Centro Social e Paroquial da Fajã de Cima: a “mão estendida” que cresce com a comunidade e luta para acompanhar as suas necessidades

Com quase três décadas de serviço, o Centro Social e Paroquial da Fajã de Cima afirma-se como um pilar de apoio à infância, às famílias e aos idosos. Mas a equipa técnica alerta para o crescimento das necessidades sociais, a falta de respostas para idosos e crianças e a “pobreza envergonhada” que mina silenciosamente a freguesia

 

Fundado em 1998 pelo então pároco Duarte Melo, o Centro Social e Paroquial da Fajã de Cima, uma das freguesias em redor da cidade de Ponta Delgada,  surgiu da vontade de dar resposta às necessidades mais imediatas da população. A primeira valência foi o Serviço de Apoio ao Domicílio, então centrado sobretudo na higiene pessoal. Hoje, funciona sete dias por semana, abrange cerca de 30 utentes e inclui também fornecimento de refeições — confecionadas no Centro de Dia — e tratamento de roupa, assegurados por uma equipa de quatro funcionários.

A acompanhar este crescimento, chegou a integração de beneficiários do rendimento mínimo e, mais tarde, a criação do ATL que acolhe 75 crianças dos 3 aos 12 anos, apoiadas por um professor, quatro animadores e duas auxiliares.

Idosos mais dependentes, necessidades maiores

Em 2008, surgiu o Centro de Dia, que atualmente atende 15 idosos. O perfil dos utentes tem vindo a alterar-se: são hoje mais dependentes e exigem respostas especializadas e contínuas.

“Há uma procura crescente e não temos capacidade para acolher todos”, lamenta Beatriz Resendes. Segundo a diretora técnica, o aumento da dependência dos idosos e a falta de respostas na ilha têm criado “aflição nas famílias e um desespero na própria instituição, que gostaria de fazer mais”.

O Centro de Dia conta com cozinheira, auxiliar, uma animadora e reforços vindos de programas ocupacionais.

Centro Comunitário: onde tudo e todos se encontram

Num quintal transformado em jardim terapêutico com horta, o Centro Comunitário tornou-se um espaço de encontro intergeracional. Aqui, assistentes sociais, sociólogo e psicólogo acompanham famílias, prestam apoio emocional, distribuem alimentos e materiais, emprestam equipamentos, promovem consultas de psicologia e dinamizam pequenos projetos de recuperação habitacional através do “núcleo de habitação”, onde mestres colaboram e ajudam as famílias que devem assegurar o fornecimento de materiais, numa verdadeira e séria partilha de responsabilidades em que a caridade se reveste de responsabilidade e capacitação.

“É talvez a área que mais tem crescido”, sublinha Marlene Botelho, assistente social, destacando sobretudo o aumento da procura de apoio psicológico por questões de saúde mental inclusive entre crianças, com o registo de uma subida de casos de ansiedade, depressão e falta de esperança, inclusive entre crianças.

Pobreza envergonhada e dificuldades que já não escolhem famílias

Segundo as técnicas, a freguesia, tradicionalmente vista como dormitório de Ponta Delgada, vive hoje um quadro complexo. A pobreza não se manifesta apenas nos agregados mais fragilizados: chega também a famílias que sempre tiveram estabilidade financeira.

O aumento das rendas, a dificuldade em encontrar habitação e episódios de desemprego fazem com que muitas famílias procurem ajuda pela primeira vez.

“Temos casos de pessoas que nunca imaginaram estar nesta situação”, explica Marlene Botelho.

“A vergonha impede-as muitas vezes de pedir apoio, e é aqui que os movimentos da paróquia desempenham um papel fundamental, porque são eles que identificam e encaminham” refere.

Além dos serviços dirigidos a crianças e idosos, o Centro Social mantém o Centro de Convívio, para 15 utentes, maioritariamente senhoras, em duas tardes por semana, e uma valência que continua a atrair voluntariado: a Loja Eco Solidária, criada em 1998. O espaço recebe roupa em segunda mão, faz triagem e reciclagem criativa, transformando peças e dando nova vida a tecidos. Apesar da diminuição do voluntariado ao longo dos anos, uma voluntária mantém-se presente diariamente na loja. E faz pequenos arranjos de costura para o público em geral, o que constitui uma fonte de rendimento acrescida.

A instituição conta ainda com duas equipas de RSI e com a Equipa de Emergência em Situação de Violência Doméstica, com âmbito de atuação a nível de ilha, composta por psicólogos e assistentes sociais. A articulação com a Segurança Social é constante, uma vez que todas as valências são financiadas por esta entidade, cumprindo requisitos e normas rigorosas.

O desafio de hoje: crescer para responder ao amanhã

Apesar de tudo o que já faz, o Centro sente que ainda não chega onde é preciso. As listas de espera são longas: mais de 40 a 50 crianças aguardam vaga no ATL, e a abertura de uma creche é apontada como urgente para apoiar famílias que trabalham e não têm onde deixar os filhos.

Nos idosos, o crescimento do Apoio ao Domicílio e do Centro de Dia é urgente.

“As necessidades estão a aumentar mais depressa do que a capacidade de resposta”, admite Beatriz Resendes.

A diretora reforça que este é um projeto da igreja, mas articulado com as políticas sociais e financiado pela Segurança Social. Por isso, as parcerias “são fundamentais” esclarece ainda Marlene Botelho destacando o papel da junta de freguesia aos escuteiros, guias, filarmónica e outras instituições vizinhas.

“Um trabalho articulado entre todos é a única forma de responder à nova realidade das famílias”, afirma por seu lado Beatriz Resendes.

E apesar de haver menos voluntariado do que no passado, a ajuda que chega continua essencial.

O Centro Social e Paroquial da Fajã de Cima cresceu com a comunidade e continua, todos os dias, a reinventar-se para acompanhar quem mais precisa.

Somos porta aberta e porta de entrada, para quem procura e até para quem tem vergonha de pedir. A nossa missão é não deixar ninguém para trás”, conclui Beatriz Resendes.

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