“Madre Teresa da Anunciada foi uma mulher de virtudes heróicas e profunda humildade, com um amor eucarístico indelével” afirma Margarida Lalanda

Investigadora é a coordenadora da Comissão Histórica nomeada esta semana pelo bispo de Angra para estudar as fontes que sustentam o desejo de abertura da causa de beatificação de Madre Teresa D´Anunciada

Foto: CHAM

A Professora  Margarida Lalanda, coordenadora da Comissão Histórica  da causa de beatificação de madre Teresa da Anunciada, recentemente nomeada pelo Bispo de Angra, considera que a religiosa clarissa que impulsionou o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, foi “uma mulher de virtudes heróicas, de grande fé e de profunda humildade”, cuja ação “aproximou a comunidade de crentes micaelense de Deus”.

Numa entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores, Margarida Lalanda sublinha que Madre Teresa “se destacou pela força interior, pela alegria e pela persistência” e que, apesar das dificuldades e da oposição que enfrentou, “nunca desistiu da missão que acreditava ter recebido de Deus”.

“Ela era uma pessoa profundamente humilde, mas cheia de energia. Sentia que tinha uma ligação especial com Deus e acreditava que devia divulgar as Suas ações, em particular através da imagem do Senhor Santo Cristo”, explicou a investigadora.

Segundo Margarida Lalanda, a religiosa clarissa “viveu num tempo em que muitas freiras eram místicas”, mas o que a diferenciou foi a forma como uniu a dimensão espiritual à ação concreta.

“Ela insistia não só na contemplação e na oração, mas também na importância de dar testemunho e de agir. Juntou as duas dimensões: a fé profunda e a obra realizada”, disse.

“Falamos de virtudes heroicas precisamente porque ela conseguiu resistir em contextos adversos, sem nunca se deixar abater. Foi uma freira exemplar, alegre, generosa e sempre dedicada à Eucaristia e aos pobres”, destacou Margarida Lalanda, lembrando que a devoção eucarística era central na vida da religiosa.

Madre Teresa da Anunciada, acrescenta, “sentia na comunhão um sinal de confirmação divina”.

“Ela dizia que quando comungava e sentia um gosto especial, sabia que estava a rezar e a pensar bem, que estava no caminho certo. Essa intimidade com o mistério da Eucaristia marcou profundamente a sua espiritualidade”, sublinhou na entrevista que vai para o ar, na íntegra, no domingo depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

A coordenadora da Comissão recorda ainda que a religiosa enfrentou incompreensões dentro do convento, por causa da importância que atribuía à imagem do Senhor Santo Cristo e das obras realizadas na capela.

“Havia quem desconfiasse das suas intenções ou a acusasse de querer protagonismo, mas tudo o que ela fez foi por devoção e com recursos obtidos através de esmolas de fiéis, da cidade e até da Coroa. Nada foi em benefício próprio”, afirmou.

Madre Teresa morreu em 1738 e, apenas dois anos depois, as freiras do Convento da Esperança pediram a abertura de um processo de inquirição das suas virtudes. Esse processo, lembra Margarida Lalanda, “reuniu testemunhos sob juramento que confirmavam a sua vida exemplar, o seu amor a Deus e aos pobres e a sua fama de santidade”.

A Comissão Histórica agora constituída pela Diocese de Angra vai analisar toda a documentação disponível- manuscritos, biografias, inquirições e a autobiografia da própria religiosa- com vista a fundamentar o processo de beatificação.

“Vamos estudar tudo o que existe, incluindo a autobiografia escrita por ordem dos seus confessores. Foi um texto que ela escreveu ao longo de décadas e que revela a sua profunda vida interior e a sua relação com Deus”, adiantou.

Apesar de reconhecer que “o maior entrave é o tempo”, Margarida Lalanda mostra-se confiante: “Pessoalmente, estou muito esperançada nas conclusões. Tudo o que conhecemos aponta para uma vida de santidade, de generosidade e de fidelidade total à vontade de Deus.”

A investigadora considera ainda que o testemunho da Madre Teresa da Anunciada continua a ser atual e inspirador: “Ela ensina-nos a confiar totalmente em Deus, a persistir, a sermos generosos e humildes. Dizia que Deus a escolhia precisamente pela sua pequenez, para que fosse através dela que se revelasse a grandeza divina. É uma mensagem que continua a fazer falta nos nossos dias.”

Margarida Lalanda conclui lembrando que o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres “é a marca identitária religiosa mais forte dos Açores”, e que levar adiante o processo de Madre Teresa “é um dever da Diocese para com os crentes e com a própria história da fé açoriana”.

A entrevista de Margarida Lalanda vai para o ar no domingo depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

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