
O Papa Leão XIV publicou hoje uma Carta Pastoral para assinalar os 60 anos dos documentos do Concílio Vaticano II sobre o sacerdócio ministerial e sublinha a importância da formação dos sacerdotes, da fraternidade presbiteral e apontando a sinodalidade como oportunidade do futuro.
“O desafio da sinodalidade – que não elimina diferenças, antes as valoriza – continua a ser uma das principais oportunidades para os sacerdotes do futuro”, escreve o Papa.
A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou hoje a Carta Apostólica “Uma fidelidade que gera futuro” de Leão XIV, onde o Papa assinala os 60 anos dos decretos do Concílio Vaticano II “Optatam totius”, sobre a formação sacerdotal, e “Presbyterorum Ordinis”, sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, promulgados a 28 de outubro e a 7 de dezembro de 1965, respetivamente.
“Ambos os documentos estão firmemente alicerçados na compreensão da Igreja como Povo de Deus peregrino na história e constituem um importante marco na reflexão sobre a natureza e missão do ministério pastoral e sua preparação, conservando ao longo do tempo grande vitalidade e atualidade”, refere o Papa.
Leão XIV afirma que “é necessário que o ministério do presbítero supere o modelo de uma liderança exclusiva”, assumindo “o peso de todas as responsabilidades”, e fomente uma pastoral “cada vez mais colegial, na cooperação entre presbíteros, diáconos e todo o Povo de Deus, naquele enriquecimento recíproco que é fruto da variedade dos carismas suscitados pelo Espírito Santo”.
“A comunhão, a sinodalidade e a missão não podem, com efeito, acontecer se, no coração dos sacerdotes, a tentação da autorreferencialidade não der lugar à lógica da escuta e do serviço”.
O Papa recorda o Documento Final da segunda sessão da XVI Assembleia Sinodal, que pede uma “uma conversão das relações e dos processos”, apontando para a necessidade de se concretizarem “iniciativas adequadas para que os presbíteros possam familiarizar-se com as diretrizes deste Documento e experimentar a fecundidade de um estilo sinodal de Igreja”.
“Há ainda muito a fazer”, lembra o Papa.
Leão XIV refere-se à fidelidade não como “imobilismo ou fechamento, mas um caminho de conversão quotidiana que confirma e amadurece a vocação recebida”, apontando para a necessidade de formação integral e contínua, no contexto da “crise de confiança” na Igreja por causa dos abusos do clero.
“A crise de confiança na Igreja provocada pelos abusos cometidos por membros do clero, que nos enchem de vergonha e apelam à humildade, tornou-nos ainda mais conscientes da urgência de uma formação integral que assegure o crescimento e a maturidade humana dos candidatos ao presbiterado, a par de uma vida espiritual rica e sólida”.
O Papa sublinha também a importância da formação “para enfrentar o fenómeno de quem abandona o ministério, após alguns anos ou mesmo décadas”.
“Esta dolorosa realidade não deve ser interpretada apenas numa perspetiva jurídica, mas exige que se olhe com atenção e compaixão para a história destes irmãos e para as múltiplas razões que puderam levá-los a tal decisão”, afirma.
A formação que “envolva todos os aspetos da vida” foi sublinhada pelo Papa, desde o tempo da formação nos seminários, em ordem a “candidatos humanamente maduros e espiritualmente firmes”.
“Apenas os sacerdotes e consagrados humanamente maduros e espiritualmente firmes, ou seja, pessoas em quem a dimensão humana e a espiritual estão bem integradas e que, por isso, são capazes de relações autênticas com todos, podem assumir o compromisso do celibato e anunciar de forma credível o Evangelho do Ressuscitado”
Leão XIV refere-se à fraternidade presbiteral como “um dom inerente à graça da Ordenação”, superando, “em primeiro lugar”, a “tentação do individualismo”, “Não por acaso, o Concílio Vaticano II falou dos presbíteros quase sempre no plural: nenhum pastor existe sozinho”, afirma.
O Papa afirma que a fraternidade presbiteral deve ser um “ponto a ser trabalhado com renovado vigor”, alertando que “resta ainda muito a fazer”, nomeadamente no que diz respeito à “equiparação económica entre aqueles que servem paróquias pobres e aqueles que exercem o ministério em comunidades abastadas” e à “assistência social na doença e na velhice em vários países e dioceses”.
Leão XIV refere-se também ao ministério diaconal como “um dom a conhecer, valorizar e apoiar”, valorizando o serviço “discreto mas essencial” de “homens dedicados à caridade”.
| Carta Apostólica “Uma fidelidade que gera futuro”, Leão XIV espera que o aniversário dos decretos do Concílio Vaticano II suscite “numerosas e perseverantes vocações ao sacerdócio ministerial” e alerta para “duas tentações que se insinuam contra a fidelidade a esta missão”, num mundo “caracterizado por ritmos acelerados e pela ansiedade de estar hiperconectados.
“A primeira consiste numa mentalidade dirigida para a eficiência, segundo a qual o valor de cada um é medido pelo desempenho, ou seja, pela quantidade de atividades e projetos realizados”, afirma. “A segunda tentação, em contrapartida, qualifica-se como uma espécie de quietismo: assustados pelo contexto, fechamo-nos em nós mesmos, recusando o desafio da evangelização e assumindo uma atitude preguiçosa e derrotista”. Leão XIV aponta para um “ministério alegre e apaixonado” que assuma “a tarefa de evangelizar todas as dimensões” da sociedade, nomeadamente “a particular a cultura, a economia e a política”. O Papa incentiva os sacerdotes a responder “à grande fome de relações autênticas e sinceras que se nota na sociedade contemporânea”, apela a uma “verdadeira conversão missionária que oriente as comunidades cristãs”, pensada com os leigos, e pede um “Pentecostes vocacional” na Igreja, que suscite as vocações ao sacerdócio ministerial. “É necessário que tenhamos a coragem de fazer propostas fortes e libertadoras aos jovens”, afirma o Papa, alertando para a necessidade de “ter sempre presente a perspetiva vocacional nos diversos âmbitos pastorais, especialmente no juvenil e familiar. “Recordemos que não há futuro sem cuidar de todas as vocações”, sublinha. |
Carta Apostólica “Uma fidelidade que gera futuro”, o Papa agradece a todos os sacerdotes que “oferecem a sua vida, celebram o sacrifício de Cristo na Eucaristia, anunciam a Palavra, absolvem os pecados e se dedicam generosamente, dia após dia, aos seus irmãos e irmãs, servindo a comunhão e a unidade e cuidando, em particular, de quem mais sofre e passa necessidade”, em todas as partes do mundo.
(Com Ecclesia)