Segundo Encontro de reflexão da ouvidoria da Praia refletiu sobre “Quem sou eu na Igreja: o cristão e o mistério da Igreja. Evangelização e os desafios das novas tecnologias”, dois temas desenvolvidos pelo bispo de Setúbal
Num tempo marcado pela velocidade da informação e pela omnipresença das tecnologias, o segundo dia dos Encontros de Reflexão da Ouvidoria da Praia trouxe ao Centro Pastoral das Fontinhas, na ilha Terceira, um alerta firme e urgente: a Igreja precisa de entrar nos novos espaços de comunicação — as redes sociais, as plataformas digitais, os ambientes virtuais — mas fazê-lo sem perder a sua identidade essencial: Cristo.
Foi este o fio condutor da intervenção do Cardeal D. Américo Aguiar, Bispo de Setúbal, que, diante de cerca de 150 participantes, refletiu sobre a identidade cristã e o desafio da evangelização na era digital.
“Estamos a imersos numa nova cultura. É nela que devemos evangelizar.”
Ao abordar o tema “Quem sou eu na Igreja? O cristão e o mistério da Igreja”, o Cardeal começou por contextualizar o impacto das grandes transformações tecnológicas. Da revolução industrial ao smartphone, o mundo acelerou, aproximou e ao mesmo tempo distanciou.
“Estamos a ficar imersos e submersos numa nova cultura”, afirmou. “E é nesta nova cultura que nós temos de evangelizar”.
Mas essa presença, sublinhou, tem de ser responsável, criteriosa e fiel ao Evangelho. A Igreja não pode ser apenas mais uma voz no ruído digital.
Redes sociais: presença que aproxima, não que ilude
O Cardeal Aguiar alertou que o espaço virtual muitas vezes cria ilusões e enganos.
“A realidade virtual é muitas vezes enganosa; não apresenta o real”, disse, recordando a proliferação de fraudes, desinformação e discursos distorcidos.
Por isso, insistiu que o objetivo da presença cristã nos meios digitais deve ser sempre o mesmo: aproximar as pessoas da comunidade, da paróquia, da vida sacramental.
“O digital todo bonito não corresponde, muitas vezes, à realidade de quando as pessoas procuram a porta da Igreja e os Sacramentos”, afirmou. A estética, os “likes”, o alcance — nada disso pode substituir o encontro pessoal.

Evangelizar sem se diluir: Cristo no centro
Na segunda parte do encontro, dedicada ao tema “Evangelização e os desafios das novas tecnologias”, o Cardeal aprofundou a reflexão sobre o papel da Igreja no mundo digital.
“O algoritmo cria bolhas confortáveis que nos isolam”, alertou.
“Acabamos a viver numa verdadeira escravatura”, disse.
Nesse contexto, o papel da Igreja não é seguir a lógica das redes, mas contrariá-la com verdade, presença e encontro.
“Não estamos nas redes sociais pelos ‘likes’, mas pela Evangelização, pelo anúncio e pelo testemunho”.
E sublinhou aquilo que considera inegociável: “A Igreja pode — e deve — entrar nos novos espaços digitais. Mas não pode perder aquilo que é: Cristo. A nossa missão é anunciar Cristo.”
Recordou também o apelo do Papa Francisco a uma evangelização com “ardor, método e expressões novas”, lembrando que a criatividade digital não dispensa a fidelidade ao Evangelho.
IA e discernimento: aprender a distinguir o humano do artificial
O Cardeal alertou ainda para os riscos da Inteligência Artificial, que pode reforçar a tendência individualista: “A IA pode aumentar a ideia de que não preciso de mais ninguém para nada”.
Daí a urgência de ajudar os cristãos a discernir, a validar, a questionar.
“Precisamos de perceber o que é verdade e o que é construção”.
O encontro terminou com um apelo claro às comunidades: “As paróquias e dioceses precisam de profissionais qualificados que nos ajudem nesta Nova Evangelização”.
O segundo dia destes Encontros de Reflexão contou ainda com a animação do Agrupamento de Escuteiros 631 de Santa Luzia da Praia da Vitória, reforçando o ambiente comunitário do evento.
(Com Ouvidoria da Praia)





