Monsenhor António Manuel Saldanha aguarda confirmação formal como postulador da causa em Roma

Um ano após a clausura da fase diocesana do processo de beatificação da jovem Maria Vieira, o processo já se encontra em Roma, entregue ao Dicastério para as Causas dos Santos. Aguarda-se agora apenas a confirmação formal da nomeação de monsenhor António Manuel Saldanha como postulador da causa na sua fase romana.
O sacerdote, natural dos Açores e com larga experiência no Vaticano neste Dicastério da Cúria romana, explicou que o processo foi “devidamente entregue” e que “apenas falta a ratificação da nomeação feita pelo senhor bispo, autor da causa, para que eu possa ser oficialmente reconhecido como postulador”.
“Vou esta semana a Roma apresentar a documentação da nomeação e aguardaremos a confirmação, que já está dada informalmente por parte do Dicastério”, afirmou monsenhor António Manuel Saldanha, sublinhando tratar-se de uma missão que o enche de orgulho e responsabilidade.
“Sinto-me um privilegiado e serenamente feliz. Era um sonho antigo, mas que nunca manifestei. Por uma série de felizes coincidências, foi-me possível regressar à diocese e assumir esta causa, que tanto significa para todos os açorianos”, acrescentou.
Com o processo já nas mãos do Dicastério, segue-se agora o pedido do voto de validade jurídica, uma etapa que confirmará a regularidade e consistência dos trabalhos realizados na diocese de Angra.
“Se o voto for positivo — e acredito que será —, será nomeado um relator, que orientará a redação da Positio, um documento-síntese que reúne todos os testemunhos e textos sobre Maria Vieira”, explicou.
Posteriormente, o processo será analisado por teólogos, historiadores, bispos e cardeais antes da decisão final do Papa. Como se trata de um caso de martírio, o milagre é dispensado para a beatificação, o que poderá acelerar o processo.
“Penso que este processo poderá estar concluído em três ou quatro anos, porque não há necessidade de milagre e a documentação é concisa e clara”, adiantou o postulador.
Para monsenhor Saldanha, o elemento mais marcante na vida de Maria Vieira é o seu testemunho de perdão.
“O mais belo na vida dela é a capacidade de perdoar. Mesmo vítima de uma agressão violenta, e sendo ainda adolescente, teve a grandeza de perdoar antes de morrer. É o segredo da sua fama de santidade”, afirmou.
Maria Vieira da Silva, natural da freguesia de São Sebastião, na ilha Terceira, morreu a 5 de junho de 1940 ao resistir a uma tentativa de violação. O gesto de perdão ao agressor, proferido antes da morte, marcou profundamente a comunidade local e gerou uma devoção espontânea que perdura há mais de oito décadas.
“A história de Maria Vieira é também um apelo à dignificação da mulher e à superação da violência. É uma estrada difícil, mas necessária, e ela mostra-nos que é possível responder ao ódio com amor e ao mal com perdão”, sublinhou o monsenhor.
A clausura da fase diocesana, celebrada há um ano na Igreja de São Sebastião, marcou um momento histórico para a Diocese de Angra, por se tratar da primeira causa de beatificação instruída integralmente nos Açores.
O bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, destacou então que “a relevância desta causa está na oferta de uma lógica evangélica: onde deveria haver ódio há amor; onde deveria haver vingança há misericórdia”.
Com o processo entregue em Roma, a diocese e os fiéis açorianos vivem agora um tempo de expectativa e oração.
“Estamos todos de parabéns; agora permaneçamos unidos em oração, pedindo a Deus que de Roma nos venham boas notícias”, concluiu monsenhor António Manuel Saldanha.
O entusiasmo pelo processo percorreu três episcopados, mas só em fevereiro de 2018, D. João Lavrador deu indicações para o processo andar com a nomeação da Comissão Histórica e da Comissão Teológica, o que permitiu chegar agora a esta fase.