como comunidade missionária, renovada e próxima dos mais frágeis. A Assembleia Conjunta dos Conselhos recordou, nesse sentido, que o apostolado deve ser marcado pela amizade e pela proximidade, procurando reconhecer os “novos rostos dos pobres”, como os jovens em dificuldade, os migrantes, os dependentes e os reclusos.

A escolha da ilha de Santa Maria para a abertura do Ano Pastoral tem um valor simbólico, uma vez que foi a primeira ilha a ser descoberta e povoada. Até 2034, por sugestão das ouvidorias, a abertura e o encerramento de cada ano pastoral decorrerão em ilhas diferentes, culminando, no jubileu, numa grande celebração na cidade de Angra do Heroísmo, sede da catedral diocesana e coração da vida eclesial açoriana.

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