O Grupo Vita, organismo de acompanhamento das situações de violência sexual na Igreja Católica em Portugal, apresenta hoje dois “programas lúdicos”, para crianças, na sequência do trabalho desenvolvido para “criar uma Igreja mais segura, protetora, mais acolhedora”.
“É importante envolver de forma ativa as crianças neste processo de prevenção. Não significa que a responsabilidade de se manterem seguras seja das crianças, a responsabilidade é nossa, mas as crianças devem ter alguns conhecimentos e algumas competências”, disse a coordenadora do Grupo Vita, em entrevista à Agência Ecclesia.
Rute Agulhas observa que da mesma forma que se faz “prevenção rodoviária com as crianças”, que se ajuda a perceber o que fazer em caso de sismo, é importante também que “elas saibam reconhecer eventuais situações abusivas”, que saibas como reagir, “como e a quem revelar”, que são “os grandes objetivos” dos novos programas.
Os dois programas são o ‘Girassol’, que se destina a crianças dos 7 aos 9 anos de idade, o ‘Lighthouse Game’, é um jogo digital para crianças dos 10 aos 12 anos, “que é mais apelativo para poderem movimentar-se no mundo digital”, e vão ser apresentados hoje pelo Grupo VITA e pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), pelas 18h30, no Externato São José, no Restelo, em Lisboa.
Segundo a psicóloga, os “grandes temas” que os novos programas abordam são “os temas que a literatura indica como especialmente importantes nestas temáticas”, “no fundo fazer escolhas saudáveis”, nomeadamente o tema do corpo, dos segredos, das emoções, “o tema do dizer sim, do dizer não, do pedir ajuda”.
“Estes programas são lúdicos, as crianças aprendem a brincar, a rir, a pular, a fazer atividades ativas e foram conduzidos e construídos de forma partilhada também com um conjunto de embaixadores da Igreja, nós pedimos a alguns professores de Educação Moral e Religiosa Católica, alguns catequistas, também algumas religiosas que fizeram aqui uma revisão, e que foram acompanhando a elaboração dos programas”, desenvolveu Rute Agulhas.
A coordenadora do Vita, Grupo de Acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, indicou que “os grandes destinatários” dos programas ‘Girassol’ e ‘Lighthouse Game’ são sobretudo as escolas, a catequese e os escuteiros, e adianta que vão “abrir ações de formação”, durante o mês de outubro, para todas as pessoas que “estejam interessadas em dinamizar estes programas”, e implementá-los com mais segurança; cada programa tem uma formação de cerca de três horas, online e também presencial.
Rute Agulhas salienta que prevenção do abuso sexual “não é falar de sexo, não é falar de sexualidade, nem é falar de ideologia de género”, mas é falar de segurança, de proteção, “de limites, de respeito, de consentimento”, e, no fundo, dotar as crianças de um conjunto de conhecimentos e de competências que permitam, se forem vítimas de alguma situação, ou se souberem que alguém vítima, “saber o que fazer e o que não fazer”, e não manter segredo e pedir ajuda.
“A prevenção não é uma ação pontual, é um processo contínuo que demora algum tempo para que as crianças interiorizem e consolidem todas estas aprendizagens; Ou seja, idealmente, um professor, um catequista, deverá fazer uma atividade por semana, falamos de todo um caminho durante um ano letivo”, explica a psicóloga, no Programa ECCLESIA desta terça-feira, que vai ser transmitido na RTP2.
A APEC – Associação Portuguesa de Escolas Católicas -, e o Secretariado Nacional de Educação Cristã (SNEC), da CEP, são parceiros do Grupo Vita e foram “muito importantes na fase de construção” dos dois programas e nos pré-testes, “com mais de 50 crianças”, “o olhar delas e as sugestões que deram foram muito bem-vindas”, para além da revisão dos embaixadores.
O Grupo VITA, na sua página na internet, já tem disponíveis dois “pequenos” vídeos de apresentação dos programas ‘Girassol’ e do ‘Lighthouse Game’, que foram desenvolvidos com o apoio da Conferência Episcopal Portuguesa e a parceria do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
Desde janeiro de 2021, a Igreja Católica em Portugal tem novas diretrizes para a “proteção de menores e adultos vulneráveis”, sublinhando uma atitude de vigilância nas várias atividades pastorais e de colaboração com as autoridades.
Durante o ano de 2022, a CEP pediu um estudo sobre casos de abuso sexual na Igreja em Portugal nos últimos 70 anos a uma Comissão Independente, que validou 512 testemunhos relativos a situações de abuso, que seria apresentado em fevereiro de 2023.
A psicóloga Rute Agulhas explica que têm trabalhado para “tentar criar uma Igreja mais segura, mais protetora, mais acolhedora”, e destaca que “em nenhum país do mundo existem programas de prevenção na área da violência sexual”, especialmente desenhados para a Igreja Católica. “Estes programas são inovadores, pretendemos levá-los a conhecer além fronteiras, temos, neste momento, já o Brasil e outros países interessados em poder aproveitar estes dois anos de investigação e trabalho que, no fundo, resultam nestes dois programas, e temos tido da sociedade civil alguma procura em termos de ações de capacitação, sejam câmaras municipais, comissões de proteção de crianças e jovens, a própria Direção-Geral da Educação já nos pediu colaboração também”, acrescentou a coordenadora do Grupo Vita. O Grupo VITA está a organizar um congresso internacional subordinado ao tema “Da Reflexão à Ação: O Papel da Igreja Católica na Prevenção e Resposta à Violência Sexual”, dia 27 de novembro, no Santuário de Fátima. Os pedidos de ajuda dirigidos ao Grupo de Acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portuga podem ser encaminhados para a linha de atendimento telefónico 915 090 000 ou através do formulário para sinalizações disponível no site www.grupovita.pt. |
(Com Ecclesia)