Bispo de Angra quer uma Igreja “estruturalmente” sinodal que seja lugar onde todos possam “refletir juntos, governar juntos e decidir juntos”

Foto: Igreja Açores/JEC

D. Armando Esteves Domingues celebrou esta sexta-feira os 489 anos da publicação da bula que criou a diocese açoriana e desenha o futuro da Igreja açoriana assente na corresponsabilidade de todo o povo de Deus

.O bispo de Angra, nomeado há um ano pelo Papa Francisco, no dia em que a diocese assinalava 488 anos, afirmou esta tarde que deseja que a sinodalidade se torne na diocese um principio “estruturalmente constitutivo” da Igreja, apelando à conversão e à desinstalação de todos os agentes de pastoral.

Na reflexão que partilhou com os diocesanos, na Igreja Matriz de São Sebastião, em Ponta Delgada, na missa que assinalou o 489º aniversário da Bula Aequum Reputamus do papa Paulo III, de 5 de novembro de 1534, que criou a Diocese de Angra, D. Armando Esteves Domingues pediu uma Igreja de “serviço” onde “possamos refletir juntos, governar juntos e decidir juntos”

“Não nos fixemos numa Igreja que, por palavras, diz querer aplicar o Concílio, mas que depois atua com categorias pré-conciliares através de práticas estabelecidas, com os bispos e padres a decidirem e os outros batizados a limitarem-se a pôr em prática as suas decisões”, afirmou.

“Nas páginas do Evangelho, vemos Jesus que se aproxima de todos e fala com todos, mas é contrariado e combatido pelas castas. Os clérigos da época, os escribas, os doutores da lei, os mestres de doutrina. Temos de olhar para o Nazareno para recuperar na Igreja, a todos os níveis, desde a Cúria até à mais pequena das paróquias, a consciência de que todo o ministério é serviço e não poder, e serve verdadeiramente se aproxima, une, torna corresponsáveis, cria fraternidade, testemunha a misericórdia de Deus, não se distancia, não se entrincheira em privilégios, não traça linhas divisórias entre os que são ordenados e os que não o são”, esclareceu durante a homilia.

O prelado diocesano, que preside pela primeira vez à festa desta efeméride que está na origem da criação da diocese insular desafiou os diocesanos a rezarem “unidos”, particularmente num tempo em que “há desconfianças e partidarismos”, em que o mundo “arde e está à beira do abismo de um novo conflito mundial”, marcado pela “incapacidade de ouvir e pelo ódio” para que “na diocese de Angra se siga essa voz profética capaz de se erguer e de elevar acima dos interesses, das ideologias e dos partidarismos”.

“A Igreja sinodal, em que insiste o Papa, representa hoje uma pequena semente de esperança: ainda é possível dialogar, acolher-se mutuamente, por de lado o protagonismo do próprio ego para superar as polarizações a fim de chegar a um consenso amplamente partilhado e que fortalece a missão comum” disse ainda, ao lembrar que o caminho é “difícil mas encorajador”.

“Exige conversão pessoal e comunitária pois é uma nova e mais exigente forma de funcionar” esclareceu, pedindo aos diocesanos que ponham de parte alguns comportamentos que possam impedir a verdadeira  comunhão.

“Na experiência que fazemos no dia a dia das dioceses e comunidades eclesiais, vemos que, também nós, facilmente nos enredamos em conversas destrutivas, no endeusamento das próprias visões, no ver apenas o negativo de quem caminha ao nosso lado, do que faz mais ou faz menos, e até, por vezes, a tentação de eliminar para sobreviver. Há, de facto, necessidade de nos agarrarmos à oração, à leitura atenta da Palavra Eterna de Deus, de a partilharmos com humildade e amor e, nesse processo de conversão, escutarmos quem tem a primeira e última palavra: o Espírito Santo!”.

“Queremos que a sinodalidade se torne, também na nossa diocese, estruturalmente constitutiva da Igreja. A sinodalidade é uma escola: todos, porque sacerdotes desde o batismo, podemos exprimir igual amor e louvor a Deus; todos, porque todos somos profetas, devem ser escutados; todos, porque participamos da mesma realeza de Cristo, somos corresponsáveis na missão”.

“Há uma luzinha de esperança que esperamos seja prenhe de consequências para o futuro da Igreja e de toda a humanidade”, concluiu.

Foto: Igreja Açores/JEC

A concelebração, que ocorreu esta tarde na Igreja Matriz de São Sebastião, em Ponta Delgada, terá um segundo momento no domingo na Catedral, em Angra.

Este sábado, o bispo de Angra participará numa assembleia diocesana com responsáveis dos serviços, comissões, movimentos e obras de apostolado naquela que é mais uma etapa na elaboração do Itinerário Pastoral para o próximo biénio, assente na Esperança.

“Abraço todos os Movimentos da Igreja na Diocese, agradecendo a todas as mulheres e homens o contributo que dão, nomeadamente na formação permanente dos batizados leigos, mas também dos sacerdotes e consagrados. Os movimentos são estruturalmente sinodais, porque fraternos, mas missionários pelo carisma que os inspira. Obrigado a todos pelo que fazeis na Diocese”, disse.

O bispo de Angra sublinhou, ainda, a importância da comemoração dos 500 anos da diocese que se completam em 2034 para lembrar todos os que fazem parte desta história, não só a que passou, mas também a que é vivida no presente.

“Todos contam para esta bonita história da nossa diocese”, afirmou.

“A história que fala de Deus é uma história viva porque tudo o que fala de Deus é obra viva e deve continuar viva. O templo é a casa de Deus mas também é a casa de todos”, disse ainda.

Depois desta celebração, o prelado vai encontrar-se com os professores de Educação Moral e Religiosa Católica, de Santa Maria ao Corvo, procurando escutá-los e atender a algumas das suas preocupações. Recorde-se que todas as escolas da rede pública dos Açores (mais de 40) oferecem a disciplina de Educação moral e Religiosa católica.

Na sequência de uma parceria com o Instituto Católico de Cultura, este é o único serviço diocesano no país a ter uma entidade formadora acreditada para a formação de professores, não só da formação específica de em Educação Moral e Religiosa Católica, como também para outras disciplinas.

De acordo com o portal da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, nos últimos três anos os Açores usufruíram de um programa especial que permitiu formar 18 docentes de EMRC, através de uma parceria entre o SNEC e a Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.

 

 

 

 

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