Papa alerta contra”fantasmas da divisão” no governo central da Igreja

Foto: Lusa

O Papa alertou hoje os cardeais e responsáveis da Cúria Romana sobre a qualidade das suas relações humanas, alertando contra os “fantasmas da divisão” no governo central da Igreja.

“Por vezes, por trás de uma aparente tranquilidade, agitam-se os fantasmas da divisão. E estes fazem-nos cair na tentação de oscilar entre dois extremos opostos: uniformizar tudo sem valorizar as diferenças ou, pelo contrário, exacerbar as diversidades e os pontos de vista em vez de procurar a comunhão”, apontou Leão XIV, num encontro transmitido pelos meios de comunicação do Vaticano.

No primeiro encontro de Natal com a Cúria Romana, o Papa prestou homenagem ao seu antecessor, que faleceu a 21 de abril.

“Desejo antes de mais recordar o meu amado predecessor, Papa Francisco, que neste ano concluiu a sua vida terrena. A sua voz profética, o seu estilo pastoral e o seu rico magistério marcaram o caminho da Igreja nestes anos, encorajando-nos sobretudo a recolocar a misericórdia de Deus no centro”.

Leão XIV abordou a vida interna da Cúria (“ad intra”), sublinhando que, ao tratar temas de fé, liturgia ou moral, os colaboradores da Santa Sé podem correr o risco de cair “vítimas da rigidez ou da ideologia, com as contraposições que daí advêm”.

O discurso apresentou uma reflexão o ambiente de trabalho e as ambições pessoais, no Vaticano.

“Percebemos com desgosto que certas dinâmicas relacionadas ao exercício do poder, ao desejo desenfreado de se destacar e à defesa dos próprios interesses não mudam facilmente. E perguntamo-nos: é possível ser amigos na Cúria Romana? Ter relações de amigável fraternidade?”, interrogou o pontífice.

Leão XIV defendeu a necessidade de uma conversão pessoal onde “caem máscaras e subterfúgios” e onde “as pessoas não são usadas nem “passadas por cima”.

“O Natal recorda-nos que Jesus veio para nos revelar o verdadeiro rosto de Deus como Pai, para que todos pudéssemos tornar-nos seus filhos e, em consequência, irmãos e irmãs entre nós. O amor do Pai, que Jesus encarna e manifesta nos seus gestos de libertação e na sua pregação, torna-nos capazes, no Espírito Santo, de ser sinal de uma nova humanidade”, disse.

O discurso abordou a dimensão externa da missão (“ad extra”), realçando que as estruturas da Igreja devem estar ao serviço da evangelização.

“As estruturas não devem sobrecarregar, retardar a difusão do Evangelho ou impedir o dinamismo da evangelização”, referiu, acrescentando que é necessária “uma Cúria Romana cada vez mais missionária” e não apenas “para garantir a administração ordinária”.

O Papa deixou ainda uma palavra para o contexto mundial, lamentando o clima de tensão social e política na sociedade.

“Assistimos também a um aumento da agressividade e da raiva, frequentemente instrumentalizadas pelo mundo digital e pela política”, observou, pedindo que a Igreja seja “fermento de fraternidade universal”.

A encerrar a sua intervenção, Leão XIV recordou os 50 anos da exortação ‘Evangelii Nuntiandi’, de São Paulo VI, sublinhando que “o testemunho de uma vida autenticamente cristã” é “o primeiro meio de evangelização”.

A intervenção XIV decorreu na reta final do Jubileu convocado e aberto pelo Papa Francisco.

“O Jubileu deste ano lembrou-nos que somente Cristo é a esperança que não engana. E, justamente durante o Ano Santo, datas importantes nos fizeram lembrar outros dois eventos: o Concílio de Niceia, que nos remete às raízes da nossa fé, e o Concílio Vaticano II, que, fixando o olhar em Cristo, consolidou a Igreja e a impulsionou ao encontro do mundo, na atitude de escutar as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje”.

https://youtu.be/P2N19dy2JUw

(Com Ecclesia e Vatican News)

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