A Igreja é hoje “mártir de si própria” por causa dos abusos de menores, afirma padre José Júlio Rocha

O sacerdote liderou a procissão de velas em honra de Nossa Senhora de Fátima no Largo do Recanto, onde se pediu paz para o mundo e para a Igreja

O Largo do Recanto, entre Porto Martins, Cabo da Praia e Fonte Bastardo, acolheu esta noite uma missa campal, precedida pela oração do rosário e procissão de velas em honra de Nossa Senhora de Fátima.

As três procissões voltaram a sair à mesma hora das respetivas igrejas, seguindo até ao Largo do Recanto, zona de confluência das três paróquias, onde foi celebrada uma missa campal.

“Estamos mais uma vez aqui reunidos neste momento cada vez mais bonito: com mais gente, com maior participação” para “pedir paz para o mundo e para a Igreja” afirmou o padre José Júlio Rocha, pároco de duas das três paróquias e hoje também pregador desta celebração.

O sacerdote sublinhou a necessidade de se encontrar a “Paz para a Igreja”, depois de criticar e rejeitar os abusos praticados contra menores, no seu seio.

“A Igreja volta a ser mártir, não maioritariamente dos perseguidores- que também os há-, mas hoje, aqui na Europa, no mundo rico e em Portugal também, a Igreja está a ser mártir de si própria, morta a partir do seu interior, com os casos de pedofilia” disse o sacerdote.

“Temos de limpar esta nódoa trágica e terrível que deu cabo de tantas vidas e crianças e jovens. Isto não tem desculpa, tem de se resolver; temos de nos tornar limpos. Não podemos sujar os nomes de Jesus e de Maria ao sujarmos o nosso próprio nome” esclareceu.

O sacerdote, que durante a homilia propôs uma reflexão sobre Maria, nos diferentes papeis e etapas da sua vida, lembrou a sua “maternidade carinhosa”, a paciência com “as coisas de Deus” e a sua resiliência, diante das adversidades da migração, da fuga e da falta de acolhimento de que foi vítima.

“Ainda hoje, em cada família refugiada, em cada criança, em cada pai e em cada mãe que tem de fugir da fome e da guerra, há um presépio por cumprir”, esclareceu ainda.

O sacerdote aludiu à guerra como sendo a causa fundamental desta procissão e lembrou as “inúmeras mães descalças” que iam ali rezar.

“Esta pode ser considerada a procissão das mães” disse.

“A maternidade universal de Maria deve ser para nós um motivo de conforto” e um exemplo para pedirmos a “paz para a Ucrânia e para o mundo”.

A iniciativa desta procissão remonta à década de 60, do século XX, por ocasião da Guerra Colonial. Na noite do dia 12 de outubro, todos os anos, a população desta zona da ouvidoria da Terceira juntava-se neste lugar para rezar pelo fim da guerra e pelo regresso a salvo dos militares terceirenses que estavam no Ultramar.

À procissão de velas seguia-se sempre um sermão, que agora é substituído por uma missa campal, com a presença das três imagens pertencentes às respetivas igrejas paroquiais. De resto, cerca de vinte anos mais tarde, depois do início desta celebração foram construídos três nichos, forrados a azulejos em homenagem a Nossa Senhora, onde as imagens são hoje colocadas neste dia.

De referir que os grupos corais das três paróquias juntaram-se para animar a concelebração.

Esta celebração este ano tem um especial significado já que, à mesma hora em Fátima, começa a peregrinação internacional aniversária de outubro, presidida pelo bispo da diocese de Leiria-Fátima, D. José Ornelas que é também o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que nas últimas duas semanas tem estado debaixo de fogo mediático por causa de um alegado encobrimento de casos de abuso de menores, que o próprio já desmentiu.

(Com Dinis Toledo)

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