Ator e produtor foi o convidado da 18ª Conversa na Sacristia, em São José

Num fim de tarde de reflexão intensa e partilha emotiva, como procuram ser as Conversas na Sacristia, na igreja paroquial de São José, António Pedro Lopes, ator e promotor do festival Tremor, explicitou a sua relação com o sagrado, a partir de uma fé que está na génese da sua identidade, falando do seu “Um Acordo com Deus”.
Inspirado na canção Running Up That Hill, de Kate Bush, e em vivências pessoais profundas, o conferencista convidou os participantes nesta 18ª Conversa, promovida pela equipa da pastoral da cultura de São José, a uma viagem de vulnerabilidade, compaixão e esperança, dias depois da Páscoa e da perda de Francisco, um Papa cujo respeito pelo legado deve ser “uma responsabilidade coletiva,
No encontro, que misturou leitura, música e meditação António Pedro Lopes expôs-se como crente e descrente, buscador incansável de sentido e liberdade, em diálogo franco sobre fé, humanidade e o poder da empatia.
“EU NÃO”, afirmou, em oposição a visões cínicas como a de Elon Musk, que classificou a empatia como uma “fraqueza da civilização ocidental”.
“Precisamos de planear e agir, não apenas temer o futuro”, reforçou, apelando a um novo contrato social baseado no amor, no cuidado e na empatia, num tempo em que o individualismo e a desesperança ganham terreno.
Entre memórias da infância nos Açores, moldadas por mulheres chamadas Maria e vivências comunitárias nas celebrações do Espírito Santo, o artista recordou como a espiritualidade popular, mais do que a doutrina, lhe ensinou a importância do amor ao próximo, da justiça, e da fé no coletivo, valorizando o papel que a comunidade tem na sua vida, mesmo quando está em processo criativo.
“Precisamos sempre do outro” e a “experiência de comunidade” é sempre importante para validar ou não o projeto criativo, embora essa avaliação não seja o mais importante.
Sem esconder as contradições do seu percurso espiritual – do gosto infantil pela igreja à rejeição adolescente influenciada pela cultura pop e pelo contexto social – António Pedro Lopes cruzou referências que vão de Natália Correia a Sinead O’Connor e Tori Amos, desafiando o público a imaginar Deus também na ação concreta, nas “mãos de fogo” que cuidam, iluminam e mudam o mundo.
O momento culminante da noite foi o convite para que todos fechassem os olhos e ouvissem Running Up That Hill, simbolizando a vontade comum de trocar de lugar com o outro para melhor compreender, amar e construir um mundo novo.
António Pedro Lopes é licenciado em Teatro pela Universidade de Évora e mestre em Arts Innovation no Global Leaders Institute, em Washington DC e dirigiu festivais e projectos artísticos em Portugal, na Europa e nos Estado Unidos, nos contextos da dança contemporânea, das artes performativas e da música. Entre 2021 e 2023, fez a direcção artística da candidatura de Ponta Delgada – Azores 2027 a Capital Europeia da Cultura. Co-fundou, com a Lovers & Lollypops e a Yuzin, o Tremor Festival, em que assume, actualmente, a co-direcção artística.
As “Conversas na Sacristia” são um projecto de evangelização e pensamento da fé através da cultura, das artes e da ciência, num processo de escuta, de acolhimento e de diálogo com todos, de uma Igreja de portas abertas para os sentidos, para a espiritualidade contemporânea, para a partilha da palavra, das sensações e das emoções, para “uma cultura inédita” que “palpita e está em elaboração na cidade”, como escreve o Papa Francisco, na Exortação Apostólica, “Evangelii gaudium”, sobre o anúncio do Evangelho.