“A Igreja faz comunidade e a democracia faz sociedade. Quer numa quer noutra vivemos em liberdade” afirma Santos Narciso

Diretor Adjunto do Correio dos Açores foi o convidado da XII Conversa na Sacristia, em São José

“Viver a Liberdade na Igreja, uma instituição que não é democrática” foi o ponto de partida para a XII Conversa na Sacristia, promovida esta terça-feira pela pastoral da cultura da Igreja de São José e que teve como orador o diretor adjunto do jornal Correio dos Açores, Santos Narciso.

A partir da descodificação dos conceitos de liberdade e democracia, o jornalista, natural da Ribeira das Tainhas, na ouvidoria de Vila Franca do Campo, sublinhou a mensagem de liberdade de Jesus, que “nunca impôs nada” e desafiou os presentes, como cristãos, a nunca perderem o sentido da “caridade silenciosa e a coragem da denuncia”.

“O Evangelho é um conjunto de “ses” que dizem muito do que o Senhor Jesus queria que fizéssemos; Jesus não impôs nada e hoje, quando lemos a Palavra de Deus percebemos a diferença entre o que pregava e o que a Igreja, enquanto instituição humana que forma comunidade, desenvolveu” afirmou o jornalista destacando que os Atos dos Apóstolos, que nesta terceira semana da Páscoa têm integrado a liturgia, “são o testemunho vivo do que se vivia:  os primeiros cristãos eram assíduos na escuta da palavra e na caridade, através da partilha do pão”.

“Esta é a marca do Cristianismo” que “é diferente de cristandade” em nome da qual “se cometeram tantos erros”, lembrou para salientar que os cristãos não podem deixar de denunciar as injustiças do mundo.

“Não é o mundo global, é o mundo onde vivo, onde irmãos não têm capacidade de viver com dignidade. O senhor Jesus nunca pediu a social pelintrice;  quer que todos tenhamos a vida digna para puxarmos os outros para terem uma vida ainda mais digna”, disse ainda.

Santos Narciso lembrou que o poder da Igreja vem do alto, de Jesus e que por isso é diferente do poder terreno e nem todos compreendem este mistério apesar do amor que Deus tem por todos.

“A fé é conhecimento e reconhecimento de que existe algo superior a nós, que tem verdades que nós não entendemos a não ser com o dom de Deus”, disse ainda ao afirmar que “a razão não explica o sentimento da fé; faz apenas com que possamos entender muitas coisas que rodeiam a doutrina mas não os grandes mistérios, que são dons” concluiu.

Santos Narciso recordou ainda que o poder da Igreja vem de Deus e Deus é amor e serviço ao próximo. Por isso, adiantou: “ o povo de Deus mais do que uma pirâmide é uma grande circunferência com Cristo no centro, o Papa, os bispos, os padres e os leigos e consagrados, todos de mãos dadas, fazendo caminho, dando testemunho de uma fé que deve traduzir-se em obras”, quanto que o poder do governo democrático vem do povo.

O jornalista, que foi um dos fundadores  do orfeão Edmundo Machado Oliveira, e tem uma vida dedicada à música e ao canto litúrgico, falou ainda da relação entre a Igreja e 25 de abril para sublinhar que “houve silêncio e cumplicidade” entre a hierarquia e o regime do estado Novo, embora muitos padres tenham dado a vida pela liberdade e pela democracia. Nos Açores, particularmente o papel da igreja na transição foi “cuidadoso” e “prudente” .

As conversas na Sacristia são uma iniciativa da paróquia de São José que pretende dialogar com o mundo a partir da temas e protagonistas diferenciados, refletindo sobre os temas da atualidade a partir dos documentos do magistério.

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