No dia da Solenidade de Todos-os-santos as crianças pedem “pão por Deus”. Escolas públicas e privadas reavivam a tradição

As ruas de algumas localidades dos Açores voltam a encher-se no dia 1 de novembro, na Solenidade de Todos-os-Santos com o colorido e a alegria das crianças que celebram o tradicional “Pão por Deus”, uma das mais antigas manifestações populares de fé e solidariedade do arquipélago, que entrou há muito em concorrência com a importada noite das bruxas, ou “halloween”, por influência norte-americana.
Com cestos e saquinhos de panos, decorados com flores de papel e fitas coloridas, os mais pequenos andam de porta em porta pedindo o habitual “Pão por Deus”, recebendo em troca doces, frutos secos, bolos e, em alguns casos, muito raros, pequenas ofertas monetárias.
A tradição, profundamente enraizada na cultura açoriana, tem origem na prática cristã de partilha associada à Festa de Todos os Santos, celebrada a 1 de novembro. Historicamente, recorda também o espírito de entreajuda que se fortaleceu após o terramoto de 1755 em Lisboa, quando os sobreviventes pediam pão e orações de casa em casa
Nas escolas e paróquias, muitas comunidades organizam atividades temáticas para explicar às crianças o significado religioso da data, muitas delas antecipadas para esta sexta-feira, já que o dia 1 de novembro é feriado.
A comemoração de todos os fiéis defuntos remonta ao final do primeiro milénio: foi o abade de Cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.
Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915)