A rosa é sem porquê

Escrevo este editorial entre a Festa da Sagrada Familia e a solenidade litúrgica da Epifania. A meio caminho paro entre o velho e o novo ano. Altura em que toda a gente renova os votos de um ano novo feliz, abundante e cheio de realizações pessoais, profissionais ou familiares.

As 12 badaladas que ouvimos na passagem do velho para o novo ano acabam sempre por ser curtas para tantos pedidos, tantos desejos formulados e tantos votos sentidos.

Bom era mesmo que o relógio parasse aí nas seis badaladas, o tempo suficiente para que cada um de nós fizesse uma retrospetiva do que foi o ano velho e pensasse no que pode fazer menos mal no ano que vai entrar.

Tal como a fé, a vida é um caminho onde entram muitas dúvidas e experimentamos todas as interrogações. Na Bíblia há passos que relatam lutas profundas, como por exemplo a de Jacob com o Anjo. Também na vida há momentos em que devemos interrogar-nos mais do que arranjarmos explicações,  e deixarmos para trás o que está mal e não tem remédio.

O que é que a Festa da Sagrada Família e a Solenidade da Epifania têm a ver com tudo isto? Ambas nos convidam à simplicidade, sem porquês, que por vezes atrapalham mais do que esclarecem. A racionalidade que imprimimos a tudo o que fazemos afasta-nos da simplicidade.

Na Sagrada Família ou na rota dos Reis Magos, a simplicidade não poderia ser mais evidente. Por um lado, uma casa de periferia, onde reside uma mãe e um pai, cheios de fé e de amor, num bébé qua acaba de nascer, onde brilha o Sol nascido do alto, o Rei do Universo. Por outro lado, surgem-nos três Reis Magos que procuram a Luz no meio da escuridão.

O seu exemplo deve ajudar-nos a levantar os olhos para a estrela e seguir simplesmente os anseios do nosso coração, que facilmente se deixa fascinar pelo que é bom, verdadeiro e belo , afastando instintivamente a aparência e a fachada.

A nossa vida não precisa ser mais do que isto: deixarmo-nos guiar pelas luzes que iluminam a estrada, para encontrar a plenitude da verdade e do amor, que nós, cristãos, reconhecemos em Jesus, numa relação que faz lembrar aqueles versos de Mário Cesariny: “Tu estás em mim como eu estive no berço/Como as árvores sob a sua crosta/Como o navio no fundo do mar”.

O que devemos fazer nas seis badaladas seguintes? Talvez pedir a Deus apenas a liberdade e a gratuidade necessárias ao amor.

“Senhor estou aqui à espera de nada”. Esta é a verdadeira simplicidade que o ano novo deveria trazer-nos a todos. Pode não ser o último grito da tendência da moda, mas é um desafio aliciante. Porquê? A rosa também não tem porquê…

Um ano novo cheio de Amor.

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