Em declarações ao último programa Igreja Açores de 2025, sublinhou o papel da Igreja, dos media e dos cidadãos na construção de um futuro mais pacífico e responsável

Tomaz Dentinho considera que, apesar do cenário global marcado por guerras e tensões, há razões para esperança num balanço do ano e numa projeção positiva para 2026.
“Toda a guerra acaba por resultar em paz”, afirmou, defendendo que muitos conflitos poderiam ser evitados se as decisões políticas fossem baseadas na “confiança, no diálogo e na responsabilidade, e não no medo, na conquista territorial ou na disputa de recursos”.
Segundo o professor Universitário da Universidade dos Açores, a aspiração à paz está presente tanto entre os povos diretamente envolvidos nos conflitos – como ucranianos e russos, israelitas e palestinianos – como noutras regiões afetadas pela violência, nomeadamente em África. Para o entrevistado, é possível antever um processo de paz na Ucrânia, desde que a Europa abandone uma lógica de confronto e retome o seu papel histórico de integração, desenvolvimento e alargamento pacífico.
Tomaz Dentinho recordou, aliás, que o fim da divisão europeia, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, ocorreu sem guerra, defendendo que um caminho semelhante pode ser seguido nas relações entre a Ucrânia, a Rússia e a União Europeia. Para isso, considera necessária coragem política para acelerar processos de integração, salvando vidas e evitando a perpetuação do conflito armado.
Relativamente ao Médio Oriente, o professor sublinhou a importância de repensar as fronteiras e apostar numa maior integração económica e humana, à semelhança do modelo europeu, respeitando identidades locais e promovendo a interação entre povos como base para uma paz duradoura.
No plano da comunicação social, Tomás Dentinho alertou para a responsabilidade acrescida dos media numa era de globalização da informação. Criticou a normalização do discurso de rearmamento e o apelo ao aumento do investimento militar, defendendo que esses recursos deveriam ser canalizados para a inovação, a cooperação internacional e o desenvolvimento humano.
“A paz não é apenas um objetivo distante, é uma presença e um caminho”, recordou, citando o Papa.
O professor destacou ainda o papel individual na construção da paz, começando nas relações familiares e comunitárias, mas estendendo-se às escolhas políticas e sociais face aos conflitos internacionais. Para si, pensar “com o coração aberto”, aliado à razão e à responsabilidade, é essencial para contrariar uma cultura de guerra frequentemente apresentada como inevitável.
Neste balanço que projeta já o próximo ano, Tomaz Dentinho abordou o contexto nacional e regional, apontando desafios e oportunidades para 2026 nos Açores e em Portugal. Entre as prioridades destacou o desenvolvimento sustentável do turismo, o reforço das cadeias de valor do leite, da carne e da pesca, a melhoria da gestão pública, nomeadamente na saúde, o controlo da dívida pública e a integração dos imigrantes como fator essencial para o crescimento económico e social.
Concluiu manifestando esperança no futuro do país e da região, defendendo que o desenvolvimento exige esforço, inovação e abertura, mas pode trazer benefícios duradouros se for acompanhado por uma distribuição justa e responsável dos resultados.
Esta entrevista pode ser ouvida no sítio Igreja Açores em podcast a partir deste domingo ou nas plataformas Itunes e Spotify.