Encontro Ibérico decorreu no Funchal, destacando “presença significativa” que se tem construído no mundo digital

Os bispos de Portugal e Espanha que acompanham o setor dos Media defenderam hoje a urgência de “saber comunicar”, adaptando a linguagem aos novos media e combatendo a desinformação com profissionalismo e rigor.
“Há esta tentação de cair na lógica das redes sociais, muitas vezes, nos grandes meios de comunicação. É um problema de lógica, a lógica das redes sociais, onde tudo vale”, alertou D. Nuno Brás, bispo do Funchal, no final do Encontro Ibérico das Comissões Episcopais das Comunicações Sociais, que decorreu na Madeira desde segunda-feira.
Um dos focos centrais dos trabalhos foi o combate à desinformação, às ‘fake news’ (notícias falsas) e aos riscos da inteligência artificial.
D.Nuno Brás alertou para o perigo de os próprios “grandes meios de comunicação” institucionais se deixarem influenciar pela velocidade digital.
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais defendeu o papel do jornalismo rigoroso, afirmando que “os meios de comunicação social são aqueles para onde qualquer pessoa se pode dirigir para, à partida, ter uma informação verdadeira”.
O anfitrião do encontro destacou que a Igreja “sempre comunicou”, através da oralidade ou das artes, e que o desafio atual implica usar todas as ferramentas disponíveis.
“A Igreja tem de deitar mão de todos os meios de comunicação”, incluindo “os mais contemporâneos” e “a linguagem própria das redes sociais”, precisou.
Na conferência de imprensa conclusiva, após a divulgação do documento final, o bispo do Funchal admitiu que esta transformação cultural não será imediata na vida das comunidades locais.
“Se me está a perguntar se a partir de amanhã as paróquias vão comunicar de uma forma diferente, as dioceses vão comunicar de uma forma diferente, bom, não será amanhã, não é?”, constatou.
D. Nuno Brás reconheceu a “presença significativa” da Igreja nas redes, muitas vezes fruto da “generosidade e do empenho” de leigos, religiosos e sacerdotes.
A adaptação ao “ritmo de vida contemporâneo” exige, segundo o responsável católico, respostas “mais rápidas” e “mais sensitivas”, num mundo onde se comunica quase através da “pele”, o que também implica uma simplificação da linguagem técnica da Igreja.
“Sem abandonar o rigor e a verdade, às vezes é necessário abandonar a precisão dos termos teológicos, que não são compreensíveis para a grande maioria”, explicou.
D. Nuno Brás apelou ainda a uma mudança na relação com os profissionais da comunicação, defendendo a importância de “estabelecer relações pessoais”.
O objetivo, observou, é “perceber que os jornalistas não são máquinas, são seres humanos”, com as suas histórias pessoais, problemas e qualidades.
Os jornalistas ouviram ainda D. José Manuel Lorca, presidente da Comisión Episcopal para las Comunicaciones Sociales, de Espanha, o qual sublinhou que a missão da Igreja exige “ser sábios leitores da realidade”, escutando as necessidades das pessoas.
Para o bispo de Cartagena, esta escuta é uma condição prévia à evangelização: “Se não conhecemos o homem e a mulher de hoje, o que eu vou lhe dizer? Se não sei quais são suas necessidades, que mensagem vou lhe transmitir?”.
Questionado sobre a operacionalização da colaboração ibérica, D. José Manuel Lorca destacou que a proximidade da realidade da Igreja em Portugal e na Espanha, identificando como desafio comum “ser comunicadores da verdade e da esperança “.

“Informar é o único caminho para combater a desinformação”.
“Informar é o único caminho para combater a desinformação. A comunicação não é uma estratégia: é uma forma de presença. Não é um adorno: é parte essencial da missão. Comunicar é tornar visível o Amor de Deus no mundo, é usar a palavra para dar a conhecer a Palavra”, afirmam os bispos ibéricos, no comunicado final do encontro.
Para estes responsáveis do setor das Comunicações Sociais na Igreja Católica na península ibérica o papel dos meios de comunicação “é o de escrutinar as instituições”, onde se inclui a Igreja Católica, uma tarefa que se realiza “através da informação sobre a verdade e do debate com os seus protagonistas”, por isso, procurar o encontro com os meios de comunicação “é um serviço da Igreja à verdade”.
“A comunicação hoje exige profissionalismo: formação, estratégia, sensibilidade jornalística e conhecimento do ambiente digital, sem esquecer o desafio que representa a Inteligência Artificial.”
O comunicado final do encontro ibérico assinala também que a linguagem da Igreja “deve ser clara para a opinião pública”, próxima da vida quotidiana das pessoas e “oferecer respostas às perguntas do homem e da mulher de hoje”, e acrescentam que “sem abandonar o rigor e a verdade”, é por vezes necessário modelar a precisão em favor da difusão da mensagem eclesial.
“A linguagem muda constantemente: as palavras transformam-se, os códigos renovam-se, os formatos multiplicam-se. A Igreja deve falar a linguagem que todos compreendem, utilizando todos os meios de comunicação disponíveis, os mais conhecidos e também aqueles que, nos últimos anos, se incorporaram na atividade comunicativa”, desenvolvem, salientando que nenhum meio deve ser descartado pela Igreja Católica.
Os bispos das Comissões Episcopais de Comunicação Social da Igreja Católica em Portugal e na Espanha explicam que “não basta comunicar”, mas é necessário encarnar a mensagem na própria vida, e “estabelecer relações pessoais de colaboração e serviço com todos” os que desejam construir o bem comum.
“A comunicação eclesial não pode ser apenas institucional, mas também relacional. O Papa Leão XIV pede-o ao propor uma Jornada Mundial das Comunicações Sociais com o tema ‘Preservar vozes e rostos humanos’”.
“A reflexão destes dias leva-nos também a reconhecer e agradecer os passos dados para cuidar a linguagem da Igreja: hoje há maior presença da Igreja nos meios generalistas, mais esforço na formação para a comunicação, mais vozes femininas e mais leigos comprometidos nesta missão”, acrescentam no comunicado final, referem que os passos dados “são motivo de esperança”.
Participaram neste encontro os bispos da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais de Portugal – D. Nuno Brás, D. Fernando Paiva, D. Pio Alves, D. Delfim Gomes e D. Joaquim Dionísio -, e os bispos da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais de Espanha – D. José Manuel Lorca, D. Salvador Giménez Valls, D. Sebastián Taltavull e D. Cristóbal Déniz -, e os secretários das duas comissões episcopais, Paulo Rocha e padre José Gabriel Vera, respetivamente.
Os bispos das Comissões de Comunicação Social das Conferências Episcopais de Portugal e de Espanha realizaram o seu encontro anual, nos últimos dois dias, de 3 a 5 de novembro, e refletiram sobre o tema da linguagem na comunicação eclesial, na Diocese do Funchal, na Madeira.
(Com Ecclesia)