Iniciativa tem por objetivo promover o diálogo entre a fé e a cultura num ano em que se fala da Esperança

O antepenúltimo Diálogo do Tempo, promovido pelo Grupo Coordenador do Jubileu da Diocese de Angra no âmbito do Ano Santo da Esperança, teve lugar nas Flores esta sexta-feira e foi dedicado ao tema “Amizade Social e Fraternidade Universal”. A reflexão esteve a cargo de Carmo Rodeia, diretora do Serviço Diocesano de Comunicação, que destacou a importância da Igreja viver e testemunhar estes valores no mundo atual.
“Eu diria que hoje, mais do que nunca, a Igreja é chamada a viver e a testemunhar a amizade social e a fraternidade universal como fundamentos da sua presença no mundo”, afirmou.
Carmo Rodeia recordou que, desde o Concílio Vaticano II e através de documentos como a Gaudium et Spes, o magistério da Igreja tem insistido na ideia de que “toda a humanidade forma uma única família” e que “a dignidade de cada pessoa exige comunhão, diálogo e solidariedade”.
A responsável sublinhou ainda que o Papa Francisco retoma esta herança na encíclica Fratelli Tutti, “talvez uma das mais luminosas dos últimos tempos”, onde recorda que “ninguém se salva sozinho” e que “a fé autêntica leva a abrir o coração a todos”.
Carmo Rodeia referiu também que esta mensagem já estava presente em outros documentos papais, como a Evangelii Gaudium e a Laudato Si’, que insistem na necessidade de promover “uma cultura do encontro e do cuidado como expressão concreta do amor cristão”.
Num contexto em que “o discurso público se torna cada vez mais polarizado”, inclusive entre responsáveis políticos, a oradora lembrou que a Igreja deve ser “uma voz profética, que defende a dignidade de cada ser humano, acolhe os migrantes, promove o diálogo entre culturas e testemunha que é possível uma convivência pacífica e fraterna entre todos”.
A realidade açoriana foi também referida como exemplo prático dessa convivência.
“Os Açores deixaram de ser apenas uma região de emigrantes para se tornarem uma região de imigrantes. Temos quase sete mil estrangeiros a viver no arquipélago — pessoas com diferentes culturas, religiões e modos de vida —, mas que devem ser acolhidas, protegidas e integradas”, afirmou.
Nas Flores, a dimensão multicultural é particularmente visível: “Temos cerca de 3.400 habitantes e 27 nacionalidades. Não temos outro remédio senão convivermos todos”, observou Carmo Rodeia, reforçando a ideia de que “ser discípulo de Cristo é escolher o caminho da fraternidade e do encontro, construir pontes e não muros, semear esperança onde crescem divisões”.
“Só assim a Igreja poderá continuar a ser o sinal vivo do amor de Deus no meio do mundo — e é aqui que reside a sua profecia”, concluiu.
O próximo Diálogo no Tempo decorrerá na Horta, já na próxima semana, no dia 14 de novembro e será orientado por Monsenhor António Saldanha, atual pároco da Matriz da Horta e Conceição, na ilha do Faial, depois de ter estado em Roma mais de duas décadas a servir no Dicastério das Causas dos Santos.