A instituição reúne hoje múltiplas valências, atendendo diariamente cerca de duas centenas de crianças, idosos e famílias. O centro tornou-se uma das instituições sociais mais abrangentes do Faial e enfrenta agora novos desafios ligados ao crescimento, sustentabilidade financeira e necessidade de ampliar serviços
No coração da freguesia dos Flamengos, ilha do Faial, onde o culto ao Divino Espírito Santo marca profundamente a identidade local, com a existência de sete impérios, o Centro Comunitário do Divino Espírito Santo tornou-se, ao longo de mais de duas décadas, uma das instituições sociais mais abrangentes e estruturantes da ilha do Faial. O presidente da Junta de Freguesia dos Flamengos e, por inerência estatutária, presidente da direção do Centro, José Amaral, refere que o Centro necessitaria de crescer mas para isso, precisa de mais apoios.
Com um orçamento anual a rondar os 900 mil euros, sendo cerca de 90% destinados a custos com pessoal, a direção assume que a sustentabilidade é um desafio constante. Os contratos-programa com a Segurança Social precisam de ser atualizados, defende José Amaral, tal como acontece com todas as IPSS.
“Prestamos um serviço da responsabilidade do Estado. O mínimo é que o valor recebido não nos deixe em prejuízo”, refere numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, que centra o assunto na ordem do dia- Governo e IPSS discutem valores das comparticipações a transferir pela Região para as Instituições Particulares de Solidariedade Social- sem esquecer a história e a missão que o Centro abraçou desde que foi criado.
O Centro Comunitário foi fundado em 2002 graças à visão e generosidade do benemérito Manuel da Costa Garcia e da esposa, Maria Cecília Alvernaz, que doaram à freguesia um prédio de família — casa e cerca de 7.500 metros quadrados de terreno — para que ali nascesse um projeto social capaz de servir diferentes gerações. O edifício onde hoje funciona o Centro de Noite é precisamente a antiga residência do médico, figura recordada por todos como “culta, inspiradora e profundamente ligada às tradições do Espírito Santo”. Mas, a identidade da instituição não se explica sem a forte presença das sete Irmandades do Divino Espírito Santo da freguesia, todas com representação nos órgãos sociais. É esta teia comunitária, que envolve também a paróquia, a filarmónica, os escuteiros, a Casa do Povo, a Cáritas e a Junta de Freguesia, que sustenta o centro e lhe confere um modelo de gestão único.
O Centro Comunitário começou por oferecer serviço de apoio domiciliário, rapidamente seguido da criação do Centro de Noite. Mas o crescimento foi constante: primeiro o Centro de Dia, depois o Centro de Noite, o Centro de Convívio e a Creche e o Serviço de Apoio Domiciliário. No total são cerca de 200 utentes: 90 crianças na Creche, 30 utentes no Centro de Dia, 20 utentes no Centro de Convívio, 9 utentes no Centro de Noite, mais uma cama SOS e 35 famílias acompanhadas pelo SAD, 365 dias por ano, com refeições, higiene pessoal e habitacional e tratamento de roupas.
Para garantir tudo isto, a instituição conta com cerca de 50 trabalhadores, entre educadoras, técnicos superiores, administrativos, ajudantes e equipas afetas ao apoio domiciliário. Em 2018 eram apenas 24.
“O crescimento foi muito grande. As valências aumentaram, o número de crianças também, e tivemos de acompanhar”, sublinha José Amaral.
Um dos aspetos mais valorizados é a convivência entre crianças e idosos. Durante a pandemia, surgiu a “janela dos afetos”, uma iniciativa que permitiu manter o contacto visual e emocional entre Creche e Centro de Dia.
Hoje, essa ligação mantém-se viva através de projetos educativos, dias temáticos e atividades conjuntas.
“Os idosos adoram e as crianças também. É uma relação bonita que humaniza e enriquece o trabalho de todos”, garante o presidente.
O crescimento da instituição exige hoje “uma gestão diária rigorosa” e a necessidade de integrar, no futuro, uma pessoa a tempo inteiro dedicada exclusivamente à coordenação global.
Apesar do crescimento, as necessidades continuam também a aumentar. O Centro de Noite, por exemplo, tem uma lista de de espera grande, e já existe um esboço para a sua ampliação. Tal como a Creche, que serve a ilha toda.
Outra ambição é a criação de uma nova valência ligada ao apoio ao cuidador e aos novos perfis de envelhecimento.
“Temos o espaço identificado e preparado para isso”, revela José Amaral.
Embora a Junta de Freguesia e as Irmandades estejam fortemente representadas na gestão, o presidente faz questão de sublinhar: “A instituição está acima dos interesses partidários. Aqui trabalhamos todos pela comunidade. Precisaríamos já de um gestor que aqui estivesse a tempo inteiro”.
Num território descrito como “freguesia dormitório”, com cerca de duas mil pessoas, o Centro Comunitário do Divino Espírito Santo tornou-se uma âncora social, empregadora e cuidadora.
A ligação à paróquia mantém-se profunda e simbólica, refletindo o espírito solidário do culto ao Espírito Santo, que marca a identidade flamenguense há séculos.
No final da conversa, José Amaral resume a essência do projeto: “O que nos distingue é a excelência do serviço e o facto de toda a comunidade estar envolvida. Aqui ninguém fica de fora.”












