Horta recorda 200 anos da transferência da Igreja Matriz para o Colégio dos Jesuítas

Iniciativa foi promovida pela ouvidoria e paróquia do Santíssimo Salvador e reuniu vários especialistas

Foto: Igreja Açores/MM

A Paróquia do Santíssimo Salvador da Horta celebrou esta segunda-feira, 20 de outubro, os 200 anos da transferência da antiga Igreja Matriz para a Igreja do Colégio dos Jesuítas, atual Igreja Matriz da cidade. A efeméride foi assinalada com uma Missa Solene, com a participação do Clero da ilha e da ilha do Pico e um ciclo de conferências dedicadas à história, arte e património religioso da ilha do Faial.

A noite comemorativa começou com uma Missa Solene às 19h00, presidida pelo Monsenhor Saldanha, e prosseguiu com um ciclo de conferências às 20h30, que reuniu especialistas em história e património religioso. O evento procurou evocar a memória de dois séculos de vida comunitária e pastoral, recordando não apenas os espaços sagrados, mas também os muitos religiosos e leigos que contribuíram para a missão da Igreja na ilha.

Na abertura, o Monsenhor Saldanha destacou a importância de preservar a memória de um espaço “arquitetónico e litúrgico que já não existe”, lembrando que a antiga Igreja Matriz — demolida no século XIX — “serviu como lugar de encontro da comunidade e foco de difusão do Evangelho na Horta”.

As intervenções científicas trouxeram diferentes perspetivas sobre a história do património religioso faialense.

A historiadora Maria João Pereira Coutinho, investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, centrou a sua comunicação no ciclo pictórico dedicado a Inácio de Loyola presente na atual Igreja Matriz, salientando o valor artístico e simbólico desta iconografia e a necessidade da sua preservação.

Foto: Igreja Açores/MM

O jesuíta António Júlio Trigueiros, S.J., doutorado em História Moderna, apresentou a génese e o papel dos colégios da Companhia de Jesus em Portugal, destacando o contributo educativo dos jesuítas e refletindo sobre as consequências da sua expulsão no século XVIII para o ensino nacional.

“Procurei trazer algumas considerações acerca da obra do professor Nuno Palma sobre as razões do atraso da educação em Portugal, particularmente o significado que teve a extinção da rede de colégios no século XVIII e depois o preço que se pagou com essa paralisação que não foi substituída por nenhum outro sistema. De tal maneira, que só no século XX se voltou a ter no ensino secundário o mesmo número de alunos que se tinha no século XVIII”.

Já o investigador faialense Tiago Simões da Silva, doutorando na Universidade Nova de Lisboa, apresentou novos dados documentais sobre a primitiva Igreja Matriz, demolida em 1842, procurando reconstituir a sua estrutura, capelas e confrarias a partir de registos históricos.

“Não temos iconografia nem a planta da igreja, nem muitas informações sobre ela e hoje o que tentamos fazer é a partir da documentação- registos de óbito, livros de despesas e outros- identificar as capelas que existiam, as confraria e a partir daí perceber a dinâmica da importância que a paróquia tinha e que essas várias instituições sediadas na paróquia tinham, as famílias que estavam ligadas , etc”.

A efeméride evocou um dos episódios mais marcantes da história religiosa e urbana da Horta. A antiga Igreja Matriz, erguida no início do século XVI e descrita por Gaspar Frutuoso como “mui fresca, de três naves, com seis colunas por cada banda”, foi sucessivamente destruída por ataques de corsários e catástrofes naturais. Em 1825, a sede paroquial foi transferida para a igreja do Colégio dos Jesuítas, num ato que marcou o início de uma nova etapa na vida espiritual da cidade.

Duzentos anos depois, a Paróquia do Santíssimo Salvador da Horta continua a ser um dos pilares da vivência religiosa e cultural do Faial, guardando viva a memória do seu passado e reforçando o compromisso com a preservação do seu património.

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