A experiência do “serviço e da partilha” são marcas que determinam a atualidade do culto do Divino Espírito Santo

Bispo de Angra abriu a XIII edição das Grandes Festas do Espirito Santo de Ponta Delgada

“O Espirito Santo: da teologia à devoção” foi o tema da conferência do bispo de Angra no arranque da XIII edição das Grandes Festas do Espirito Santo que hoje começaram em Ponta Delgada.

D.João Lavrador, que assiste pela primeira vez a estas festas organizadas pela autarquia, começou por abordar a relação do Espirito Santo com a antropologia, fazendo um breve esboço da elaboração da teologia sobre o Espirito Santo e passou em revista as teses de Joaquim de Fiori e o seu pensamento, a expansão do culto do Espirito Santo pelos franciscanos e o milenarismo, a Ordem de Cristo e o domínio sobre os territórios ocupados, a rainha Santa Isabel e o culto ao Espirito Santo e, por fim os impérios do Espirito Santo nos Açores.

Para o novo responsável pela igreja católica açoriana a experiência do “serviço e da partilha” são elementos que conferem uma “atualidade” ao culto do Espírito Santo, que não pode no entanto “desviar-se para a idolatria”.

“Estamos num tempo que dada a crise cultural e civilizacional e mesmo eclesial, e como tal um tempo de grandes ambiguidades” exigirá “um verdadeiro discernimento e uma lúcida fundamentação”, disse D. João Lavrador.

“Fragmentar o divino é destrui-lo e apoderar-se d’Ele é desviar-se para a idolatria. Urge a experiência do serviço e da partilha como condição para saborear a experiência de Deus na eterna relação do Pai, do Filho e do Espirito Santo”, precisou o prelado.

“É profundamente actual que pela acção do Espirito Santo, amor de Deus que habita no homem, se descubra o outro como irmão e que a adoração do Espirito do Amor e da verdade terá de forçosamente de integrar a pessoa como irmão e como alguém com quem se partilha” disse o prelado.

“A história ajuda-nos a ler o presente e a agradecer muita riqueza de vida que se projecta na nossa experiência comunitária, mas necessita de uma renovação constante para ser vivida em verdade e resguardada dos desvios que a erosão do tempo e as manipulações individuais poderão oferecer”, acrescentou ainda.

Recorde-se que este ano e no próximo, mantém-se o desafio auto imposto pela igreja de acompanhar a religiosidade popular açoriana, cuja expressão mais evidente se materializa nas festas do Espírito Santo. De resto, os conselhos presbiteral (março) e pastoral diocesano (junho) reforçaram essa indicação ao bispo elegendo a evangelização da religiosidade popular como um desafio dos cristãos, em particular da estrutura eclesial.

Passando em revista o pensamento de Joaquim de Fiori e enquadrando-o no seu tempo, D. João lavrador sublinha que, hoje como ontem, “perante a desordem do mundo” e perante “o crescimento do Islão, as cruzadas, os cismas eclesiásticos, as guerras entre o Império e o Papado, foi necessário enfrentar acontecimentos cujo sentido não estava dado, mas que, à luz da fé cristã da existência de uma Providência, não podiam escapar à ordem divina”.

Centrando-se no essencial da mensagem deste culto, o bispo de Angra destacou a “partilha solidária e o desaparecimento das hierarquias”.

“Os Açores, e as comunidades de origem açoriana, constituem assim os últimos redutos onde as doutrinas de Joaquim de Fiore sobrevivem, e, a julgar pelo recrudescer das Irmandades do Divino Espírito Santo, mantêm todo o seu vigor”, concluiu.

O prelado, que logo de inicio reconheceu que este convite para proferir a conferência de abertura das Festas do Espirito Santo de Ponta Delgada constituiu “um desafio” para “aprofundar” o conhecimento sobre a festa do Espirito Santo, sublinhou a preponderância deste culto nos Açores.

“O culto do Divino Espírito Santo assume-se como um dos traços centrais da açorianidade, sendo o verdadeiro traço cultural unificador das populações das diversas ilhas” referiu o prelado lembrando que está tão enraizado que para onde quer que vão, os açorianos levam consigo esta tradição. É o caso do Brasil ou da América do Norte.

“Hoje o culto açoriano do Divino Espírito Santo está em claro crescimento, tanto nos Açores como nas zonas de imigração açoriana, nomeadamente as costas leste e oeste dos Estados Unidos e a Província do Ontário, Canadá. Com o renascer da identidade açoriana no sul do Brasil, os festejos do Divino revigoraram-se também aí” disse ainda.

As Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada terminam no domingo com o cortejo da coroação ao fim da tarde.

Scroll to Top