Nono “Diálogo no Tempo” na Horta destacou a santidade como caminho acessível a todos

A cidade da Horta recebeu esta sexta-feira o nono encontro do ciclo “Diálogos no Tempo”, marcado por uma profunda reflexão espiritual conduzida por Monsenhor António Manuel Saldanha, que dedicou a sua intervenção ao tema da Santidade e dos santos de ao pé da porta.
O sacerdote faialense, recém regressado à terra Natal e às paróquias onde já foi pároco antes de sair para Roma onde fez doutoramento e foi secretário do Dicastério das Causas dos Santos, iniciou a sua conferência afirmando que “Cristo é a nossa santidade. A fonte original da santidade da Igreja e na Igreja é Jesus Cristo: o Santo e o Santificador.” Recordou que, desde São Tomás de Aquino, a santidade divina é entendida como algo essencial a Deus — assim como a bondade e a vida — e que todas as expressões litúrgicas que proclamam “santo, santo, santo” remetem para esse mistério sobrenatural que toca a alma humana.
Na sua reflexão, Monsenhor António Manuel Saldanha destacou a tensão existente, desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura, entre a grandeza infinita de Deus e a pequenez humana. Contudo, sublinhou que essa distância foi superada pela Encarnação, quando Deus escolheu tornar-se criança, frágil e próximo: “Agora já não podeis ter medo de mim; agora podeis apenas amar.”
Esta proximidade, afirmou, continua a ser “escandalosa” para diversas culturas e religiões, mas constitui o centro da fé cristã: Deus fez-se próximo, companheiro e acessível, revelando no rosto de Cristo o verdadeiro sentido da história da salvação.

O conferencista destacou que os santos — dos grandes nomes da história como Paulo, Agostinho, Francisco de Assis ou Teresa de Calcutá, aos anónimos da vida quotidiana — são reflexo dessa luz de Cristo que nunca se extingue.
O percurso de cada santo, afirmou, “recapitula de forma única a santidade de Cristo”, mostrando que o “Evangelho é realizável e não uma utopia”.
O sacerdote recordou ainda a missão da Igreja enquanto Igreja de Santos, apesar das fragilidades humanas dos seus membros. Citou autores e documentos da tradição católica para realçar que, ao longo dos séculos, o Espírito Santo continua a suscitar figuras e movimentos que renovam a fé, a cultura e a caridade.
Tocando o tema central do encontro, Monsnehor António Manuel Saldanha partilhou histórias concretas de pessoas que, sem serem canonizadas, se tornaram sinais vivos de santidade. Entre os exemplos citados estiveram sacerdotes que deram a vida por outros, como no episódio dramático do Titanic, e religiosas que, em tempos recentes, aceitaram cuidar de doentes em plena pandemia, mesmo sabendo que isso lhes poderia custar a vida.
Estes testemunhos, sublinhou, mostram que a santidade não é privilégio de alguns, mas possibilidade real para todos: “A santidade é a maior aventura. Um caminho acessível a qualquer história humana.”
Respondendo a questões dos participantes, o sacerdote, doutor em História e recém nomeado Postulador da Causa de Beatificação da terceirense Maria Vieira, cujo processo foi aberto formalmente em Roma na passada semana, explicou as etapas que levam ao reconhecimento oficial de um santo: a fama de santidade, a investigação sobre as virtudes heróicas, e, em muitos casos, a confirmação de milagres. Sublinhou que o processo nasce sempre do povo de Deus: “A santidade começa quando o povo reconhece alguém como sinal de Deus.”
O encontro terminou com um apelo à vivência quotidiana da fé, à coragem de amar de forma concreta e à valorização dos muitos exemplos de santidade escondida que florescem no silêncio das comunidades, duas horas depois de uma conferência seguida de debate.
Natural da Ilha do Faial, nasceu a 9 de fevereiro de 1969. Foi ordenado sacerdote em 26 de junho de 1994. Doutorado em História pela Pontifica Universidade gregoriana de Roma, foi professor de História no Seminário de Angra, pároco da Agualva e de São Sebastião, na ilha Terceira, pároco da Matriz da Horta e capelão da Igreja de N. Sra. do Carmo e Assistente da Ordem Terceira do Carmo. Foi nomeado Monsenhor pelo Papa Bento XVI, em dezembro de 2012. É, ainda, Comendador da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém e Capelão Magistral da Soberana e Militar Ordem de Malta.
O próximo Diálogo no tempo realizar-se-á na ilha terceira, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição no dia 5 de dezembro pelas 20h00, com entrada livre.
Os ‘Diálogos no Tempo’ são uma iniciativa do Grupo Coordenador do Jubileu da Diocese de Angra, para aprofundar a fé cristã e discutir temas como a esperança, a paz, a santidade e a piedade popular, “abertos a crentes e não crentes”, utilizando a arte e a história para refletir sobre a esperança no contexto dos “sinais dos tempos”.