Instituição centenária da ilha terceira acolhe atualmente 56 crianças e jovens
Na Irmandade de Nossa Senhora do Livramento, na Ilha Terceira, o Natal começa muito antes da noite de consoada. Tudo arranca com um gesto simples e carregado de significado: a escrita das cartas de Natal, onde crianças e jovens em situação de acolhimento voltam a sonhar, a pedir e, sobretudo, a sentir que não estão sozinhos.
O projeto das cartas de Natal é hoje um dos momentos mais marcantes da vida da instituição. Cada criança é convidada a escrever o seu pedido, exercendo o direito de ser criança e de sonhar. As cartas são depois distribuídas pela comunidade, que responde de forma solidária e generosa. Segundo Susana Oliveira, psicóloga da instituição há 19 anos, esta iniciativa tem crescido de ano para ano.
“Começamos por distribuir as cartas entre conhecidos, familiares e amigos, mas rapidamente o projeto se alargou. As pessoas partilham, envolvem colegas de trabalho e familiares, e cria-se uma verdadeira rede de solidariedade”, explica.
Mais do que o valor das prendas, o impacto do projeto sente-se sobretudo no plano emocional. Para as crianças e jovens, receber uma resposta à sua carta significa saber que alguém leu com atenção o seu pedido e se preocupou em corresponder.
“Este gesto transmite esperança, reforça a autoestima e cria um sentimento muito forte de pertença. Eles percebem que fazem parte da comunidade e que não estão isolados”, sublinha Susana Oliveira.
A vivência do Natal na instituição estende-se ao longo de todo o mês de dezembro, com atividades conjuntas que promovem a integração e o bem-estar. Decorar as casas, montar árvores de Natal, escrever cartas e participar em iniciativas da comunidade fazem parte da rotina. A Irmandade é também frequentemente convidada a integrar festas organizadas por empresas e entidades públicas, reforçando os laços com a sociedade terceirense.
Para Eduarda Sousa, presidente da direção, a noite de Natal é vivida “como em qualquer casa”. “Há muitas prendas, a consoada, o bacalhau para quem gosta, o peru para quem prefere, e sobretudo um ambiente muito familiar, com colaboradores, corpo social e os nossos meninos todos juntos”, refere. Quanto às cartas, a responsável acredita que “a maioria será respondida”, mantendo viva a magia da quadra.
Nídia Inácio, vice-presidente da direção, este ambiente só é possível graças ao trabalho contínuo das equipas técnicas e educativas.
“São estas equipas que garantem a estabilidade emocional das crianças, criando relações de afetividade desde os bebés até aos mais velhos. As direções passam, mas a equipa técnica permanece e é fundamental para o funcionamento da casa”, afirma.
“Faz-se o dia normal, tenta-se fazer a vida normal”, acrescenta Eduarda Sousa explicando que a instituição recebe crianças encaminhadas pelo Tribunal ou pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Para dar resposta a esta missão, trabalham atualmente na casa cerca de uma centena de colaboradores.
Atualmente, a Irmandade acolhe 56 crianças e jovens, desde os primeiros meses até aos 22 anos, distribuídos por oito residências organizadas por faixas etárias e perfis semelhantes. No total, cerca de uma centena de colaboradores a assegurar o funcionamento diário da instituição, procurando oferecer uma vida o mais próxima possível de um contexto familiar.
Fundada em 1853, a Irmandade de Nossa Senhora do Livramento mantém, mais de um século e meio depois, a mesma missão: acolher, proteger e acompanhar crianças e jovens em risco, oferecendo-lhes não apenas um teto, mas também afeto, dignidade e esperança num futuro melhor.







