Celebração decorreu esta quinta-feira no Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada e destacou a liberdade interior, a misericórdia e a dignidade humana

O Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada assinalou esta quinta-feira o Jubileu dos Reclusos, numa celebração marcada pela ideia de que a verdadeira liberdade nasce da esperança e da fé.
“A esperança que é jesus Cristo é uma esperança inabalável, que não pode ser sufocada por nada nem por ninguém e foi isso que nós transmitimos sempre e em especial ao longo deste Ano Santo da Esperança e, particularmente esta quinta-feira em que assinalámos o Jubileu das prisões em sintonia com Roma”, afirmou ao sítio Igreja Açores a Irmã Virgínia Dantas, religiosa das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face, que há mais de 20 anos acompanha de perto a comunidade prisional.
“Eles estão privados de liberdade, mas não estão privados da sua dignidade”, afirmou. Muitos, diz, reagem com emoção, porque “têm sonhos e projetos, e falar-lhes disso é incentivar a não desistirem”, sublinhou destacando que o trabalho da pastoral penitenciária “é silencioso, humilde e escondido”, mas essencial para levar aos detidos “a palavra de Deus, a esperança e a certeza de que a dignidade de cada pessoa nunca deve ser aprisionada”.
Na celebração, inserida no tempo do Advento, o capelão, padre Victor Arruda destacou a figura de Isaías, “profeta da esperança”, e recordou Maria como sinal de promessa e de libertação. Foi também montado um presépio, algo sempre muito valorizado pelos reclusos, por despertar memórias de família e renovar expectativas para o futuro.
A religiosa recordou as palavras frequentemente evocadas pelo Papa Francisco sobre a misericórdia, sublinhando que “Deus é sempre maior que o coração humano e perdoa sempre”.
A equipa pastoral reforçou também a importância da dignidade pessoal, lembrando que muitos reclusos “sentem-se desvalorizados e sem identidade”, mas que “aos olhos de Deus continuam a ser preciosos e é isso que temos de lhes dizer”.
O Jubileu foi igualmente ocasião para abordar a reinserção social: “A prisão não é um fim, é uma escola para a vida”, afirmou a Irmã Virgínia Dantas, destacando os casos de ex-reclusos que hoje vivem com dignidade e são exemplo na sociedade.
Durante a celebração, foram entregues aos reclusos textos escritos por jovens no âmbito do Jubileu dos Jovens celebrado no passado dia 23 de novembro. As mensagens, segundo a Irmã Virgínia, surpreenderam pela profundidade: “Não havia frases negativas. Eram palavras inspiradoras, poderosas, e isso faz muito bem ao coração destes homens.”
Estas palavras foram integradas na celebração como reforço da temática central: a liberdade interior que nasce do perdão, da fé e da confiança num recomeço possível.
À espera da Festa de Natal
A preparação para o Natal já começou no estabelecimento prisional. Na próxima semana, será realizada a festa natalícia, com cânticos, veneração do Menino Jesus e entrega de pequenas lembranças. O crucifixo continua a ser o objeto mais pedido pelos reclusos, por sentirem profunda identificação com o Cristo que sofreu a injustiça e a prisão.
Muitas das ofertas que recebem — pequenas imagens, presépios ou símbolos religiosos — tornam-se presentes que os detidos dão às famílias, sobretudo aos filhos. “O que para nós às vezes parece insignificante, para eles tem um valor enorme”, explica a Irmã Virgínia Dantas, recordando que, atrás dos muros, permanecem homens que “precisam de atenção, de ser ajudados e de sentir que a sociedade não os esqueceu”.
Esta sexta-feira começa em Roma o Jubileu das Prisões, com a presença de uma delação portuguesa. O Jubileu que termina no domingo terá catequeses, encontro com o papa e muitas atividades, entre elas a passagem da Porta Santa.
Atualmente o estabelecimento prisional tem cerca de 130 reclusos.