A Crença celebra 110 anos como “bússola moral e espiritual” de Vila Franca do Campo

110º aniversário será assinalado no dia 13 de dezembro com uma tertúlia que pretende honrar a história e projetar o futuro do periódico da Igreja

Foto: jornal A Crença

O jornal A Crença assinala no próximo dia 19 110 anos de existência, afirmando-se como uma das publicações de inspiração cristã mais antigas ainda em circulação em Portugal. Fundado a 19 de dezembro de 1915 pelos padres Manuel Ernesto Ferreira e João Melo de Bulhões, em Vila Franca do Campo, o periódico atravessou guerras, convulsões sociais e transformações tecnológicas profundas, mantendo-se fiel à missão de divulgar a “boa nova” e de refletir sobre a vida social, cultural e religiosa da comunidade.

O atual diretor, padre José Borges, sublinha que a longevidade do jornal é, por si só, um testemunho histórico.

“Realmente, podemos dizer que esta presença, que resistiu ao tempo, conta a história de Vila Franca; uma parte da sua história dos últimos 110 anos. Por isso, esta edição e esta comunicação têm o sabor da alegria, da memória e da esperança. O jornal nasceu naquele contexto que foi um feito extraordinário.”

“O jornal nasce da Igreja, pelos seus diretores e fundadores, mas a sua continuidade deve-se também à resistência do tempo, ao fundamento sólido e ao sacrifício de muitos voluntários que ajudaram a manter esta luz contínua de informação. Isto é verdadeiramente notável, e é isso que estamos a comemorar” acrescenta o diretor.

O sacerdote destaca ainda que esta celebração não é apenas um olhar para trás, mas também uma projeção para o que está por vir: “Estes 110 anos apontam-nos, para além da história, para um futuro.”

Com um legado tão robusto, a continuidade do jornal exige capacidade de adaptação às novas linguagens mediáticas:
“Com este passado sólido, o futuro de A Crença passa por honrar a sua história e, ao mesmo tempo, abraçar com coragem e discernimento as novas traduções da comunicação. Assim podemos olhar para o futuro com esperança.”

Apesar de manter o formato impresso como elemento identitário, o jornal já tem presença digital através de uma página no Facebook. A possibilidade de um site próprio, com atualizações mais regulares, tem sido um tema recorrente.

Questionado sobre a criação de um portal digital, o padre José Borges reconhece o desejo, mas admite as limitações humanas e logísticas: “Nós não queremos deixar cair esse sonho. O que realmente nos falta são  trabalhadores — alguém credibilizado que pudesse brindar-nos com este trabalho e com esta nova forma de estar no mundo. Um site permitiria trabalhar notícias que vão chegando e divulgar acontecimentos em tempo real.”

O diretor reforça que este passo permitiria ampliar horizontes e chegar a novos públicos: “Assim, esta comunicação impressa poderia ir mais longe, como uma bússola moral — não no sentido moralista, mas defendendo direitos, justiça social, a doutrina social da Igreja e os princípios éticos. Precisamos de meios e de alguém que trabalhe nesta área para podermos dar este passo.”

Apesar dos desafios, a ambição mantém-se viva: “Claro que este sonho pode tornar-se realidade. Os sonhos vão-se tornando realidade, e queremos que isso aconteça. Precisamos de um jornalista — é essa a palavra — alguém que se dedique a este trabalho.”

O padre José Borges acredita que o jornal sobreviveu a todas as crises porque preservou aquilo que considera essencial: o conteúdo.

“Ao longo da história, navegou entre guerras, entre torções sociais e agora na revolução tecnológica. Mas o conteúdo não se perde, e é isso que importa. Se o conteúdo é profundo, terá futuro.”

A comemoração dos 110 anos é também um tributo aos leitores que acompanharam A Crença ao longo de gerações.

“Quero deixar uma palavra de gratidão aos leitores que, com a sua leitura aprofundada, contribuíram para que o jornal vingasse e estivesse sempre a apresentar a boa nova. É uma herança que não pode ser perdida.”

Para o diretor, A Crença é mais do que um jornal histórico: é uma presença viva na comunidade, com a missão de comunicar valores e iluminar caminhos.

“A mensagem deve chegar a todas as idades e a todas as plataformas, para chegar aos novos púlpitos. A Crença não pretende ser apenas uma recordação do passado; quer iluminar o caminho do presente e ser um farol para o futuro.”

Resiliente perante crises, avanços tecnológicos e a erosão generalizada da imprensa regional, o jornal manteve-se graças ao envolvimento de padres, voluntários, colaboradores e fiéis leitores. Hoje, continua a renovar-se, apostando simultaneamente na edição em papel e na presença digital, sem perder a sua matriz comunitária.

Este ano, o jornal dá ainda um passo significativo na sua missão de serviço público: A Crença chegará a todas as escolas da região e a todas as instituições particulares de solidariedade social da ilha de São Miguel, graças a um programa de apoio aos media do Governo Regional dos Açores. No total, serão 270 novas assinaturas, ampliando o alcance do jornal junto de crianças, jovens, professores, cuidadores e utentes de várias instituições. Trata-se de um marco relevante para a difusão da cultura local e para a promoção da literacia mediática, reforçando o papel social que A Crença sempre assumiu.

As comemorações, no dia 13 de dezembro, têm início às 19h00, com a Eucaristia em honra de Santa Luzia, na igreja que é a casa espiritual do jornal.  Às 20h00, um grupo do Conservatório regional de Ponta Delgada deixará um apontamento musical  e meia hora depois haverá uma tertúlia comemorativa com a participação dos jornalistas Osvaldo Cabral e Clife Botelho, do professor e investigador Teixeira Dias e de Leonor Bicudo.

 

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