Festa de Santa Cecília volta a unir músicos do Faial com tradição centenária. Este ano a festa integra-se no Jubileu da Música, em ano santo jubilar

A Festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos, celebra-se em várias paróquias da Diocese de Angra, mas é na ilha do Faial que esta tradição ganha uma dimensão muito particular. Há cerca de cem anos que a celebração mobiliza coros, filarmónicas e comunidades de toda a ilha, assumindo-se como um dos maiores encontros musicais do arquipélago.
As celebrações começam este sábado à noite, com um encontro de coros na Igreja do Carmo, na Horta, e prosseguem no domingo com uma missa solene às 18h00 na Igreja Matriz, seguida da habitual homenagem das oito filarmónicas do Faial.
Segundo José Amorim Carvalho, que participa nesta festa desde os 12 anos e agora está com 81, esta tradição nasceu em 1922 por iniciativa do então vigário da Matriz, o padre Francisco Garcia da Rosa, que uniu as capelas das três paróquias da cidade e vários instrumentistas residentes para interpretar a “Missa a Três Vozes de Homem”, de Eduard Segattini, assinalando assim o dia de Santa Cecília, 22 de novembro.
“A festa começou como celebração paroquial, mas rapidamente ganhou amplitude cultural e musical, reunindo coros e filarmónicas e tornando-se um acontecimento de toda a ilha”, recorda.
Em 1955, com melhores condições de transporte, o Monsenhor Pereira da Silva decidiu alargar a festa a todas as capelas da ilha, gesto que marcou um ponto de viragem. A adesão foi tal que o coro alto do antigo templo jesuíta tornou-se insuficiente para receber tantas vozes e fiéis. Em 1970, o mesmo presbítero integrou formalmente as oito filarmónicas do Faial, proporcionando durante décadas desfiles e apresentações com centenas de músicos. No primeiro ano deste alargamento, participaram cerca de 300 músicos numa marcha composta especialmente para a ocasião por Manuel Coelho da Silva, recorda José Amorim Carvalho.

José Amorim Carvalho relembra ainda as suas primeiras memórias da festa, com apenas 12 anos, quando participou nos cânticos do ofertório e da ação de graças. Foi, diz, uma oportunidade única de conviver com alguns dos mais notáveis músicos da ilha, e de se envolver numa organização que, durante muitos anos, ficou entregue ao senhor Teixeira de Lemos, figura central na preparação do evento.
Com o passar das décadas, a festa passou por mudanças e desafios, incluindo alterações de orientação pastoral que, segundo José Amorim Carvalho, afetaram temporariamente o espírito de comunhão que sempre caracterizou o evento. No entanto, crê que a celebração está agora a retomar o seu rumo tradicional.
Para o músico e testemunha histórica, o ponto mais forte da Festa de Santa Cecília no Faial é a sua capacidade de unir a ilha através da música.
“É o dia mais bonito para os amantes da música. É importante que os nossos coros se encontrem com as suas comunidades e que as filarmónicas recuperem o apoio de toda a sociedade. Esta festa deve ser o maior encontro musical desta terra”, afirma.
Atualmente, as oito filarmónicas do Faial permanecem ativas, enquanto os coros paroquiais continuam a desempenhar um papel essencial na liturgia. “Quem canta reza duas vezes”, lembra José Amorim Carvalho, sublinhando o valor espiritual e cultural da celebração.
A Festa de Santa Cecília, no Faial, mantém assim viva uma tradição quase centenária, juntando gerações de músicos e renovando, ano após ano, o compromisso da ilha com a sua padroeira e com a música.
Também na povoação, em Santa maria e no Pico a festa tem uma dimensão de ouvidoria este ano.