Festa de Santa Cecília na Horta celebra mais de um século de tradição musical

Festa é celebrada há mais de cem anos na cidade mais ocidental da Europa

A cidade da Horta voltou a ser palco, este domingo, de uma das celebrações culturais e religiosas mais enraizadas da ilha: a Festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos. Com mais de cem anos de história, a festividade reuniu filarmónicas, capelas, grupos corais e o conservatório, numa homenagem conjunta à música e à herança cultural faialense.

A celebração decorreu na Igreja Matriz da Horta, onde músicos de toda a ilha se apresentaram num encontro marcado pela partilha, pela fé e pela beleza sonora que caracteriza este evento anual. Este ano, a cerimónia foi presidida por Monsenhor António Manuel Saldanha, o novo pároco da Igreja matriz, que dedicou a sua homilia ao tema da criação, da música e da espiritualidade cristã.

Na sua reflexão, o sacerdote faialense recordou o martírio de Santa Cecília, destacando que, segundo a tradição, a jovem permaneceu três dias em agonia “cantando, acompanhada por um coro de anjos”. Para o celebrante, este testemunho revela a essência da música cristã

As vozes em uníssono protestam. Que as nossas vozes humildes se associem àquela que, há centenas de anos, no seu martírio, entregando a alma a Deus, cantou… Somos indignos, mas resta-nos esta cidade santa.”

O presbítero salientou ainda que a música sacra, e toda a música “digna desse nome”, nasce do amor, da beleza e do sofrimento humano iluminado pela fé.

“O amor está em todas as grandes composições da história. O amor a Deus abre-nos horizontes de beleza… a Palavra de Deus inspira, eleva e é criativa porque Deus é a fonte de toda a criação.”

Na homilia,  Monsenhor António Saldanha reforçou, por outro lado, a importância da tradição cristã no desenvolvimento musical do Ocidente, afirmando que muitas das obras-primas universais requerem, para serem interpretadas, uma profunda interioridade espiritual.

Não se pode executar o Requiem de Mozart sem acreditar na vida eterna. Não se pode interpretar o De Profundis sem consciência da nossa limitação.”

Relembrou também que bandas filarmónicas, coros, orquestras e ranchos folclóricos “evangelizam através da beleza”, contribuindo para preservar valores que atravessam gerações.

A Matriz da Horta encheu-se de músicos de todas as idades, representando as filarmónicas criadas no século XIX, as capelas paroquiais, o Conservatório Regional da Horta e o Rancho Folclórico, que trouxe consigo os trajes tradicionais e a simbologia dos antepassados.

Quando alguém veste um traje regional está a dizer o que é. Os trajes e os bailes são uma homenagem sentida aos nossos antepassados”, concluiu.

O evento contou ainda com a presença de autoridades locais, reforçando o caráter comunitário e institucional da celebração.

“É o dia mais bonito para quem ama a música”- José Amorim Carvalho

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