
O Papa Leão XIV encerrou hoje a sua visita ao Líbano com um apelo ao fim dos conflitos armados na região, defendendo um novo rumo para o Médio Oriente, com a ajuda da comunidade internacional.
“O Médio Oriente necessita de novas abordagens para rejeitar a mentalidade de vingança e violência, para superar as divisões políticas, sociais e religiosas e para abrir novos capítulos em nome da reconciliação e da paz”, disse, no final da Missa a que presidiu em Beirute, perante dezenas de milhares de pessoas.
“Peço mais uma vez à comunidade internacional que não poupe esforços na promoção de processos de diálogo e reconciliação, e faço um apelo sincero àqueles que detêm autoridade política e social aqui e em todos os países marcados pela guerra e pela violência. Ouçam o clamor dos vossos povos que pedem a paz. Coloquemo-nos todos ao serviço da vida, do bem comum e do desenvolvimento integral das pessoas”, acrescentou.
Na primeira viagem internacional do pontificado, que começou na Turquia, o Papa assumiu o desejo de estar como “peregrino de esperança ao Médio Oriente, implorando a Deus o dom da paz para esta terra amada, marcada pela instabilidade, pelas guerras e pelo sofrimento”.
“Sejam artesãos da paz, arautos da paz, testemunhas da paz. O caminho da hostilidade mútua e da destruição no horror da guerra foi percorrido por demasiado tempo, com os resultados deploráveis que estão diante dos olhos de todos”, declarou.
“Precisamos de mudar de rumo. Precisamos de educar os nossos corações para a paz. Desta praça, rezo pelo Médio Oriente e por todos os povos que sofrem por causa da guerra”, afirma.
A saudação evocou ainda a crise política na Guiné-Bissau e o incêndio em Hong Kong, que provocou mais de 140 mortes e vários desaparecidos na última semana.
Já na cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional de Beirute, Leão XIV alertou que “as armas matam” enquanto a negociação edifica, afirmando que leva consigo a “sede de verdade e justiça” das famílias das vítimas da explosão do porto de Beirute.
“Saúdo todas as regiões do Líbano que não foi possível visitar: Trípoli e o norte, o Vale do Beca e o sul do país, que vive, de modo particular, numa situação de conflito e incerteza”, declarou, pedindo que “cessem os ataques e as hostilidades”, perante o presidente da República e membros do Governo local.
Leão XIV reforçou a sua condenação da violência: “Ninguém acredite mais que a luta armada traz algum benefício”.
“As armas matam; a negociação, a mediação e o diálogo edificam”, prosseguiu.
No seu último discurso em solo libanês, o Papa revelou que esta viagem foi também o cumprimento da vontade do seu antecessor.
“Regozijo-me por ter podido realizar a vontade do meu amado predecessor, o Papa Francisco, que tanto teria desejado estar aqui. Na verdade, ele está connosco”, afirmou, sublinhando a continuidade espiritual do pontificado.
Leão XIV confessou que “é mais difícil partir do que chegar”, elogiando a cultura de encontro do povo libanês, e recordou os momentos de oração no túmulo de São Charbel e no porto de Beirute.
“A breve visita ao porto de Beirute – onde a explosão devastou não só um lugar, mas muitas vidas – tocou-me o coração. Rezei por todas as vítimas e levo comigo a dor e a sede de verdade e justiça de tantas famílias e de um país inteiro”, disse.
Recuperando a definição histórica de São João Paulo II, o Papa reafirmou que “o Líbano, mais do que um país, é uma mensagem”, despedindo-se com um “até breve” em árabe.
Ainda esta manhã, na Missa a que presidiu junto ao Mediterrâneo, Leão XIV convidou toda a sociedade libanesa a superar a “lógica da violência”.
A agenda da viagem, iniciada no domingo, incluiu a visita a um hospital psiquiátrico, a celebração com a comunidade católica no Santuário de Nossa Senhora do Líbano, em Harissa, um encontro de oração com jovens e uma cerimónia inter-religiosa na Praça dos Mártires, onde católicos e muçulmanos se uniram num apelo de paz, contra o extremismo.

“Cada um deve fazer a sua parte e todos devemos unir esforços para que esta terra possa voltar ao seu esplendor. E temos apenas uma maneira de o fazer: desarmemos os nossos corações, derrubemos as armaduras dos nossos fechamentos étnicos e políticos, abramos as nossas confissões religiosas ao encontro recíproco, despertemos no nosso íntimo o sonho de um Líbano unido, onde triunfem a paz e a justiça”, disse Leão XIV na homilia da celebração, realizada junto ao Mar Mediterrâneo, após ter visitado o local da tragédia de 2020.
Falando em francês, perante dezenas de milhares de pessoas, o Papa apelou ao “renascimento” do país.
“Líbano, levanta-te! Sê casa de justiça e de fraternidade! Sê profecia de paz para todo o Levante”, declarou.
Momentos antes da Eucaristia, o pontífice deslocou-se ao porto de Beirute para uma oração silenciosa pelas vítimas da explosão de 4 de agosto de 2020, que causou mais de 200 mortos, 6500 feridos e deixou cerca de 300 mil pessoas desalojadas.
“Acabei de rezar no local da explosão, no porto”, recordou Leão XIV durante a homilia, reconhecendo que a beleza do país está “obscurecida pela pobreza e pelo sofrimento”, por um contexto político “frágil e muitas vezes instável” e pela “dramática crise económica” que atinge a população.
A intervenção alertou ainda para os “medos antigos” que voltaram a despertar por causa da violência e dos conflitos na região.
Três Papas tinham, até hoje, visitado o Líbano, na época contemporânea: Paulo VI, em 1964; João Paulo II, em 1997; e Bento XVI, em 2012.
A primeira etapa da viagem internacional decorreu entre 27 e 30 de novembro, na Turquia, numa visita marcada pela busca da unidade entre Igrejas e condenação da violência com justificação religiosa.
O programa do Papa evocou, em particular, os 1700 anos do Concílio da Niceia e sublinhou aproximação ao Patriarcado de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu, com quem Leão XIV assinou uma declaração conjunta.
Na viagem entre Istambul e Beirute, Leão XIV falou aos jornalistas, para reforçar a defesa da solução dos dois Estados para o conflito israelo-palestino, apontando ainda a um grande encontro ecuménico em Jerusalém em 2033.
(Com Ecclesia e Vatican news)
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