D. Armando Esteves Domingues presidiu à celebração de encerramento do Ano Santo na Catedral e lembrou que mesmo na fragilidade as famílias precisam de ser estruturadas

O bispo de Angra pediu esta tarde “condições materiais e espirituais” para que os jovens possam formar família e educar os filhos com valores cristãos, lembrando que todas as crianças têm direito a ter um pai e uma mãe.
Ao evocar a fuga da Sagrada Família para o Egito, recordou que Jesus nasceu no seio de uma família frágil e precária, mas profundamente amada por Deus. Sublinhou o papel complementar de Maria e José, destacando que Deus quis tanto a ternura e o acolhimento do feminino como a responsabilidade e a firmeza do masculino para o crescimento do seu Filho. Nesse contexto, lembrou também as famílias feridas pela violência doméstica, pela falta de diálogo e união, bem como aquelas que sofrem as consequências das guerras.
“O Evangelho fala-nos de uma família em fuga, precária, mas fortemente desejada e amada por Deus. Não eram uns pais que queriam um filho, Deus é que precisou de um pai e uma mãe para que nascesse o Seu Filho. Também convosco seja assim. Descobri que é Deus a querer precisar de vós para o acolhimento da vida nascente! Deus entra na história dentro de uma família concreta, frágil, exposta… mas estruturada” afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia da missa de encerramento do Ano Santo da Esperança em que a família foi apresentada como espaço privilegiado onde Deus entra história humana.
O prelado partilhou um episódio marcante vivido neste Natal: a bênção de um anel de noivado que um jovem lhe pediu antes de pedir a mão da noiva na noite de Consoada. No dia seguinte, a confirmação do “sim” emocionou o bispo, que descreveu o anel como sinal de “um amor belo e santo, cheio de esperança no futuro”. Para o bispo de Angra, esta imagem traduz bem o ideal de Igreja que deseja: “uma Igreja que sonha ser família”.
A partir deste gesto simples e profundamente humano, o bispo lançou um apelo direto e exigente às famílias, sobretudo aos casais jovens com filhos: não deixem que os sonhos se esgotem no material, mas aprendam a sonhar com Deus.
“Centrai o vosso foco em Jesus, como Maria e José”, pediu, sublinhando que é na família que se aprende a erradicar os “Herodes de hoje” , tudo o que ameaça a vida, a dignidade e a esperança.
O bispo destacou ainda a importância do silêncio orante e da escuta de Deus, lembrando São José como “o homem dos sonhos”, aquele que, no Evangelho, é por diversas vezes avisado em sonhos. Para ele, a oração é o lugar onde se discerne a vontade de Deus, e a Eucaristia deve tornar-se “o laboratório de grandes sonhos para todas as famílias”.
Na homilia desta missa, em que estiveram presentes sete casais de sete ouvidorias- Angra, Praia, Capelas, Vila Franca, Santa Maria, Fenais da Vera Cruz e Nordeste- , D. Armando Esteves Domingues apelou à gratidão pelo dom dos filhos, mas também à consciência da responsabilidade assumida no batismo. Alertou que não basta batizar: é necessário ajudar as crianças a crescer na fé.
Por fim, encorajou toda a comunidade cristã a acolher com carinho os casais novos, colocando-os no centro da atenção pastoral. No primeiro de nove anos de caminho até 2034, a Diocese de Angra quer dar especial atenção ao batismo, convidando pais e mães a envolverem-se ativamente nos Centros de Preparação para o Batismo e a ajudarem-se mutuamente a descobrir as razões da fé. Um percurso que, segundo o bispo, exige “compromisso, acompanhamento e a vontade de se configurar, em família, à imagem de Cristo”.
“Com o olhar na família de Nazaré que nos enche de amor e ternura, saúdo todas as famílias, lembrando quanto sois indispensáveis na sociedade e na Igreja. Saúdo a grande família de famílias que é a diocese, este amplo horizonte onde testemunhamos Cristo, o nosso Salvador e nossa esperança” disse ainda o prelado saudando os padres e os religiosos bem como todas as famílias diocesanas.
“A Igreja é família para que a humanidade se torne uma única família! Este é o projeto de Deus desde que Jesus Cristo encarnou”, disse.
D. Armando Esteves Domingues sublinhou, por outro lado, que o mundo “continua a precisar de esperança como de pão para a boca”, ao encerrar solenemente o Ano Santo da Esperança na Diocese de Angra.
Partindo do mistério do Natal e da Encarnação de Cristo, o prelado afirmou que Jesus é a verdadeira esperança da humanidade e a razão profunda do Jubileu vivido ao longo do último ano, sublinhando que o Papa Francisco quis que este Jubileu fosse um tempo de encontro pessoal com Cristo, “porta da salvação”, marcado pela misericórdia, pelo perdão e pela renovação.
O bispo recordou ainda o forte apelo social deixado pelo Papa no início do Jubileu, convidando a Igreja a comprometer-se no combate à fome, à pobreza e à injustiça, assumindo-se como uma verdadeira “Igreja Samaritana”, construtora de um mundo mais fraterno.
Ao fazer o balanço do Ano Santo, destacou a participação de muitos cristãos que peregrinaram à Catedral e às Igrejas Jubilares nas várias ilhas dos Açores, bem como daqueles que se deslocaram a Roma para viver os momentos jubilares com o Papa, entre jovens, catequistas, famílias, pobres, seminaristas, sacerdotes e equipas sinodais. Agradeceu ainda à Equipa do Jubileu pela dinamização de iniciativas como a Via Lucis em Ponta Delgada, a Aldeia da Esperança em São Jorge, o ciclo de concertos de órgão e os Diálogos no tempo do ICC, que permitiram “fazer transbordar a esperança para fora das portas da Igreja”.
Na parte final da homilia, o bispo manifestou gratidão a Deus por um ano “especial na vida diocesana”, marcado pela aprovação das linhas do Projeto Pastoral da Diocese até 2034. Sublinhou o trabalho das equipas de Coordenação Pastoral e de Formação Diocesana, em comunhão com os órgãos sinodais, apontando a sinodalidade como caminho essencial para o futuro da Igreja.
Citando o Papa Leão XIV, na recente Carta Apostólica Uma fidelidade que gera futuro, o bispo reforçou que a sinodalidade é uma das grandes oportunidades para os sacerdotes do futuro, desafiando o clero a assumir esse caminho de forma exemplar. Referiu ainda a Carta Pastoral Batizados na esperança, dirigida à diocese para os próximos três anos, como um forte apelo à unidade, à espiritualidade de comunhão, à escuta e à corresponsabilidade na missão evangelizadora.
Bispo de Angra convida famílias para encerramento do Ano Santo da Esperança







